sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Óleo de peixe previne prejuízos de dieta rica em gordura, indica estudo

29 de agosto de 2016

Karina Toledo | Agência FAPESP – A suplementação com óleo de peixe – rico em ácidos graxos da família ômega 3 – pode ajudar a prevenir problemas de saúde induzidos por uma dieta rica em gordura, entre eles diabetes e dislipidemia.

A conclusão é de um estudo feito com camundongos na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os resultados da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foram divulgados no The Journal of Physiology.

“Importante ressaltar que nosso modelo foi de prevenção, pois iniciamos a suplementação quando os animais estavam sadios. Atualmente, estamos investigando o efeito do óleo de peixe em animais já obesos e os resultados parecem ser diferentes”, contou Maria Isabel Cardoso Alonso-Vale, professora do Departamento de Ciências Biológicas da Unifesp.

Os experimentos foram conduzidos durante o mestrado e o doutorado de Roberta Dourado Cavalcante da Cunha de Sá, sob orientação de Alonso-Vale.

Os animais foram suplementados com óleo de peixe ao longo de 12 semanas. A partir da quarta, passaram a receber uma dieta considerada hiperlipídica: com 59% de gordura, contra 9% da dieta ingerida pelo grupo-controle.

“Os animais recebiam dois gramas de óleo de peixe por quilo corporal, três vezes por semana. Cada grama do óleo usado no estudo tem 540 miligramas de EPA (ácido eicosapentaenoico) e 100 miligramas de DHA (ácido docosahexaenoico). A proporção desses ácidos graxos poli-insaturados deve ser considerada para a obtenção do resultado”, comentou Alonso-Vale.

De acordo com dados da literatura científica, o EPA tem ação anti-inflamatória no organismo, induzindo a produção de substâncias conhecidas como prostaglandinas E3. Já o DHA é conhecido por sua ação antioxidante.

Resultados

No final das 12 semanas, o peso dos camundongos que receberam a dieta hiperlipídica e não foram suplementados havia aumentado em média 12 vezes. Além disso, os animais apresentavam intolerância à glicose, resistência à insulina, aumento nas taxas de glicemia e insulinemia de jejum e aumento nos níveis de colesterol total e de LDL (lipoproteína de baixa densidade, conhecida como “colesterol ruim”). Para piorar, os roedores obesos estavam comendo mais do que os outros animais e gastando um porcentual menor da energia ingerida.

Já no grupo que recebeu o óleo de peixe antes e durante o período de dieta hiperlipídica, o peso aumentou em média oito vezes – 30% menos – e não foram observadas alterações no metabolismo de glicose ou dislipidemia.

O passo seguinte foi avaliar, in vitro, parâmetros metabólicos associados ao desenvolvimento de resistência à insulina nas células adiposas oriundas do tecido adiposo visceral e subcutâneo. Cada tipo de adipócito (provenientes do tecido adiposo visceral e subcutâneo) foi avaliado.

Os resultados mostram que o alto consumo de gordura afeta esses dois depósitos corporais de maneira diferente – embora nos dois casos tenha sido observada a hipertrofia da célula adiposa, aumento no volume destas células e a perda de suas funções originais.

O adipócito do tecido subcutâneo, por exemplo, tem um importante papel na captação da glicose circulante. Essa capacidade foi reduzida pela dieta hiperlipídica em consequência de queda na expressão da proteína GLUT4, encontrada na membrana celular com a função de captar a glicose da circulação.

Além disso, foi observado no adipócito subcutâneo um aumento na expressão das citocinas pró-inflamatórias TNF-α (fator de necrose tumoral alfa) e IL-6 (interleucina 6). Por outro lado, houve queda na produção de adiponectina, molécula com ação anti-inflamatória e com importante papel na regulação do metabolismo de glicose e lipídeos.

Já no adipócito do tecido visceral foi observado um aumento na lipólise, ou seja, na quebra da gordura armazenada em moléculas de ácidos graxos, que podem cair na circulação e contribuir para o desenvolvimento de dislipidemia. Diminuiu, por outro lado, a chamada lipogênese de novo – síntese endógena de ácidos graxos feita a partir de carboidratos. Esse mecanismo, que ajuda a evitar um excesso de glicose no organismo, ficou prejudicado. Houve ainda aumento na secreção das moléculas inflamatórias TNF-α, IL-6 e resistina.

“Dados da literatura sugerem que a inflamação crônica observada no tecido adiposo de indivíduos obesos estaria relacionada à infiltração de células do sistema imune, principalmente macrófagos, o grande responsável pela secreção das citocinas inflamatórias. Olhando para o adipócito isolado, nosso estudo mostrou que há inflamação independentemente da presença destas células no tecido”, disse Alonso-Vale.

A análise dos adipócitos dos animais que receberam dieta hiperlipídica e óleo de peixe concomitantemente mostrou que a suplementação foi capaz de prevenir todas as alterações metabólicas – tanto no tecido adiposo subcutâneo quanto no visceral.

“A suplementação com óleo de peixe, em conjunto com outras estratégias, pode ser uma boa medida de saúde pública para prevenir resistência à insulina e diabetes do tipo 2. Mas, claro, antes de um amplo uso em humanos seriam necessários outros estudos. É preciso estabelecer, por exemplo, a dose e a periodicidade mais adequadas, bem como o momento de se introduzir a suplementação”, avaliou Alonso-Vale.

