sexta-feira, 3 de maio de 2019

O que tem no quintal - 3

Tem latim no quintal

João de Oliveira – Linguista – Professor Universitário
Marcos Roberto Furlan – Engenheiro Agrônomo – Professor Universitário

Um quintal repleto de plantas espontâneas também é um quintal repleto de palavras associadas à história, à mitologia, à literatura, à ciência e, obviamente, à botânica. Como são várias as possibilidades, para facilitar o conhecimento proposto, destacaremos neste texto alguns nomes científicos e seus significados.

Antes, é importante salientar que, para que o nome científico seja imparcial em todo o mundo, é utilizado o latim como referência nominal, por ser uma língua considerada morta ou extinta, visto que, atualmente, nenhum falante de uma determinada comunidade a utiliza em sua comunicação habitual. 

No geral, essa língua é utilizada para evitar confusões linguísticas em traduções e em outras línguas. Por não apresentar mudanças em sua utilização, o uso do latim se tornou uma forma de comunicação e sistematização universal das espécies, garantindo a catalogação e a discussão da biodiversidade, sem possíveis alterações linguísticas. Logo, vale ressaltar que a nomenclatura científica, formulada pelo botânico, zoólogo e médico sueco Carl Nilsson Linnæus (1707-1778), que em português tratamos por Carlos Lineu, é utilizada até hoje. 

Em sua nomenclatura binomial, o referido botânico propôs as seguintes regras: o nome científico vem grafado em itálico, podendo, porém, também ser em negrito. O primeiro nome se refere ao gênero; o segundo, geralmente constituído por um adjetivo relacionado com uma característica da planta. O primeiro (gênero) inicia-se em letra maiúscula; o segundo, em minúscula. Os dois nomes juntos indicam a espécie. No final, temos o nome do autor, escrito sem nenhum tipo de destaque.

Como exemplo, trazemos o “alecrim”, que é denominado cientificamente por Rosmarinus officinalis L. Neste caso, “Rosmarinus” é o gênero, enquanto que “officinalis” é o epiteto específico. Por sua vez, o “L.” corresponde à abreviatura do autor do nome. Neste caso, o próprio Lineu. Finalmente, Rosmarinus officinalis é a espécie.

Características morfológicas ou significados que lembram a origem, o uso ou as cores geralmente estão no epíteto específico, isto é, no segundo nome do nome científico. 

Ao observarmos alguns casos a seguir, utilizando de plantas que nascem espontaneamente no quintal, vocês concluirão que é fácil perceber o epíteto específico.

Exemplos de nomes associados aos usos 

A serralha (Sonchus oleraceus) e a beldroega (Portulaca oleracea) têm, cada uma delas no seu próprio epíteto específico, a palavra oleraceus e oleracea, indicando-nos que são plantas comestíveis, principalmente como uma olerícola (hortaliça). Elas também são medicinais, mas no nome só cabe uma das qualidades apresentadas pelas plantas.

Algumas plantas medicinais e comestíveis, como a Porophyllum ruderale, não são muito valorizadas quando se traduz o seu epíteto específico. Ruderale ou ruderalis quer dizer que é uma planta de terreno baldio. Esta espécie, citada popularmente como cravorana ou arnica-de-quintal, realmente é comum nas calçadas, nos quintais e em terrenos abandonados, todavia, poucos sabem de seu potencial alimentício ou medicinal.

Não há dúvidas dos usos medicinais do dente-de-leão, principalmente porque o seu nome científico, que é Taraxacum officinale, traz, no segundo nome, a referência de que é usado há séculos como medicinal.

Exemplos de nomes associados às cores

Com relação às cores, dentre os carurus ou bredos, há uma espécie denominada Amaranthus viridis. Viridis significa que é da cor verde. Já em relação ao nome científico da maria-pretinha, que é Solanum nigrum, é fácil descobrir o significado do epiteto nigrum. Na espécie Eclipta alba, a popular erva-botão, alba significa branca.

Imagens das espécies citadas
Sonchus oleraceus
Portulaca oleracea
Taraxacum officinale
Eclipta alba
Amaranthus viridis
Solanum nigrum

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Segurança Alimentar - Comunidade em Cena

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Plantas medicinais na TV

Curiosidades que fazem o efeito placebo importante para pesquisas

14/02/2019

Crenças, hábitos e cultura são fatores que a ciência leva em conta ao estudar o assunto, segundo especialista


Quem nunca tomou uma água com açúcar para se acalmar? Essa crença popular já fez muita gente de fato ficar mais calma ao tomar o mais antigo placebo de que se tem notícia. A observação é da cirurgiã-dentista Lais Valencise Magri, funcionária da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP e entusiasta do placebo que ela estuda, inclusive, em seu pós-doutorado.

O placebo é um remédio que não é remédio, ou seja, tem todas as caraterísticas de um medicamento, mas é feito à base de farinha ou açúcar. No entanto, é uma peça fundamental nas pesquisas acadêmicas e usado em testes para avaliação e desenvolvimento de novos medicamentos, procedimentos e terapias, como explica a pesquisadora.
Placebo tem todas as caraterísticas de um medicamento, mas é feito à base de farinha ou açúcar – Foto: Bru-nO via Pixabay / CC0

A importância do placebo é tão grande que ele, associado a alguns fatores, pode levar o paciente a ter resultados positivos. Lais explica que, entre esses fatores, estão a cor e o formato do comprimido placebo. “Cápsulas de placebo coloridas tendem a dar resultados mais positivos no tratamento.” Outro fator importante, segundo ela, é o enfermeiro ou médico usar jaleco branco na hora de dar o medicamento para o paciente tomar.

Outra curiosidade é que as crenças, a cultura de um povo, revelam maior ou menor eficácia do efeito placebo. “Há países da Europa em que a população tem um hábito maior de tomar remédios e sente mais o efeito placebo do que em outros,” explica.

