Tem latim no quintal
João de Oliveira – Linguista – Professor Universitário
Marcos Roberto Furlan – Engenheiro Agrônomo – Professor Universitário
Um quintal repleto de plantas espontâneas também é um quintal repleto de palavras associadas à história, à mitologia, à literatura, à ciência e, obviamente, à botânica. Como são várias as possibilidades, para facilitar o conhecimento proposto, destacaremos neste texto alguns nomes científicos e seus significados.
Antes, é importante salientar que, para que o nome científico seja imparcial em todo o mundo, é utilizado o latim como referência nominal, por ser uma língua considerada morta ou extinta, visto que, atualmente, nenhum falante de uma determinada comunidade a utiliza em sua comunicação habitual.
No geral, essa língua é utilizada para evitar confusões linguísticas em traduções e em outras línguas. Por não apresentar mudanças em sua utilização, o uso do latim se tornou uma forma de comunicação e sistematização universal das espécies, garantindo a catalogação e a discussão da biodiversidade, sem possíveis alterações linguísticas. Logo, vale ressaltar que a nomenclatura científica, formulada pelo botânico, zoólogo e médico sueco Carl Nilsson Linnæus (1707-1778), que em português tratamos por Carlos Lineu, é utilizada até hoje.
Em sua nomenclatura binomial, o referido botânico propôs as seguintes regras: o nome científico vem grafado em itálico, podendo, porém, também ser em negrito. O primeiro nome se refere ao gênero; o segundo, geralmente constituído por um adjetivo relacionado com uma característica da planta. O primeiro (gênero) inicia-se em letra maiúscula; o segundo, em minúscula. Os dois nomes juntos indicam a espécie. No final, temos o nome do autor, escrito sem nenhum tipo de destaque.
Como exemplo, trazemos o “alecrim”, que é denominado cientificamente por Rosmarinus officinalis L. Neste caso, “Rosmarinus” é o gênero, enquanto que “officinalis” é o epiteto específico. Por sua vez, o “L.” corresponde à abreviatura do autor do nome. Neste caso, o próprio Lineu. Finalmente, Rosmarinus officinalis é a espécie.
Características morfológicas ou significados que lembram a origem, o uso ou as cores geralmente estão no epíteto específico, isto é, no segundo nome do nome científico.
Ao observarmos alguns casos a seguir, utilizando de plantas que nascem espontaneamente no quintal, vocês concluirão que é fácil perceber o epíteto específico.
Exemplos de nomes associados aos usos
A serralha (Sonchus oleraceus) e a beldroega (Portulaca oleracea) têm, cada uma delas no seu próprio epíteto específico, a palavra oleraceus e oleracea, indicando-nos que são plantas comestíveis, principalmente como uma olerícola (hortaliça). Elas também são medicinais, mas no nome só cabe uma das qualidades apresentadas pelas plantas.
Algumas plantas medicinais e comestíveis, como a Porophyllum ruderale, não são muito valorizadas quando se traduz o seu epíteto específico. Ruderale ou ruderalis quer dizer que é uma planta de terreno baldio. Esta espécie, citada popularmente como cravorana ou arnica-de-quintal, realmente é comum nas calçadas, nos quintais e em terrenos abandonados, todavia, poucos sabem de seu potencial alimentício ou medicinal.
Não há dúvidas dos usos medicinais do dente-de-leão, principalmente porque o seu nome científico, que é Taraxacum officinale, traz, no segundo nome, a referência de que é usado há séculos como medicinal.
Exemplos de nomes associados às cores
Com relação às cores, dentre os carurus ou bredos, há uma espécie denominada Amaranthus viridis. Viridis significa que é da cor verde. Já em relação ao nome científico da maria-pretinha, que é Solanum nigrum, é fácil descobrir o significado do epiteto nigrum. Na espécie Eclipta alba, a popular erva-botão, alba significa branca.
Imagens das espécies citadas
Sonchus oleraceus
Portulaca oleracea
Taraxacum officinale
Eclipta alba
Amaranthus viridis
Solanum nigrum
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