Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) desenvolve projeto que busca mapear as plantas medicinais utilizadas pelos ribeirinhos do Nordeste de Mato Grosso.
Por Dandara Morais
O projeto “Estudo etnobotânico, etnofarmacológico e fitoquímico de plantas medicinais utilizadas por ribeirinhos do Nordeste de Mato Grosso, Brasil “é um estudo que visa salientar a importância da pesquisa como meio de reconhecer e valorizar o saber popular, que há séculos utiliza as plantas para diversos fins terapêuticos.
Reginaldo Vicente Ribeiro, biólogo e professor do IFMT/Confresa, nos contou um pouco sobre o projeto de pesquisa e sua importância para população local e para academia.
ATV: Quem são os idealizadores do projeto?
Reginaldo: Eu sou aluno de doutorado em Ciências da Saúde na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professor do IFMT e desenvolvedor da pesquisa, que é coordenada pelo Professor Doutor, Domingos Tabajara de Oliveira Martins da UFMT.
Após passar por uma concorrida seleção de projetos de várias regiões do País, a proposta do projeto foi aprova pelo Programa Pró-Amazônia: Biodiversidade e Sustentabilidade edital Nº 047/2012/CAPES, que garantiu os recursos para execução da mesma em sua vigência (2012 à 2016).
Além do Professor Domingos Tabajara e do prof. Reginaldo Ribeiro, a pesquisa conta com a parceria de professores pesquisadores da UFMT, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Universidade Federal do Tocantins – UFT, Universidade Estadual Paulista – UNESP e desde 2014 com apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso IFMT, campus Confresa.
ATV: Reginaldo, quais os principais objetivos deste projeto?
Reginaldo: Tecnicamente o projeto visa levantar informações etnobotânicas sobre a flora medicinal usada pelas comunidades ribeirinhas da microrregião Norte Araguaia e desta forma avaliar o potencial químico e farmacológico das plantas selecionadas. Mas ao meu ver vamos além disto, pois a partir deste, podemos valorizar o conhecimento local sobre plantas medicinas e amplificar esses conhecimentos para outras pessoas; Orientar os moradores de comunidades ribeirinhas sobre as técnicas de boas práticas para o preparo de produtos naturais terapêuticos a partir de plantas nativas encontradas na região; Contribuir para elaboração de estratégias de manejo, conservação e uso sustentável da biodiversidade; Como algo talvez um pouco mais distante conseguir a implantação de farmácias vivas e a descoberta de plantas como fonte de novos bioprodutos.
ATV: Onde é realizada a pesquisa?
Reginaldo: O projeto de pesquisa intitulado “Estudo etnobotânico, etnofarmacológico e fitoquímico de plantas medicinais utilizadas por ribeirinhos do Nordeste de Mato Grosso” é um projeto ambicioso e inédito, pois se propõe a identificar as plantas medicinais usadas por ribeirinhos de quatorze municípios que compõe a Microrregião do Norte Araguaia (Nordeste de Mato Grosso), além de selecionar as 30 espécies com maior indicação terapêutica pelas comunidades pesquisadas, mas que ainda são desprovidas de estudos que comprovem sua eficácia, com objetivo de avaliar o potencial farmacológicos, a segurança, bem como e composição química das plantas selecionadas.
A área de estudo caracteriza-se por ser uma região de transição ente os biomas Cerrado e Amazônico, apresentando uma rica biodiversidade, grandes rios, como o rio Xingu, rio Araguaia e rio das mortes, além de apresentar diversas comunidades locais que estão instaladas na região há décadas e que detém um grande conhecimento sobre a flora medicinal daquela região, sendo que o conhecimento e o uso de plantas medicinais representam o principal, se não o único recurso terapêutico para a manutenção da saúde e/ou tratamento de doenças.