O artigo Fish oil prevents changes induced by a high-fat diet on metabolism and adipokine secretion in mice subcutaneous and visceral adipocytes publicado em The Journal of Physiology pode ser lido em http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1113/JP272541/full.

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Descobertas espécies de citros que produzem repelente contra o greening

09 de setembro de 2016

Diego Freire | Agência FAPESP – Uma nova estratégia de combate ao vetor da bactéria responsável pelo greening, considerada a mais destrutiva doença dos citros no mundo e presente em 17% das laranjeiras no Estado de São Paulo, poderá ser desenvolvida a partir da descoberta de que três espécies de plantas do gênero produzem um óleo que repele o inseto.

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) envolvidos no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Controle Biorracional de Insetos Pragas, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela FAPESP, analisaram a composição química dos óleos essenciais produzidos por 22 espécies do gênero Citrus, que inclui a laranja, o limão e a tangerina. O objetivo foi compreender os efeitos dessas substâncias nos organismos que interagem com as plantas – entre eles, o Diaphorina citri, psilídeo vetor da bactéria Candidatus Liberibacter spp, causadora do greening. As análises foram feitas no âmbito do projeto temático Estudos integrados para o controle de formigas-cortadeiras, realizado com apoio da Fundação.

Com apenas 3 mm de comprimento, o D. citri suga os brotos terminais das plantas, situados na ponta do caule, mas os danos diretos causados pela sucção contínua de seiva não representam prejuízos ao pomar. São os ovos do inseto que transmitem a bactéria – e uma única fêmea chega a colocar 800 ovos.

Os pesquisadores descobriram que o inseto tem preferência por depositar os ovos em algumas espécies cítricas em detrimento de outras. Duas delas, em especial, são pouco atrativas: Citrus reticulata, conhecida como tangerina murcote, e o híbrido de C. paradisi com P. trifoliata, o citrumelo Swingle.

“A composição química dos óleos voláteis dos 22 genótipos de citros e de outros gêneros afins era pouco diferenciada até então”, disse Maria Fátima das Graças Fernandes da Silva, do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (CCET) da UFSCar e coordenadora do INCT. “Técnicas de quimiometria [a aplicação de métodos estatísticos e matemáticos em dados de origem química] nos ajudaram a compreender melhor essas substâncias e sua capacidade de atrair ou repelir o psilídeo”, acrescentou.

Entre os achados da análise está a preferência majoritária do psilídeo pela Murraya paniculata, originária da Ásia e muito utilizada no Brasil como planta ornamental, conhecida nacionalmente como dama-da-noite ou jasmim-laranja. O resultado da análise química dos óleos essenciais da planta a confirmam como principal hospedeiro do inseto.

Essa planta, segundo a pesquisadora, tem sido erradicada de cidades produtoras de citros porque, apesar de não pertencer a esse grupo, a preferência do psilídeo por ela, que o atrai, é associada à contaminação dos pomares.

“Agora conhecemos a substância produzida pela planta responsável por essa atração e também os óleos produzidos pelos genótipos de citros que têm a mesma capacidade de atrair o inseto, facilitando a contaminação”, conta a pesquisadora.

Já os genótipos menos interessantes para o psilídeo têm, em comum, a presença de três compostos encontrados apenas em seus óleos essenciais: fitol, (Z)-beta-ocimeno e beta-elemeno. Para os pesquisadores, tais compostos podem agir como repelente, tornando os óleos dessas plantas menos atraentes para o inseto depositar seus ovos.

Odores

A hipótese de que certos citros poderiam apresentar alguma resistência às investidas do inseto Diaphorina citri surgiu no Centro de Citricultura Sylvio Moreira, em Cordeirópolis, no interior paulista, onde já se havia observado que algumas das 22 espécies cultivadas no local eram mais escolhidas pelo psilídeo, enquanto outras eram preteridas. Pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq) identificaram aquelas supostamente menos interessantes e, em seguida, o grupo da UFSCar investigou quais as substâncias produzidas por elas que poderiam causar a repelência observada.

Por meio de cromatografia gasosa, técnica usada em química orgânica para separação de compostos, os pesquisadores obtiveram todos os constituintes de cada óleo dessas plantas, que foram analisados por um espectrômetro – equipamento que mede a massa das moléculas e, com base nessa informação, permite a identificação de cada composto.

Para verificar a capacidade de atrair ou repelir o psilídeo, os pesquisadores utilizaram um tubo em formato de Y em que o inseto é posicionado na base e dois óleos são colocados em cada saída. O inseto sente, então, o odor do vapor gerado pelos óleos e os pesquisadores observam, repetidas vezes, para qual entrada ele se dirige. Cálculos matemáticos ajudam a determinar o quanto as substâncias de cada óleo são atraentes ou repelentes.

“A atração pelos óleos de Citrus reticulata e citrumelo Swingle foi muito baixa, o que nos levou a considerar uma capacidade repelente dos seus compostos e seu potencial para o desenvolvimento de estratégias de proteção das plantas com base nesse conhecimento”, diz Fernandes da Silva.

Os pesquisadores trabalham agora para realizar análises em um eletroantenograma, equipamento que permite avaliar a resposta da antena de insetos a estímulos químicos, com o objetivo de descobrir por que esses óleos provocam a repelência. Quando associado à cromatografia e sabendo-se que determinado extrato de planta repele um inseto-alvo, esse extrato pode ser analisado por meio da tecnologia para que seja identificada qual molécula em específico é responsável por provocar a resposta.