Lais garante que até os animais sentem o efeito placebo e os que bebem além da conta também. “Existe a embriaguez placebo. Pessoas que acreditam ter tomado bebida alcoólica se sentem embriagadas sem ter ingerido a bebida.”

Ouça a entrevista no link acima.

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A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.

Portal de Livros da USP

As abelhas sem ferrão estão desaparecendo

19/12/2018


Bióloga diz que é preocupante pensar na extinção das espécies sem ferrão, pois elas possuem um papel importante para o meio ambiente e para a sociedade


O programa Ambiente É o Meio desta semana entrevista Juliana Feres, bióloga e gestora ambiental. Ela atua na conservação de recursos genéticos florestais, conservação de polinizadores, genética de populações, ecologia, biologia reprodutiva e meliponicultura.

As abelhas são classificadas como insetos que vivem em grandes comunidades e podem ser encontradas, além de colmeias, em tocos de árvores, em buracos nos barrancos e pedras e até mesmo em cupinzeiros desocupados.

Juliana diz que a introdução das abelhas africanizadas afastou a criação das abelhas sem ferrão para a produção de mel. Durante o doutorado, Juliana foi mãe e seu filho tinha amigdalite constantemente; foi quando a cientista começou a pesquisar remédios naturais que evitassem a cirurgia de retirada das amígdalas e encontrou o mel de Jataí.

As abelhas Jataí são uma espécie sem ferrão, consideradas sagradas pelo povo tupi. O mel das abelhas Jataí possui diversos benefícios medicinais, como aumento da resistência do organismo, ajudando na constipação e infecções intestinais, gripes, resfriados, entre outros problemas.

Juliana conta que desenvolveu o projeto Eborá com mulheres do Assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto, para ensinar como criar abelhas sem ferrão, quais benefícios elas podem trazer para as plantações e para a saúde da comunidade, além de colaborar com a luta contra o desaparecimento das abelhas.

A bióloga alerta para os fatores que levam ao desaparecimento das abelhas, como a perda florestal, que acarreta também a dificuldade de encontrar ocos de árvores, o uso abusivo de agrotóxicos, entre outros.

Ambiente É o Meio é uma produção da Rádio USP Ribeirão Preto em parceria com professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e Programa USP Recicla da Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) da USP.

Ouça acima, na íntegra, o programa Ambiente é o Meio.

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As abelhas nativas e a importância de preservá-las

Radioagência USP - 05/12/2018

Bióloga conta que dedica seus estudos às abelhas há 12 anos e que pensa em alternativas para a sua preservação


O programa Ambiente é o Meio desta semana entrevista a bióloga Maria Juliana Ferreira Caliman. Juliana é graduada em Ciências Biológicas, mestre e doutora em Ciências pelo Laboratório de Entomologia do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Juliana estuda as abelhas e diz que as nativas, chamadas também de solitárias, não oferecem produtos, mas são elas que fazem a polinização das plantações e de forma indireta têm um papel muito importante.

Para a bióloga, a preservação da biodiversidade é fundamental tanto para as abelhas solitárias quanto para as sociais. Juliana explica ainda a diferença entre elas. As abelhas solitárias são as espécies que não vivem em colônia com rainha e operárias, como, por exemplo, a mamangava, mangava, vespa-de-rodeio e vespão. Já as abelhas sociais são as que convivem em sociedade e polinizam diversas espécies de flora.

Juliana conta que as abelhas são os mais importantes polinizadores da natureza, responsáveis pela reprodução de 80% das matas, florestas e áreas verdes e de cerca de 70% da polinização de todas as culturas agrícolas. “O grande problema do aumento do CO2 é que as plantas produzidas têm um valor nutricional menor”, afirma.

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Filtro solar à base de rutina é antioxidante e aumenta proteção em até 70%

27/03/2019

Substância protege a pele contra o envelhecimento e potencializa o fator de proteção contra raios solares
A rutina é uma substância retirada de uma planta do cerrado brasileiro que contém propriedades antioxidantes e confere proteção contra raios solares – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A rutina – substância (bioflavonoide) extraída da fava d’anta, planta originária do cerrado brasileiro – além de ser um potente antioxidante contra o envelhecimento da pele foi capaz de aumentar em até 70% o fator de proteção de um novo fotoprotetor desenvolvido no Laboratório de Cosmetologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Testes realizados em humanos mostraram que a adição da rutina à formulação resultou em um produto bem mais eficaz que os já existentes no mercado.
Letícia Costa Tomazelli, autora da pesquisa – Foto: Arquivo pessoal

Em um país tropical, onde é alto o índice de câncer de pele pela exposição excessiva ao sol e em horários inadequados, “o desenvolvimento de um novo fotoprotetor, com potencial antioxidante e substâncias bioativas, é indispensável para a prevenção de efeitos deletérios à pele humana”, explica o professor André Rolim Baby, orientador da tese Fotoprotetores bioativos multifuncionais contendo rutina, octil dimetil PAPB e avobenzona; caracterização físico-quimica, funcional e eficácia clínica, de autoria da farmacêutica bioquímica Letícia Costa Tomazelli Yoshida. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil, o câncer de pele não melanoma é o mais frequente, correspondendo a 30% de todos os tumores malignos registrados no País.