O estudo apresenta grande relevância, tanto para os moradores das comunidades acessadas, como para produção de conhecimento na área de produtos naturais, o mesmo poderá possibilitar: a transmissão de saberes sobre o uso de plantas medicinais, para as novas gerações; valorização do conhecimento popular sobre as plantas medicinais; desenvolvimento de um banco de dados que possa representar aqueles espécimes com elevado potencial farmacológico; implantação de farmácias vivas; contribuir na preservação das espécies vegetais estudadas, na medida em que o conhecimento agrega valor e interesse da população e órgãos governamentais para a proteção ambiental de espécies biologicamente ativas; conhecer a atividade farmacológica, segurança e caracterizar as classes químicas das plantas selecionadas; contribuir para o desenvolvimento de fitoterápicos e/ou fitofármacos.
ATV: Quem participa deste processo além dos pesquisadores?
Reginaldo: A pesquisa conta com vários colaboradores locais em vários municípios da região. A maioria dos envolvidos, já participam ativamente na coleta de plantas e orientações sobre o uso desde a primeira etapa do projeto, onde os ribeirinhos mais experientes no conhecimento e saberes sobre as espécies vegetais medicinais foram indicados pelos próprios moradores das comunidades. Atualmente ribeirinhos que nos ajudam nessas atividades de campo em Ribeirão Cascalheira, senhor Olindo; Bom Jesus do Araguaia, Pastor Dirço; Novo Santo Antônio, dona Rosa, senhor Joao Nunes e professora Luzia; São Félix do Araguaia, Matuzalem e dona Joana; Santa Terezinha, seu Feliciano e em Vila Rica senhor José Manoel e dona Solange.
O mais recente colaborador do projeto é o Sr. Valdo da Silva, morador da cidade de Porto Alegre do Norte, ambientalista e tesoureiro da Associação Terra Viva, que há décadas tem se dedicado na promoção do desenvolvimento sustentável na região do vale do Araguaia, através de educação ambiental, da recuperação, conservação e preservação do meio ambiente.
O Senhor Valdo foi indicado a mim, por um ex-aluno do curso de agronomia do IFMT, campus Confresa, o senhor Sebastião, pois estava procurando algum parataxonomista na região para nos auxiliar na identificação de algumas plantas que ainda não havíamos encontrado e o Tião me falou da grande experiência do Sr. Valdo, bem como de seu envolvimento com projetos ambientais. Assim, entrei em contato com o Valdo que de pronto nos recebeu em sua casa e tem contribuído significativamente com nossa pesquisa, pois tem nos auxiliado nas coletas de espécimes vegetais em estágio fértil que ainda não havíamos encontrado.
ATV: Estão no terceiro ano do projeto, pode fazer uma avaliação até aqui?
Reginaldo: A pesquisa tem alcançado resultados promissores, tanto sob os aspectos etnobotânicos como farmacológicos. Para se ter uma ideia, os 60 especialistas locais ribeirinhos que foram entrevistados foram capazes de indicar e reconhecer mais de 300 espécies de plantas medicinais, das quais 73% são nativas.
O que mais impressiona é o grande conhecimento que os ribeirinhos dispõem sobre as plantas, que vai desde a forma correta de coletar, preparar e proceder com a indicações terapêutica das plantas com maior eficácia. Isso foi evidente, quando extratos de algumas espécies vegetais foram submetidas a ensaios farmacológicos em laboratórios, onde das 10 espécies de plantas indicadas testadas em ensaios antiúlcera, 8 foram eficazes em reduzir de forma significativa o processo ulcerogêncio em camundongos. Embora tenham sido observados bons resultados farmacológicos, houve também a identificação de plantas usadas pela comunidade que apresentam algum potencial tóxico.
ATV: Qual o próximo passo do projeto?
Reginaldo: Queremos iniciar a divulgação da pesquisa, pois é muito importante este retorno para comunidade. Então no começo de 2016 está prevista a realização da divulgação dos principais resultados alcançados em comunidades ribeirinhas (Novo Sto. Antônio, Sta. Terezinha e em Santa Cruz do Xingu). Todos os participantes da pesquisa, assim como a comunidade em geral será convidada à participarem das reuniões para divulgação dos resultados obtidos, de seminários multidisciplinares, minicursos e palestras com as temáticas de uso sustentável de plantas medicinais. Eu irei coordenar a realização dessas atividades com o apoio do IFMT, campus Confresa.
Fonte e imagens: Associação Terra Viva
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