Enxertos

O cultivo de citros no Brasil é feito, em sua maioria, não por meio da plantação de sementes, mas com o uso de enxertos – método de formação de mudas em que o broto de uma planta é implantado na base de uma muda de uma segunda planta, geralmente de outra espécie. A enxertia pode ser utilizada para gerar mudas de plantas de difícil reprodução ou para aproveitar características das duas espécies.

Ainda não existe uma variedade comercial de copa ou de enxerto de citros resistente ao greening. Plantas novas contaminadas não chegam a produzir e as que já estão em produção apresentam grande queda de frutos. O controle efetivo da doença tem sido feito por meio de inspeção constante e eliminação imediata de plantas com sintomas.

Também conhecida como Huanglongbing (HLB) ou popularmente como amarelão dos citros, o greening é doença originária da Ásia. Identificada no Brasil em 2004, a doença está presente em todas as regiões citrícolas de São Paulo e em pomares de Minas Gerais e Paraná. Está presente também em outros países produtores de citros, como México e Estados Unidos. No estado da Flórida – o maior concorrente mundial do Brasil na produção de laranja e onde a doença surgiu em 2005 –, o greening já atingiu entre 80% e 90% dos pomares e afeta cerca de 70% das plantas.

“Trata-se de um problema muito grave na citricultura brasileira e mundial. Pomares com altas incidências da doença devem ser inteiramente eliminados, erradicando-se as plantas com e sem sintomas, garantindo que nenhuma eventual fonte de contaminação para outras plantas e pomares permaneça”, diz Fernandes da Silva.

De acordo com a pesquisadora, a descoberta de óleos que não são de interesse do inseto pode ser importante para o aprimoramento da enxertia. “Na ausência de uma planta fortemente resistente ao greening, poderiam ser produzidos enxertos com aquelas que, agora, sabemos ter algum efeito repelente contra seu vetor.”

Um índex com a capacidade de atração e repelência de cada espécie analisada e os demais resultados da pesquisa são apresentados no artigo Essential Oil Variation from Twenty Two Genotypes of Citrus in Brazil – Chemometric Approach and Repellency Against Diaphorina citri Kuwayama, publicado na revista Molecules e disponível em www.mdpi.com/1420-3049/21/6/814. Além de Fernandes da Silva, assinam o artigo Moacir dos Santos Andrade, Leandro do Prado Ribeiro, Paulo Cesar Borgoni, Moacir Rossi Forim, João Batista Fernandes, Paulo Cezar Vieira, José Djair Vendramin e Marcos Antônio Machado.
Diaphorina citri, vetor da pior doença dos laranjais de São Paulo e do mundo, não se sente atraído por óleos essenciais de três espécies de citros (Foto: Wikimedia Commons)

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Unesp desenvolve fármaco para tratamento da doença de Chagas

11 de outubro de 2016
Medicamento é feito à base da planta medicinal cervejinha-do-campo (Foto: Unesp)

Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) estão desenvolvendo um novo fármaco para o tratamento da doença de Chagas feito à base da planta medicinal cervejinha-do-campo (Arrabidaea brachypoda), informou a Unesp Agência de Notícias (UnAN).

Parte da pesquisa foi desenvolvida com apoio da FAPESP durante o pós-doutorado de Cláudia Quintino da Rocha, no Instituto de Química da Unesp, em Araraquara, e no laboratório da Universidade de Genebra, na Suíça, com supervisão dos professores Jean-Luc Wolfender e Emerson Queiroz. Na Unesp, a pesquisa teve orientação de Wagner Vilegas, atualmente docente no Instituto de Biociências da Unesp no Litoral Paulista.

Em seu doutorado, Rocha isolou uma molécula inédita da planta presente no cerrado brasileiro e a testou em modelos in vitro e in vivo. A substância apresentou uma alta atividade contra o parasita Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas.

O estudo foi desenvolvido no âmbito do Projeto Temático “Fitoterápicos padronizados como alvo para o tratamento de doenças crônicas”, coordenado por Vilegas (Leia mais em: http://agencia.fapesp.br/ 17244/), e também contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Ao olhar para essa planta, nas pastagens de Minas Gerais, as pessoas nem imaginam que ela pode ter um grande potencial terapêutico”, ressalta Vilegas, especialista em química de produtos naturais. “Trata-se de uma atividade promissora, mas ainda são necessários mais testes até que se chegue ao uso em humanos. São etapas longas, complicadas, custosas, mas que precisam ser feitas”, avalia.

Um dado importante da pesquisa é que, nas doses testadas até o momento, o composto não apresentou toxicidade significativa. Atualmente, existem no mercado apenas dois medicamentos para tratamento da doença de Chagas: o nifurtmox e o benzonidazol. O primeiro apresenta reduzido poder tripanocida (capacidade de matar o parasita), uma vez que é eliminado rapidamente no plasma e deve ser administrado continuamente. Além disso, apresenta inúmeros efeitos colaterais como náuseas, vômitos, dores estomacais, entre outros. Já o benzonidazol não pode ser usado no tratamento pediátrico e causa fortes reações adversas, semelhantes ao nifurtmox.

Rocha, que hoje é professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), contou que os efeitos colaterais desses medicamentos são muito fortes e, por isso, muitos pacientes precisam suspender o tratamento.

“Cerca de 30 % dos infectados que não tratam a doença na fase aguda vão desenvolver os sintomas da fase crônica.” Nesta última etapa, a grande preocupação é a insuficiência cardíaca, que pode causar morte súbita.