Segundo Letícia, o novo fotoprotetor passou por dois testes (o de segurança e o de eficácia) realizados por dermatologistas em 20 voluntários. No primeiro, foram passadas algumas camadas do fotoprotetor na pele das pessoas para verificar se haveria irritação cutânea. No teste de eficácia, através de um equipamento luminoso que projetava raios que simulavam a radiação solar, foi possível calcular o porcentual de proteção (FSP) que o novo produto ofereceria à pele humana. Segundo a pesquisadora, “o bioflavonoide se mostrou com potencial tão forte como antioxidante que não foi necessário adicionar uma concentração muito alta para se obter o resultado esperado. Com apenas 0,1% de rutina já foi possível verificar aumento de cerca de 40% de eliminação de radicais livres e de 70% quanto ao aumento de fator de proteção”, relata.
A fava d’anta, planta típica do cerrado brasileiro, é fonte de rutina, que é um potente antioxidante – Foto: Denis A. C. Conrado/Wikimedia Commons

A novidade da pesquisa está no fato de os ensaios terem sido feitos em humanos e o protetor solar apresentar capacidade multifuncional já que além de proteção potencializada contra raios solares, o novo filtro funciona como antioxidante. “Alguns estudos anteriores já haviam mostrado indícios de sucesso na associação da rutina em filtros solares com resultado positivo para antioxidante, mas a resposta em pessoas foi comprovada somente agora”, relata André Rolim.
André Rolim Baby, orientador da pesquisa que deu origem ao novo fotoprotetor multifuncional – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Perguntado se os protetores solares disponíveis no mercado oferecem proteção à pele, o pesquisador afirma que sim, mas explica que o produto com formulação antioxidante tem maior poder de ação.

Quanto aos próximos passos da pesquisa e a possibilidade desse novo produto chegar ao mercado consumidor, Letícia explica que depende do interesse de alguma indústria que faria um estudo de viabilidade econômica (definição do custo final do fotoprotetor e do componente – antioxidante ou fator de proteção – que deveria ser trabalhado no marketing) e o registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que demandaria outros testes complementares.

Um artigo sobre a pesquisa, SPF enhancement provided by rutin in a multifunctional sunscreen, foi publicado na International Journal of Pharmaceutics, tendo como primeira autora a pesquisadora Letícia Costa Tomazelli.

Mais informações:e-mails andrerb@usp.br, com André Rolim Baby, ou le_tomazelli@hotmail.com, com Letícia Costa Tomazelli
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Com compostos bioativos, frutas auxiliam na manutenção da saúde

22/04/2019
Pesquisador destaca a importância do consumo integral da fruta para mais benefícios

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A Organização Mundial da Saúde (OMG) recomenda o consumo de cinco porções de frutas por dia. Fonte de micronutrientes, fibras e ricas em fitoquímicos, as frutas são aliadas na manutenção de um estilo de vida saudável, ajudando, por exemplo, na prevenção de doenças. Quem fala sobre o assunto nesta matéria é Márcio Moura, pesquisador da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.

O pesquisador destaca que há inúmeros estudos demonstrando como os compostos bioativos, presentes nas plantas, podem trazer benefícios à saúde. Esses compostos atuam no organismo inibindo, ou ativando, vias metabólicas. “Os compostos bioativos regulam vias que reduzem, por exemplo, a produção de citocinas inflamatórias, trazendo benefícios em cadeia”, aponta Moura.

Cada espécie de planta possui seu próprio perfil, com características específicas. Logo, os compostos encontrados em uma fruta podem não ser encontrados noutra. Por esse motivo, Moura enfatiza a importância da variedade na dieta, além do consumo integral da fruta – quando possível.
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Mistura de agrotóxicos encurta vida e altera comportamento de abelhas

23/04/2019

Associação entre inseticida e fungicida derruba em até 50% o tempo de vida destes insetos polinizadores
Estudo mostrou que dose não letal de inseticida clotianidina reduz em até 50% o tempo de vida dos insetos; uso associado com o fungicida piraclostrobin altera comportamento das operárias e pode comprometer a colmeia – Foto: Raul Santana/Fiocruz Imagens – CC by-nc

Um novo estudo realizado por biólogos brasileiros sugere que o efeito dos agrotóxicos sobre as abelhas pode ser maior do que se imagina. Mesmo quando usado em doses consideradas não letais, um inseticida encurtou o tempo de vida dos insetos em até 50%. Além disso, os pesquisadores observaram que uma substância fungicida considerada inofensiva para abelhas alterou o comportamento das operárias, tornando-as letárgicas – fato que pode comprometer o funcionamento de toda a colônia. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Scientific Reports, do grupo Nature.

O trabalho foi coordenado por Elaine Cristina Mathias da Silva Zacarin, professora na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba. Também participaram pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP. A investigação contou com apoio da Fapesp, da Capes e da Cooperativa dos Apicultores de Sorocaba e Região (Coapis).

É um fato conhecido que diversas espécies de abelhas estão desaparecendo em todo o mundo. Na Brasil, o fenômeno tem sido observado desde pelo menos 2005. E não estão desaparecendo apenas os indivíduos da espécie Apis mellifera, abelha de origem europeia e principal responsável pela produção comercial de mel. Nas matas brasileiras, há centenas de espécies selvagens possivelmente afetadas. O impacto econômico previsto é imenso, pois grande parte da agricultura depende do trabalho de polinização realizado por esses insetos. É o caso, por exemplo, de todas as frutas comestíveis.

A causa do sumiço repentino em massa também já é conhecida: a aplicação indevida e indiscriminada de defensivos agrícolas. “No Brasil, as monoculturas de soja, milho e cana dependem do uso intensivo de inseticidas. A contaminação das colônias de abelhas ocorre quando, por exemplo, os agricultores não respeitam uma margem de segurança mínima (são recomendados 250 metros) na aplicação de defensivos agrícolas entre as lavouras e as áreas florestais que as margeiam. Tem gente que aplica produtos químicos até o limite da floresta”, disse o professor Osmar Malaspina, da Unesp de Rio Claro.

“Na Europa e nos Estados Unidos, as colônias de abelhas morrem aos poucos. Desde a constatação inicial da morte das primeiras abelhas até a morte da colônia pode levar um mês ou até cinco meses. No Brasil não é assim. Aqui, as colmeias desaparecem em apenas 24 ou 48 horas. Não existe nenhuma doença capaz de matar uma colmeia inteira em 24 horas. Só inseticidas podem provocar isso”, contou o docente.
Uso associado de defensivos

Segundo Malaspina, testar em laboratório todos os mais de 600 tipos de ingredientes ativos em inseticidas, fungicidas, herbicidas e acaricidas usados no Brasil é impossível. Para contornar o problema, entre os anos de 2014 e 2017, foi realizado um estudo para identificar, dentre os 44 ingredientes ativos mais usados na agricultura paulista, quais poderiam estar relacionados à mortalidade das abelhas. Foram detectados oito ingredientes com ação comprovadamente letal para os apiários.

A equipe do projeto coletou material em 78 municípios paulistas. Trabalhando com os apicultores, os agricultores e a indústria de defensivos, os pesquisadores recomendaram uma série de ações para proteger apiários, como a observação de margens de mínima segurança na aplicação de agrotóxicos e de boas práticas agrícolas.

“Já descobrimos que um determinado tipo de fungicida, que quando aplicado de modo isolado no campo é inofensivo às colmeias, ao ser associado a um determinado inseticida se torna nocivo. Não chega a matar as abelhas como os inseticidas, mas altera o comportamento dos insetos, comprometendo a colônia”, disse Zacarin.

Os ingredientes ativos investigados foram a clotianidina, inseticida usado para controle de pragas nas culturas de algodão, feijão, milho e soja, e o fungicida piraclostrobina, aplicado nas folhas da maioria das culturas de grãos, frutas, legumes e vegetais.

Qualquer agrotóxico em grandes concentrações dizima colmeias quase imediatamente. Mas o que os pesquisadores estudam são os efeitos sutis e de médio a longo prazo sobre as colmeias, como as concentrações residuais encontradas no pólen das flores. “O que nos interessa é descobrir a ação residual dos agrotóxicos, mesmo em concentrações baixíssimas, sobre esses insetos”, disse Zacarin.
Mudança de comportamento

Os testes foram todos feitos in vitro, com insetos confinados dentro de laboratórios para não ocorrer contaminação ambiental. Nessas condições, larvas de Apis mellifera foram separadas em grupos diferentes e alimentadas entre o terceiro e o sexto dia de vida com uma dieta composta de açúcar e geleia real. O que variou foi o tipo de ingrediente tóxico presente no alimento, sempre em concentrações diminutas, na faixa de nanogramas (bilionésimos de grama).

A dieta do grupo controle não continha agrotóxico. No segundo grupo, a dieta foi contaminada com o inseticida clotianidina. No terceiro grupo, a contaminação foi por fungicida (piraclostrobina). E, no quarto grupo, havia uma associação do inseticida com o fungicida.

“Depois do sexto dia de vida, as larvas se tornam pupas e entram em metamorfose, de onde emergem como operárias adultas. No campo, uma abelha operária vive em média 45 dias. Em laboratório, confinada, vive menos. Mas os insetos alimentados com a dieta contaminada pelo inseticida clotianidina em baixíssima concentração apresentaram tempo de vida drasticamente menor, de até 50%”, disse Zacarin.

Já entre as larvas alimentadas com a dieta contaminada apenas pelo fungicida piraclostrobina não se observou nenhum efeito sobre o tempo de vida das operárias. Isso não significa que a substância seja inofensiva às abelhas. Nenhuma morreu na fase de larva e de pupa. Porém, verificou-se que, na fase adulta, as operárias sofreram modificação em seu comportamento. Elas se tornaram mais lentas do que os insetos do grupo controle – o que, no meio ambiente, poderia prejudicar o funcionamento de toda a colônia.

“As operárias jovens fazem inspeções diárias na colmeia, o que as leva a percorrer certa distância. Elas se movimentam bastante dentro da colônia. Verificamos que, no caso das abelhas contaminadas tanto pelo fungicida sozinho ou associado ao inseticida, a distância percorrida e a velocidade foram muito menores”, disse Zacarin.

Ainda não se sabe de que forma o fungicida age para comprometer o comportamento das abelhas. “Nossa hipótese é que a piraclostrobina, quando associada a um inseticida, diminuiria o metabolismo energético das abelhas. Novos estudos em andamento podem vir a elucidar esse mecanismo”, disse Zacarin.

Peter Moon /Agência Fapesp
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Cientistas de quatro instituições obtêm molécula que pode agir contra a vassoura-de-bruxa


TER, 02 ABR 2019 | 09:46



EDIÇÃO DE IMAGEM LUIS PAULO SILVA

O desenvolvimento de uma molécula fungicida contra a vassoura-de-bruxa reuniu, sob a coordenação do professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, uma equipe interdisciplinar de cientistas dos Institutos de Biologia (IB) e Química (IQ) da Unicamp, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e da Universidade de Warwick, do Reino Unido.

O trabalho, parte da tese “Desenvolvimento direcionado de inibidores da enzima mitocondrial Oxidase Alternativa (AOX) com ação antifúngica contra Moniliophthora perniciosa, fungo causador da vassoura-de-bruxa do cacaueiro”, de Mario Ramos de Oliveira Barsottini, é considerado um marco no conceito e consolidação de uma equipe de cientistas brasileiros com know-how para produzir e avaliar novos químicos de interesse comercial. Os resultados, publicados na revista Pest Management Science,em outubro de 2018, prometem uma nova fase para a cacauicultura nacional.