Além disso, 40% dos pacientes sentem fortes efeitos colaterais, como dores de cabeça, fadiga, insuficiência renal, diarreia, enjoos e vômitos. “O uso da nova substância poderá tornar o tratamento da doença tão eficaz quanto os que já existem, porém sem efeitos colaterais”, finaliza Rocha.

O passo seguinte será realizar novos ensaios in vivo para atestar a segurança da molécula. Em seguida, pretende-se desenvolver formulações farmacêuticas com o composto. Um pedido de patente foi depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sobre a descoberta e aplicação da nova molécula.

Vilegas lembrou que as doenças crônicas são responsáveis por cerca de 40% das enfermidades na população adulta brasileira, segundo dados mais recentes da Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013.

De acordo com o pesquisador, o Brasil tem uma biodiversidade enorme mas ainda pouco explorada. “Meu objetivo é tentar buscar na natureza alternativas para as doenças crônicas que sejam mais viáveis, menos tóxicas, mais baratas e que estejam à disposição da população”, acrescentou.

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Estudo destaca potencial do jucá contra rugas e manchas na pele

04 de novembro de 2016

Peter Moon | Agência FAPESP – O jucá (Libidibia ferrea), também conhecido como pau-ferro, é uma árvore amazônica de pequeno porte mas grande potencial. O pó de sua casca é usado como chá pela medicina tradicional da região e para o tratamento de problemas no fígado ou no estômago. Industrializado, o extrato da casca entra na composição de diversas marcas de sabonete íntimo, por conta de propriedades antissépticas.

Sabia-se que o jucá tem propriedades terapêuticas. Um trabalho pioneiro de Emerson Silva Lima, professor na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), publicado em 2014, mostrou que a casca e a vagem do jucá possuem princípios antioxidantes e que também poderiam apresentar efeitos no tratamento de problemas do fígado.

A investigação das propriedades do jucá atingiu agora um novo patamar. Um artigo publicado no Archives of Dermatological Research destaca outros efeitos do jucá: antienvelhecimento e antipigmentação.

O artigo é assinado por Lima e outros 13 pesquisadores da Ufam, da Universidade de São Paulo, da Universidade do Estado do Amazonas e das universidades Federais de São Paulo e do Pará.

Segundo uma das autoras, Silvya Stuchi Maria-Engler, professora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, o interesse na pesquisa específica se deu porque “não existiam informações sobre quais seriam os agentes antienvelhecimento na composição do extrato de jucá”.

A primeira autora do artigo, Tatiana do Nascimento Pedrosa, orientanda de Maria-Engler e bolsista da FAPESP, aponta que, na busca por determinar o potencial cosmético do jucá, a pesquisa indicou um elevado potencial clareador e antienvelhecimento. “O jucá apresentou resultados excelentes in vitro”, disse.

Ao analisar os efeitos da aplicação do extrato de jucá em células humanas in vitro, os pesquisadores perceberam o papel importante de um ácido específico. “No artigo, verificamos a presença de 18 agentes metabólicos presentes no jucá e, na literatura, verificamos que a maior ação antioxidante se dá por conta do ácido gálico”, disse Pedrosa.

O ácido gálico age sobre enzimas (tirosinase e colagenase) que atuam no envelhecimento e degradam o colágeno, o que, com o tempo, deixa a pele flácida, com rugas e com manchas.

O processo de envelhecimento da pele é consequência da incapacidade progressiva do sistema de defesa antioxidante em deter os efeitos danosos da ação oxidante nos tecidos. As consequências são a perda de elasticidade, a progressiva flacidez dos tecidos, o aparecimento de rugas e o surgimento de manchas na pele.

A exposição excessiva aos raios solares, à poluição ambiental e hábitos como o tabagismo aceleram o processo, por meio da produção na pele de enzimas como a elastase e a colagenase, responsáveis pela degradação dos principais componentes da matriz extracelular cutânea: a elastina e o colágeno.

O estudo também demonstrou a presença de epicatecina e catecina nos extratos. Trata-se de dois polifenóis com ação reconhecidamente inibidora da tirosinase.

Os pesquisadores observaram no extrato de jucá uma ação importante e segura, tanto clareadora como despigmentante. “Ele tem grande potencial e poderá vir a ser usado em cremes com ação antienvelhecimento”, disse Maria-Engler.

O jucá é uma árvore nativa do Brasil, amplamente distribuída nas regiões Norte e Nordeste. As amostras utilizadas no estudo foram fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e identificadas no herbário da instituição.

Patente

Um dos alvos prioritários da indústria de cosméticos é descobrir ou desenvolver novos antioxidantes. Uma vantagem no uso de produtos naturais reside na sua eficácia e segurança com relação aos antioxidantes sintéticos.

Ainda não existe pedido de patente sobre os compostos antioxidantes encontrados no jucá. Isso porque a condição necessária para patentear é isolar os princípios ativos responsáveis pela nova terapia. “Esse é o próximo passo da pesquisa. Apenas quando obtivermos essas substâncias isoladas é que será possível requerer uma patente”, disse Pedrosa.

A pesquisa foi realizada no laboratório dirigido por Maria-Engler, especializado no cultivo de pele artificial. “A FAPESP é responsável por 90% das verbas para a montagem do laboratório, incluindo cromatógrafo e espectrômetro que usamos no estudo”, disse a professora.

O estudo também teve apoio da Capes por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica.