A vassoura-de-bruxa causa prejuízos ao cacau nacional desde 1989 (leia mais no texto abaixo). Sem formas de erradicar a doença, os cacauais sentem, ainda hoje, os efeitos da vassoura-de-bruxa: são cada dia menos produtivos e competitivos frente às plantações da África e da Ásia.

“Os fungicidas mais usados contra fungos atacam geralmente a respiração ou a estabilidade da membrana celular. Os que atacam a respiração, não funcionam contra a vassoura-de-bruxa. Já os que atacam a membrana celular, funcionam em laboratório, mas não no campo, de acordo com os produtores”, explica Mario Barsottini, primeiro autor do artigo.

O alvo das novas moléculas é a inibição de uma enzima muito peculiar do fungo, a oxidase alternativa (AOX). “A AOX confere à vassoura-de-bruxa resistência a fungicidas na primeira fase da infecção”, conta Barsottini. “Nossa hipótese era de que, inibindo essa via, a gente conseguiria matar o fungo. Mas achar uma molécula capaz de inativar AOX é como montar um quebra-cabeça sem saber direito o formato das peças”, acrescenta. 

O grupo descreveu essa enzima e seu papel na sobrevivência do fungo em artigo publicado na revista New Phytologist em 2012. “Observamos que, quando a respiração principal é bloqueada pela azoxistrobina, uma via alternativa da respiração mantém o fungo na fase biotrófica. Mas, quando combinamos essa droga com um inibidor da oxidase alternativa, o fungo cessa completamente seu crescimento”, explicou Pereira, na época, à Agência FAPESP.

Na primeira fase da infecção, chamada biotrófica, o sistema de defesa da planta consegue bloquear a respiração do fungo. A AOX cria um atalho, que permite ao fungo manter suas funções vitais e resistir ao ataque. Após meses de manipulação da distribuição de nutrientes entre os vários tecidos vegetais, o fungo consegue energia suficiente para sofrer metamorfose e entrar na fase necrotrófica, quando se multiplica rapidamente e mata o seu hospedeiro.

Folhas, ramos e frutos secos com cogumelos (basidiomata), facilitam a disseminação dos esporos pela plantação, que permanecem viáveis por meses antes que um novo ciclo de infecção recomece. Portanto, o controle químico do fungo deve ocorrer antes dessa transição.
O professor Gonçalo Amarante Guimarães Pereira (à esquerda), coordenador da pesquisa, e Mario Barsottini, primeiro autor do artigo, em estufa no Instituto de Biologia

Essa via alternativa da respiração não é exclusiva da vassoura-de-bruxa. O parasito humano Trypanosoma brucei, causador da doença do sono e transmitido pela mosca tsé-tsé, também utiliza essa artimanha.

“Fármacos usados para o controle dessa doença humana, como o ácido salicilhidroxâmico (SHAM) e galato de n-propila, são instáveis e pouco permeáveis às membranas do fungo”, comenta Silvana Rocco, pesquisadora do CNPEM, que participou do estudo.

Rocco desenvolveu novas moléculas a partir de derivados de N-fenilbenzamidas (NPD), uma droga mais fácil de sintetizar e alterar quimicamente. No artigo, Barsottini e colegas testaram 74 dessas moléculas e encontraram uma delas capaz de inibir a via alternativa da respiração e o crescimento do fungo modelo, Pichia pastoris. A molécula nomeada a NPD 7j-41 também foi eficiente contra a vassoura-de-bruxa; evitou a germinação dos esporos e o aparecimento dos sintomas em planta infectadas de tomate, em ensaios realizados em laboratório.

“A NPD 7j-41 nos ajuda a entender quais partes da molécula são mais importantes para estabilidade, permeabilidade na membrana e interação para inibição da AOX. Alterando a estrutura dela, nós podemos desenvolver um químico eficaz para matar o fungo, sem causar danos à planta ou ao meio ambiente”, explica Rocco. “Além das barreiras impostas pela célula do fungo, a nova molécula tem que vencer outros desafios até chegarmos a um fármaco com produção em escala industrial”, completa.
Silvana Rocco, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), durante análise dos novos químicos em reator de ressonância magnética. Foto: Fellipe Mello | CNPEM

“A classe das ascofuranonas usada no combate do T. brucei é promissora, mas difícil de sintetizar. Esses compostos são mil vezes mais potentes que os nossos derivados da NPD”, relata Barsottini. “Nós pretendemos usar o conhecimento adquirido e partir para compostos mais potentes. Queremos trazer o conhecimento da área médica para a agricultura”, finaliza. 

Multifatorial, doença chegou à Bahia em 1989

O fungo vassoura-de-bruxa (Moniliophthora perniciosa) chegou à Bahia em 1989, quando a produção de cacau estava no auge. Plantas deformadas com folhas secas e frutos enegrecidos, sem boas amêndoas, prejudicaram a região cacaueira. Fatores climáticos, estruturais e conjunturais da cadeia produtiva ajudaram na disseminação da doença, que levou ao abandono de fazendas, êxodo rural e miséria.

Hoje, plantas tolerantes e manejo adequado da cultura permitem a convivência entre praga e atividade produtiva, que marca a identidade e a cultura do povo imortalizado nas obras de Jorge Amado. Mesmo assim, a produção vem caindo: de 390 mil toneladas na década de 1980 para 83,9 mil toneladas de amêndoas em 2017.

Muitos especialistas já preveem o colapso na produção mundial de chocolate, caso a doença se espalhe para outras regiões produtoras na África e Ásia. Há ainda outra ameaça, a introdução do fungo patogênico aparentado, a Moniliophthora roreri, que pode causar estragos ainda maiores. Sem agroquímicos eficientes disponíveis para o seu controle, a vassoura-de-bruxa permanece o maior desafio da cacauicultura nacional.

O estudo de Barsottini e colegas é o primeiro passo para o desenvolvimento de um fungicida para garantir a viabilidade dos produtores de cacau e manutenção de economias locais e dos serviços ambientais do cultivo “cabruca”, feito na sombra da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica.

O artigo:

Para ler o artigo “Synthesis and testing of novel alternative oxidase (AOX) inhibitors with antifungal activity against Moniliophthora perniciosa (Stahel), the causal agent of witches’ broom disease of cocoa, and other phytopathogens” (doi: 10.1002/ps.5243) de Mario R. O. Barsottini e colegas, acesse https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/ps.5243

Link do artigo:



segunda-feira, 29 de abril de 2019

Allium sativum L. (Amaryllidaceae). Boletim PLANFAVI, n. 49, Janeiro/março 2019

O alho é considerado uma espécie não endêmica do Brasil e de origem Asiática, porém cultivada por todo o globo devido à sua significativa importância como condimento na culinária e suas propriedades farmacológicas. Os compostos ativos do alho possuem baixa toxicidade e possuem diversos efeitos farmacológicos.

Partes usadas: Bulbilhos.

Usos populares – O alho é usado popularmente no tratamento de infecções do trato respiratório superior, diabetes, hiperlipidemia, hipertensão e prevenção de aterosclerose.

Fitoquímica

O alho é rico em compostos bioativos voláteis e não voláteis, possuindo, em média, 100 destes compostos, em que a grande maioria contém enxofre em sua estrutura (compostos organosulfurados). Os organosulfurados são responsáveis pelo odor característico pungente, sabor e, também, pela maioria dos seus efeitos farmacológicos. A. sativum contém S-alilcisteína, saponinas, ajoeno, flavonoides e fenólicos, sendo que o principal marcador químico é a alicina. Alguns destes compostos têm estabilidade relativamente baixa e curta biodisponibilidade. Estes compostos demonstraram possuir propriedades antioxidantes com potenciais benefícios para a saúde.

Farmacologia O alho apresenta propriedade antibacteriana, antioxidante, fibrinolítica, anticoagulante, anti-hipertensiva, hipolipidêmica e contribui na prevenção da ateriosclerose. A alicina exibiu atividade antibacteriana contra uma ampla gama de bactérias Gram positivas e negativas. É possível que as ligações dissulfeto estejam relacionadas ao efeito antimicrobiano. O efeito hipoglicêmico é atribuído à presença da aliina e alicina. A alicina reduz o colesterol e os triglicerídeos no sangue, assim como reduz o armazenamento do colesterol hepático. Além disso, a S-alilcisteína e S-alilmercaptocisteína exibiram atividades anticarcinogênicas, fornecendo proteção contra danos no fígado. Não há evidencias suficientes para comprovar o efeito dos compostos bioativos no alho para combater a Gripe, uma doença infecciosa provocada por diversos vírus da família Orthomyxoviridae.

Reações adversas

Raros são os relatos de intoxicação com A. sativum. Contudo, o alho apresenta interações medicamentosas com hipotensivos. Necessita atenção em casos de hipertireoidismo, tratamentos com anticoagulantes, gastrite, úlcera gastroduodenal e alergia aos compostos à base de enxofre.

Referências

Amarakoon & Jayasekara. 2017. A review on garlic (Allium sativum L.) as a functional food. J. Pharmacogn. Phytochem., v. 6, p. 1777-1780. 

Azzini et al., 2014. Phytochemicals Content in Italian Garlic Bulb (Allium sativum L.) Varieties. J. Food Res., v.3, p. 26-32. 

Brasil. 2013. Allium sativum (Alho). Ministério da Saúde. Organização: Ministério da Saúde e Anvisa Fonte do Recurso: Ação 20K5 (DAF/ SCTIE/ MS). 

Klassa, B. et al. Avaliação do efeito do alho (Allium sativum L.) sobre o colesterol plasmático em coelhos com hipercolesterolemia induzida. Rev. Bras. Pl. Med., v. 15, p. 557-565.

Lissiman & Bhasale. 2014. Cohen M. Garlic for the common cold. Cochrane Database of Systematic Reviews. Issue 11. Art. No.: CD006206. 

Paudel KR. 2014. Pharmacological effects of traditional herbal plant garlic (Allium sativum): A review. Journal of Kathmandu Medical College, v. 3, p. 158 - 161. 

Tesfaye & Mengesha. 2015. Traditional Uses, Phytochemistry and Pharmacological Properties of Garlic (Allium sativum) and its Biological Active Compounds. International Journal of Scientific Research in Science, Engineering and Technology v. 1, p. 142-148.
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Fitomedicamentos e Sexualidade Feminina: Boletim PLANFAVI, n. 49, Janeiro/março 2019

A resposta sexual é um conjunto de alterações orgânicas provocadas por uma variedade de estímulos que incluem não somente aqueles obtidos através dos órgãos dos sentidos, como também estímulos cognitivos.

Caracteriza-se uma disfunção sexual quando há comprometimento por bloqueio ou inibição em qualquer das fases da resposta funcional fisiológica.

Tribulus terrestris L., planta originária da Índia, é bastante utilizada como estimulante sexual natural pela Medicina Tradicional da China, Índia e Grécia. Vários trabalhos têm demonstrado que, de fato, produtos derivados de Tribulus são capazes de aumentar as concentrações séricas de testosterona endógena, correlacionando positivamente com o desejo e o comportamento sexual em mulheres no menacme e menopausa.

Outra opção utilizada há muitos séculos pela Medicina Oriental é o Ginseng Vermelho Coreano ou Panax ginseng, nos casos de fadiga e astenia. Existem inúmeros trabalhos científicos demonstrando sua ação vasodilatadora periférica e efeito sobre o sistema nervoso central, inibindo a secreção de prolactina, e, portanto, potencializando a libido e a performance sexual. Há pesquisas demonstrando que o ginseng vermelho coreano melhora a excitação sexual em mulheres na menopausa. O mecanismo proposto é o relaxamento do músculo liso, clitoriano e nas paredes vaginais.