O artigo Anti-wrinkle and anti-whitening effects of jucá (Libidibia ferrea Mart.) extracts (doi: 10.1007/s00403-016-1685-0), publicado no Archives of Dermatological Research (308 (9): 643-654), pode ser lido em http://link.springer.com/article/10.1007/s00403-016-1685-0.

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Laranja pode tornar-se geneticamente resistente a pragas agrícolas

Pesquisadores do INCT Citros pretendem transferir para a fruta genes de tangerinas e outros citros relacionados à tolerância a doenças (Foto: Wikimedia Commons)

10 de novembro de 2016

Elton Alisson | Agência FAPESP – Uma das frutas mais consumidas no Brasil e no mundo, a laranja pode tornar-se geneticamente mais tolerante a doenças.

Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Genômica para o Melhoramento de Citros (INCT Citros) – um dos INCTs apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Estado de São Paulo – pretende transferir para a laranja genes de tangerinas e de outros citros relacionados à resistência a doenças.

Resultado do Projeto Temático “Plataforma genômica aplicada ao melhoramento de citros”, apoiado pela FAPESP por meio de um convênio com o CNPq para o apoio a INCTs no Estado de São Paulo –, o estudo foi apresentado durante o evento “Do básico ao aplicado: apoio da FAPESP na pesquisa em citricultura”, realizado no dia 3 de novembro, no auditório da Fundação.

“Já conseguimos caracterizar vários genes candidatos à resistência a doenças de tangerinas e outros citros e agora estamos tentando transferi-los para a laranja a fim de tentar desenvolver uma planta que seja modificada, mas não transgênica, por meio de técnicas como a cisgenia [transferência de genes de espécies de um mesmo grupo de organismos que se cruzam na natureza]”, disse Marcos Antônio Machado, diretor do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, do Instituto Agronômico (IAC), onde está sediado o INCT Citros, à Agência FAPESP.

“Solicitaremos licenciamento para a CTNBio [Comissão Técnica Nacional de Biossegurança] para fazer avaliações experimentais”, afirmou.

De acordo com o pesquisador, a identificação de genes-alvo para aumentar a resistência da laranja a pragas agrícolas foi possível por meio do sequenciamento do genoma de referência de citros.

Concluído em 2014 por um consórcio internacional de pesquisadores dos Estados Unidos, França, Espanha, Itália e Brasil, representado por pesquisadores do IAC e da Embrapa, o projeto foi iniciado em 2003, quatro anos após o sequenciamento do genoma da Xylella fastidiosa – bactéria causadora da doença clorose variegada dos citros (CVC) ou “amarelinho”, que ataca a laranja.

A fim de superar o desafio de sequenciar o genoma da laranja doce (Citrus sinensis L. Osb) – que é extremamente complexo por ser altamente heterozigoto (os alelos de um ou mais genes são diferentes) e com alta frequência de sequências repetidas, o que dificulta sua montagem – os pesquisadores do consórcio optaram por sequenciar um genoma menos complexo e que pudesse ser usado como genoma de referência, ao qual fossem alinhados todos os genomas de citros.

O escolhido foi o genoma da clementina – uma fruta resultante do cruzamento da laranja com a tangerina, que é a base da citricultura espanhola e é haploide (tem metade da carga genética original).

Concluído o sequenciamento do genoma da clementina, os pesquisadores sequenciaram o genoma de mais nove espécies de citros candidatas a parentes da laranja doce para ampliar a base de comparação dentro do grupo e verificar como uma espécie originou outra ao longo da evolução.

Dentre as espécies de citros analisadas foram incluídas a laranja doce Pineapple – uma variedade altamente produtiva, comparada à laranja Pera e extensivamente utilizada na Flórida (Estados Unidos), de onde é originária –, a clementina diploide, a tangerina Ponkan (C. reticulata), mexerica do Rio (C. deliciosa tenore), tangor W. Murcott, laranja azeda Seville, laranja doce Washington Navel, toranja Chandler e toranja Siamesa de baixa acidez.

As análises da comparação dos genomas revelaram que a laranja doce (Citrus sinensis L. Osb) – que é a principal espécie de citros no mundo – não é uma espécie pura.

Seus progenitores são, preponderantemente, toranja (C. máxima) e tangerina Ponkan (C. reticulata), além de outra espécie desconhecida de citro. Leia mais em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2014/06/08/identidade-das-frutas-citricas/

“O genoma de referência de citros tem nos ajudado muito a entender porque a tangerina é resistente à CVC e porque alguns grupos parentes de citros são resistentes a quase todas as doenças que atacam essas culturas”, disse Machado.

“Essas variedades de citros podem ser fontes interessantes de genes que podem aumentar a tolerância e resistência a pragas e doenças”, avaliou.

Resistência a doenças

Segundo o pesquisador, graças ao trabalho de produção de mudas em ambiente protegido, iniciado em 1990 por incentivo do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”, somado ao controle de cigarrinhas e a erradicação de pomares velhos, a CVC hoje é uma doença bastante controlada nos laranjais paulistas (Leia mais em: agencia.fapesp.br/23581/).

Hoje as doenças que mais ameaçam a produção de laranja no Estado, de acordo com ele, são o greening ou Huanglongbing (HLB), a morte súbita e a pinta preta.

A fim de auxiliar o setor a combater essas doenças, os pesquisadores do Centro têm adotado diferentes abordagens, que incluem o desenvolvimento de variedades de citros mais tolerantes a doenças por melhoramento clássico, biologia molecular, novas estratégias epidemiológicas e práticas de manejo.

Por meio de outro Projeto Temático, também apoiado pela FAPESP, por exemplo, os pesquisadores estão desenvolvendo novas variedades e híbridos de copas e porta-enxertos de citros – resultado do cruzamento de variedades de laranja com tangerina, mexerica ou limão – mais tolerantes à seca e resistentes a doenças.

Os materiais estão em processo de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e passarão nos próximos meses por um teste em campo.

“Temos um programa, chamado ‘Citricultura Nota 10’, em que fornecemos materiais para os produtores testá-los no campo e, dessa forma, conseguimos avaliar os resultados em termos de produção e qualidade da fruta”, disse Machado.

“A vantagem para o produtor é ter acesso a materiais novos e a preferência para usá-los”, avaliou.

Já por meio do Projeto Genoma da Xylella fastidiosa, também apoiado pela FAPESP, os pesquisadores do Centro desvendaram alguns dos mecanismos da patogenicidade da bactéria causadora do CVC.

A descoberta resultou no desenvolvimento de um novo mecanismo de controle da doença baseado no uso da molécula N-acetilcisteína (NAC), usada hoje na medicina humana para combater infecções crônicas, que foi licenciado pela empresa CiaCamp.

Por meio de um projeto apoiado pelo programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da FAPESP, a startup fundada por uma pesquisadora que realizou pós-doutorado no Centro de Citricultura Sylvio Moreira está desenvolvendo dois produtos à base da molécula e realizando testes em campo para avaliar sua eficácia no combate a doenças que atacam citros.

“Estamos realizando testes com um biofertilizante e uma solução para pulverização à base da molécula tanto em plantas doentes, com CVC, cancro cítrico e greening, além de plantas sadias, e os resultados têm sido bastante promissores”, disse Simone Picchi, diretora da empresa, durante o evento.

“Tanto as plantas doentes, com CVC, e as sadias tratadas com biofertilizante apresentaram maior diâmetro de frutos”, afirmou a pesquisadora.

Também participaram do evento Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação, Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura do Estado de São Paulo, Orlando Mello de Castro, coordenador da Agência Paulista de Tecnologia Agropecuária (Apta), e Sérgio Augusto Morais Carbonell, diretor do IAC.

O evento também contou com a participação de representantes da Associação de Produtores de Citros de Mesa e das empresas Givaudan, Citograf Mudas e Citrosuco. 

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Campos cultivados perdem diversidade na Alemanha

6 de dezembro de 2016

Maria Guimarães | Pesquisa FAPESP – Na queda de braço entre agropecuária e conservação, um enigma é encontrar a medida de quanto se pode alterar um ambiente natural sem destruir suas propriedades ecológicas. A resposta pode ser desanimadora para muitos: uma intensificação de uso da terra entre pequena e moderada já é suficiente para derrubar a diversidade de um ecossistema.

Pelo menos em campos na Alemanha, segundo indica um grupo liderado pelo ecólogo alemão Wolfgang Weisser, da Universidade Técnica de Munique (TUM), em artigo publicado no site da revista Nature em 30 de novembro. “Temos que superar essa guerra crônica”, afirma o ecólogo brasileiro Thomas Lewinsohn, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coautor do estudo junto com Leonardo Ré Jorge, em estágio de pós-doutorado em seu laboratório. “Não há que optar entre produção e conservação, os dois são igualmente desejáveis e necessários.” Essa conjunção se chama sustentabilidade, ele lembra.

O estudo foi feito em três regiões da Alemanha, em cada uma das quais foram estudadas, ao longo dos últimos 10 anos, 50 áreas de campo usadas para pastagem. Classificadas conforme o manejo e a intensidade do uso, parâmetros que levam em conta a densidade de gado (vacas ou ovelhas) no pasto, a frequência e a intensidade de fertilização e o corte regular do pasto para rebrota, essas áreas foram avaliadas quanto à abundância de uma diversidade de organismos de todos os tipos: 4 mil espécies que incluem plantas, animais, fungos, bactérias, habitantes do subsolo, da superfície ou do ar.

Lewinsohn e Jorge contribuíram para a análise dos dados, que inclui modelos ecológicos complexos nos quais o professor da Unicamp é especialista (ver Pesquisa FAPESP nº 248). Os resultados indicam que o uso intensivo da terra leva à perda das espécies mais raras em todas as áreas. Os campos retêm os organismos mais generalistas, com hábitos muito variados, por isso disseminados.

O resultado é uma região empobrecida, com biodiversidade uniforme e reduzida – menor diversidade-β, no jargão da área. “Não basta ter algumas áreas menos usadas ou ilhas preservadas”, explica Lewinsohn. “Haverá perda de biodiversidade.” Isso vale tanto para os organismos acima do solo como os subterrâneos. Estes podem parecer insignificantes, mas têm efeitos importantes para as plantas. Um exemplo são as micorrizas, fungos associados às raízes de alguns tipos de plantas que ajudam na fixação de nutrientes do solo, como nitrogênio.

O que ainda não é possível saber é se os níveis de uso que permitiriam a manutenção do ecossistema seriam economicamente viáveis. “Na Europa a agropecuária recebe muito subsídio, o que dificulta essas contas”, diz o brasileiro. Também resta investigar se os resultados valem para outros tipos de ecossistemas ou para ambientes semelhantes em outros países.