Já o Extracto de Ginkgo biloba, vêm das espécies de árvores mais antigas do mundo, sendo utilizada em Medicina tradicional chinesa para tratar várias doenças, incluindo depressão e disfunção sexual. Com relação à disfunção sexual, pensa-se que o Ginkgo pode causar a liberação de fator relaxante derivado do endotélio e prostaciclina, resultando em vasodilatação. Além disso, o Ginkgo modula o óxido nítrico (NO), causando relaxamento vascular, aumentando assim o fluxo sanguíneo para os tecidos periféricos.

A Withania somnifera é uma planta da família das solanáceas conhecida popularmente como Ashwagandha ou cereja-de-inverno. Estudo piloto randomizado realizado na Índia em 2015, com 50 mulheres utilizando suplemento de extrato de raiz de ashwagandha de alta concentração (HCARE) por oito semanas, demonstrou melhora na função sexual em mulheres saudáveis.

Verificamos através de pesquisas que o gel vaginal com isoflavonas derivadas do Glycine max (L.) Merr atuam no epitélio melhorando o trofismo e aumentando a lubrificação, podendo ser utilizadas nos casos de sintomas geniturinários gerados por hipoestrogenismo, como secura vaginal e dispareunia.

Nos casos de distúrbio do desejo sexual hipoativo em razão da hiperprolactinemia, pode-se utilizar o Vitex agnus castus, que tem ação dopaminérgica, inibindo a secreção de prolactina.

Outra planta que está sendo muito estudada é Lepidium meyenii Walpers (maca), de origem peruana que cresce nos Andes a 4000 metros de altura, onde é cultivada há mais de 2000 anos. Existem vários tipos de Maca que são diferenciadas pelas cores dos seus hipocótilos. Os trabalhos disponíveis na literatura não priorizam a sexualidade feminina, assim, há necessidade de mais estudos randomizados, controlados por placebo, visando o L. meyenii.

O estudo da sexualidade feminina está em evidência, e os fitomedicamentos vêm sendo pesquisados e utilizados, cada vez mais, no tratamento dos distúrbios sexuais.

Esse editorial foi escrito, a convite, pelo Prof Dr Sostenes Postigo, Depto de Obstetrícia e Ginecologia, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Presidente da Sobrafito.

Are Microplastics in Seafood a Cancer Risk?

Usos medicinais das ervas-cidreiras

Texto:

Ariane de Oliveira Crescencio – Acadêmica de Engenharia Agronômica - UNITAU 
Marcos Roberto Furlan - Professor - UNITAU e FIC 

No texto anterior (http://quintaisimortais.blogspot.com/2019/04/cidreiras-no-quintal.html), foram citadas algumas diferenças que facilitam uma diferença visual entre as três principais espécies que recebem o nome erva-cidreira. Mas será que possuem atividades farmacológicas semelhantes? 

Com relação ao uso popular, as três são usadas, principalmente, como calmantes. A Lippia alba também é indicada tradicionalmente como hipotensora, ansiolítica e contra insônia. O Cymbopogon citratus é muito consumido como chá sem a preocupação de ação medicinal, ou seja, é consumido por ser saboroso. 

Com relação às publicações técnicas, as recomendações para cada uma das espécies são: 


Tintura de Lippia alba (Mill.) N.E. Br. ex Britton & P. Wilson 

Indicações 

Auxiliar na prevenção da migrânea (enxaqueca) (CONDE et al., 2011; CARMONA et al, 2013; PEREIRA et al., 2014) e como analgésico (CÁCERES, 2009). 

Modo de usar

Uso oral

Tomar de 3 a 6 mL da tintura, diluídos em 50 mL de água, duas vezes ao dia (PEREIRA et al., 2014).

Advertências

Uso adulto.
Não usar em pessoas com hipersensibilidade aos componentes da formulação. Não usar em gestantes, lactantes, alcoolistas e diabéticos, em função do teor alcoólico na formulação. Se os sintomas piorarem durante o uso do fitoterápico um médico deve ser consultado. Pode potencializar o efeito de medicamentos sedativos. O uso concomitante com paracetamol pode aumentar a toxicidade desse fármaco, pelo uso da mesma via metabólica. Não recomendado para pessoas com hipotensão arterial pois pode agravar o quadro. Doses mais elevadas podem provocar irritação da mucosa gástrica, devendo ser evitado em casos de gastrite e úlcera gastroduodenal (PEREIRA et al., 2014).

Tintura de Melissa officinalis L.

Indicações

Auxiliar no tratamento sintomático da ansiedade leve e insônia leve; como auxiliar no alívio de sintomas gastrintestinais leves, incluindo distensão e flatulência (LORENZI & MATOS, 2008; CÁCERES, 2009; EMA, 2013; PEREIRA et al., 2014).

Modo de usar 

Uso oral 
Tomar 2 a 6 mL da tintura, diluídas em 50 mL de água, de uma a três vezes ao dia (VANACLOCHA & CAÑIGUERAL, 2006; EMA, 2013). 

Advertências

Uso adulto.
Não usar em pessoas com hipersensibilidade aos componentes da formulação. Não usar em gestantes, lactantes, alcoolistas e diabéticos, em função do teor alcoólico na formulação. Se os sintomas piorarem durante o uso do fitoterápico um médico deve ser consultado. Pode prejudicar a habilidade de dirigir ou operar máquinas (EMA, 2013). Não deve ser utilizado por pessoas com hipotireoidismo, devido a uma ação antitireoidiana (GARCIA et al., 1999). Uso não recomendado em pessoas com úlcera gastroduodenal, síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, hepatopatia, epilepsia e doença de Parkinson (GARCIA et al., 1999). É contraindicado em pessoas com glaucoma e hiperplasia benigna de próstata. Pode aumentar o efeito hipnótico do pentobarbital e hexobarbital (BRINKER, 2001).