O Brasil, por exemplo, é rico em ecossistemas campestres, que muitas vezes são usados como pastos em várias regiões: no Pantanal, nas áreas originárias de Cerrado no Sudeste, no Pampa, em áreas de altitude (ver Pesquisa FAPESP nº 239), mas não há estudos do porte do conduzido pelos alemães. “É urgentemente necessário fazer experimentos desse tipo no Brasil, estudando o espectro biológico de maneira ampla, intensiva e no longo prazo”, defende Lewinsohn.

Não por acaso, o pesquisador estava em Munique no momento da publicação do artigo na Nature. Tinha ido receber o título de “Embaixador da TUM” em solenidade realizada no dia 27 de novembro. Ele e mais oito pesquisadores de vários países, incluindo o engenheiro Edson Bim, também da Unicamp, foram selecionados como reconhecimento aos colaboradores que contribuíram de forma excepcional para o avanço da pesquisa e da inovação realizadas pela universidade.

A solenidade incluiu um concerto para o qual é necessário sortear convites, tal a demanda, como parte de três dias em que aconteceram reuniões com o reitor (em almoço com direito a salsichão e cerveja), vice-reitores e conversas com jovens pesquisadores. Sendo um embaixador, Lewinsohn já tem ingresso garantido para outro concerto disputado: o que comemorará os 150 anos da TUM em 2018, no estádio olímpico da cidade.

O artigo Land-use intensification causes multitrophic homogenization of grassland communities, de Gossner, M.M e outros, publicado na Nature on-line, de 30 novembro de 2016, pode ser acessado em http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/full/nature20575.html

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Proteína isolada da levedura do pão mostra potencial contra células de leucemia

16 de dezembro de 2016

Karina Toledo | Agência FAPESP – Uma enzima identificada em leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae ¬– também conhecida como levedura do pão – apresentou em testes in vitro potencial para matar seletivamente células de leucemia linfoide aguda (LLA).

Caracterizada por alterações malignas nas células-tronco que dão origem aos componentes do sangue, existentes na medula óssea, a LLA é o tipo de câncer mais comum durante a infância.

Resultados da pesquisa, realizada com apoio da FAPESP, foram descritos por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, campus do Litoral Paulista (IB-CLP-Unesp), em artigo publicado na revista Scientific Reports.

“Nós caracterizamos neste trabalho a enzima L-asparaginase de S. cerevisiae. Os resultados indicam que essa proteína é capaz de aniquilar eficientemente células leucêmicas, com baixa citotoxicidade sobre células sadias”, disse Gisele Monteiro, professora da FCF-USP e coordenadora do estudo publicado.

Como explicou a pesquisadora, em determinadas neoplasias, entre elas a LLA, as células tumorais apresentam deficiência na produção de uma enzima chamada asparagina sintetase. Como resultado, não são capazes de sintetizar um aminoácido chamado asparagina.

“Esse tipo de célula depende de fontes extracelulares de asparagina, aminoácido fundamental para a síntese de proteínas e, consequentemente, de DNA e RNA. É, portanto, essencial para a divisão celular. Mas a enzima asparaginase depleta esse aminoácido do meio extracelular, convertendo-o em aspartato e amônia. Em pacientes com LLA isso resulta em uma queda acentuada nos níveis séricos de asparagina, o que compromete a síntese de proteínas nas células malignas e induz apoptose [uma espécie de suicídio celular]”, explicou Monteiro.

De acordo com a pesquisadora, desde a década de 1970 tem sido usada no tratamento de LLA uma enzima muito semelhante à L-asparaginase descrita no estudo, porém extraída da bactéria Escherichia coli. Em conjunto com outros medicamentos, a terapia com a enzima bacteriana pode alcançar uma taxa de remissão de até 80%. No entanto, cerca de 25% dos pacientes apresentam reações imunológicas ao tratamento, que vão de leves alergias até choque anafilático, ficando impossibilitados de usar o biofármaco.

Como alternativa, existem no mercado internacional dois outros medicamentos da mesma classe. Um deles é o PEG-asparaginase – uma versão da asparaginase de E. coli modificada quimicamente para esconder sítios imunogênicos da molécula e aumentar o tempo de atividade no organismo. Isso permite uma redução na dose terapêutica e, consequentemente, nos efeitos adversos. O outro fármaco similar é conhecido como Erwinase, que é a mesma enzima asparaginase, porém extraída da bactéria Erwinia chrysanthemi.

“Em razão de patentes da indústria farmacêutica, o custo desses dois fármacos alternativos pode ser entre 15 e 60 vezes maior que o da asparaginase de E. coli nativa, que, aliás, é a única aprovada para comercialização no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, disse Adalberto Pessoa Junior, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.

Outro fator restringe ainda mais as opções terapêuticas para os portadores brasileiros de LLA: a única empresa que fabricava a asparaginase de E. coli no país descontinuou a produção em 2013.

Diante da crise no abastecimento do biofármaco, diversos cientistas brasileiros, de diferentes universidades, iniciaram projetos com o intuito de identificar novas fontes da enzima. Nesse contexto teve início o Projeto Temático “Produção de L-asparaginase extracelular: da bioprospecção à engenharia de um biofármaco antileucêmico”, coordenado por Pessoa Junior. Além de Monteiro, também é pesquisador principal o professor Marcos Antonio de Oliveira do IB-CLP-Unesp.

“Nosso objetivo neste projeto não foi simplesmente produzir a enzima, mas buscar em microrganismos uma nova fonte deste fármaco, visando a aplicação também nos casos em que os pacientes desenvolvem resistência à enzima bacteriana”, contou Oliveira.