Obs.:
As formas de obtenção das tinturas constam na publicação.

Referências citadas no formulário 

BRINKER, N. D. Herb contraindications and drug interactions. 3rd ed. Oregon: Eclectic Medical Publications, 2001.

CÁCERES, A. Vademécum nacional de plantas medicinales. Guatemala: Editorial Universitaria, Universidad de San Carlos de Guatemala, 2009.

CARMONA, F.; ANGLUCCI, M. A.; SALES, D. S.; CHIARATTI, T. M.; HONORATO, F. B.; BIANCHI, R. V.; PEREIRA, A. M. S. Lippia alba (Mill.) N. E. Brown hydroethanolic extract of the leaves is effective in the treatment of igraine in women. Phytomedicine, v. 20, n. 10, p. 947-950, 2013.

CONDE, R.; CORRÊA, V.S.; CARMONA, F.; PEREIRA, A. M. S. Chemical composition and therapeutic effects of Lippia alba (Mill.) N. E. Brown leaves hydro-alcoholic extract in patients with migraine. Phytomedicine, v. 18, n. 14, p. 1197-1201, 2011.

EMA, European Medicines Agency. Community herbal monograph on Melissa officinalis L., folium. London: Committee on Herbal Medicinal Products (HMPC), 2013. Disponível em <http://www.ema.europa.eu/docs/en_GB/document_library/Herbal_Community_herbal_monograph/2013/08/WC500147189.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2016.

GARCIA, A. A.; VANACLOHA, B. V.; SALAZAR, J. I. G. Fitoterapia vademécum de prescripción: plantas medicinales. 3. ed. Barcelona: Masson, 1999, 1148p.

LORENZI, H. E.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008.

PEREIRA, A. M. S.; BERTONI, B. W.; SILVA, C. C. M.; FERRO, D.; CARMONA, F.; CESTARI, I. M.; BARBOSA, M. G. H. Formulário fitoterápico farmácia da natureza. 2. ed. Ribeirão Preto: Bertolucci. 2014. 407p.

VANACLOCHA, B.; CAÑIGUERAL, S. Fitoterapia: vademécum de prescripción. 4. ed. Barcelona: Masson, 2006.


Propriedades Farmacológicas

Determina uma diminuição da atividade motora, aumentando o tempo de sono, é um regulador vago-simpático. O citral tem efeito antiespasmódico, tanto no tecido uterino como no intestinal. É analgésico e combate o histerismo e outras afecções nervosas, propriedade devida ao mirceno. A atividade antibacteriana está associada também ao citral.

O extrato da planta, no duodeno do coelho, demonstrou a diminuição do tônus abdominal e no reto abdominal, havendo bloqueio da acetilcolina.

Usos terapêuticos

Cefaleia de origem tensional, ansiedade, nervosismo, insônia, flatulência (gases intestinais), e como relaxante muscular (dores e tensões musculares de etiologia diversa, hipertensão arterial).

Princípios ativos

Óleos essenciais, contendo 75 a 85% de citral e seus isômeros geranial e neral, vários aldeídos, como citronelal, isovaleraldeído e decilaldeído, cetonas, álcoois como geraniol, nerol, metil heptenol, farnesol, terpenos como depenteno e mirceno, além de flavonóides, substâncias alcaloídicas, uma saponina esterólica, beta-sitosterol, n-hexacosanol e n-triacontano e triterpenóides isolados da cera que recobre as folhas, o cimbopogonol e cimbopagona.

Partes utilizadas

Folhas frescas ou secas e rizomas.

Formas de uso e dosagem

Chás preparados como infusão a 02% (05 g/250 ml de água). 250 ml à noite para insônia. Até 1.000 ml ao dia para ansiedade, nervosismo ou outras indicações.

Interações

Não há referências na literatura consultada.

Tempo de uso

Pelo tempo que se fizer necessário.

Efeitos colaterais

Não referidos na literatura, desde que respeitadas as doses recomendadas.

Fototoxicidade no uso tópico, podendo “manchar a pele”, quando exposta ao sol (assim como a citronela, limão, laranja e outros cítricos).

Em doses excessivas, pode causar sonolência, diarreia, hipotensão arterial, fraqueza e sedação.

Superdosagem

Doses excessivas podem provocar hipocinesia, ataxia, bradipneia, perda de postura, sedação e diarreia.

Contra-indicações

Hipotensão arterial e pessoas sensíveis à planta.

Uso durante gravidez e lactação

É contra indicado durante a gestação, pois pode provocar abortos devido ao relaxamento da musculatura uterina.

É recomendado durante a lactação, pois atua como estimulante lácteo.

Cuidados no armazenamento

Armazenar em recipientes herméticos, em ambiente seco e arejado e ao abrigo da luz solar.

Observação do Protocolo

Lembramos que as informações aqui contidas terão apenas finalidade informativa, não devendo ser usadas para diagnosticar, tratar ou prevenir qualquer doença, e muito menos substituir os cuidados médicos adequados.

Fontes principais de consulta do protocolo:

“PLANTAS AROMÁTICAS E MEDICINAIS - CULTIVO E UTILIZAÇÃO” – Paulo Guilherme Ferreira Ribeiro e Rui Cépil Diniz . Londrina: IAPAR, 2008.

“TRATADO DE FITOMEDICINA – bases clínicas e farmacológicas” Dr. Jorge R. Alonso – editora Isis . 1998 – Buenos Aires – Argentina.