Para isso, os pesquisadores isolaram fungos oriundos de diversos ambientes brasileiros, como Cerrado e Caatinga, além do ambiente marinho e terrestre da Antártica. Segundo Oliveira, esses organismos, muitas vezes, secretam asparaginases para o meio extracelular quando há uma carência de nitrogênio. “Isso torna mais barata a purificação da molécula para a produção de fármacos – o que é importante do ponto de vista industrial”, explicou.

O grupo também usou ferramentas de bioinformática para avaliar bancos de dados internacionais com informações sobre o genoma de diversos microrganismos. Dessa forma, foi identificado no genoma da S. cerevisiae um gene responsável por produzir uma enzima muito semelhante àquela encontrada na E. coli e na E. chrysanthemi, porém com algumas vantagens.

Segundo Iris Munhoz Costa, primeira autora do estudo, como a levedura é um organismo eucarioto (suas células têm núcleo bem definido, onde fica armazenado o material genético), assemelha-se mais ao organismo humano do que as bactérias. Por esse motivo acredita-se que a L-asparaginase induza uma resposta imune mais branda que as enzimas bacterianas.

O gene da L-asparaginase foi então clonado e, por meio de engenharia genética, os pesquisadores conseguiram fazer a bactéria E. coli expressar a enzima encontrada originalmente na levedura em grandes quantidades.

“Conseguimos obter a proteína recombinante e realizamos estudos para caracterizar sua estrutura secundária e identificar regiões importantes da enzima, os sítios catalíticos. Em seguida, avaliamos sua eficácia in vitro”, disse Costa.

A enzima foi testada em três diferentes linhagens celulares: uma tumoral incapaz de produzir asparagina em níveis normais (MOLT4); outra também maligna, mas capaz de produzir asparagina normalmente (REH); e uma terceira linhagem não maligna (HUVEC), que serviu como controle.

Essas três diferentes linhagens foram subdivididas em dois grupos: um tratado com a enzima comercial de E. coli e outro com a L-asparaginase de levedura.

“A enzima de bactéria matou cerca de 90% das células tumorais da linhagem MOLT4 e apresentou baixa toxicidade para a linhagem normal (HUVEC), matando apenas 10%. Já a enzima de levedura matou entre 70% e 80% das MOLT4 e apresentou uma toxicidade menor que 10% para as células HUVEC. Já na linhagem REH, a eficiência de ambas as enzimas não foi significativa”, relatou Monteiro.

Na avaliação da pesquisadora, os resultados são animadores – bem diferentes de estudos feitos com a mesma enzima na década de 1970. Naquela época, foi testada uma versão da proteína extraída diretamente da levedura, com muitas impurezas.

Boa parte do trabalho descrito no artigo foi feita durante o mestrado de Costa, com Bolsa da FAPESP e orientação de Monteiro.

Colaborou com as análises estruturais da proteína o doutorando Leonardo Schultz da Silva, bolsista (http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/157503/caracterizacao-funcional-estrutural-e-modificacao-racional-da-aspasem-um-novo-farmaco-para-o-trata/) FAPESP e orientando de Oliveira.

O próximo passo do grupo é realizar novos testes in vitro com diferentes tipos de células para avaliar a resposta imune e a toxicidade. Caso os resultados sejam positivos, poderão ser feitos os primeiros testes em animais. O grupo estuda ainda possíveis modificações que possam ser feitas na estrutura da molécula para aumentar a atividade antitumoral e a meia-vida da enzima no organismo.

Além de LLA, a asparaginase também é usada no tratamento de outras neoplasias mais raras, como linfossarcoma, doenças de Hodgkin’s, leucemia linfocítica crônica, reticulossarcoma e melanossarcoma.

O artigo “Recombinant L-asparaginase 1 from Saccharomyces cerevisiae: an allosteric enzyme with antineoplastic activity” (DOI: 10.1038/srep36239) pode ser lido em: http://www.nature.com/articles/srep36239.
Pesquisadores da USP e da Unesp testaram in vitro o efeito da enzima L-asparaginase, identificadas em leveduras das espécie Saccharomyces cerevisiae, em células de leucemia linfoide aguda (Imagem: Saccharomyces cerevisiae/Wikimedia Commons)

Link:

Microbial biodiversity in the environment can alter human health

Date: December 14, 2016

Source: American Institute of Biological Sciences

Summary:
The science of human microbiomes is advancing at an incredible pace. With each passing day, more is known about the vast suite of microorganisms that inhabit human bodies--and about the important role that they play in maintaining our health. New work looks at the human microbiome from an environmentalist's perspective.

The science of human microbiomes is advancing at an incredible pace. With each passing day, more is known about the vast suite of microorganisms that inhabit human bodies -- and about the important role that they play in maintaining our health. In this episode of BioScience Talks, we look at the human microbiome from an environmentalist's perspective. What are the health benefits of microbiota from environmental sources? What are the threats of altered microbiota? How should we manage the landscapes that play host to this crucial microbial diversity? To help answer these questions, we spoke with Craig Liddicoat of the University of Adelaide and the South Australian government's Department of Environment, Water and Natural Resources. Liddicoat and his colleagues recently published an article in BioScience that shines a light on the myriad benefits of preserving environmental microbiomes and proposes a unifying conceptual framework for the multidisciplinary approach needed to tackle this emerging research area.

To hear the whole discussion, visit this link for this latest episode of the Bioscience Talks podcast: http://bioscienceaibs.libsyn.com/episode-19-microbial-biodiversity-in-the-environment-can-alter-human-health

Story Source:

Materials provided by American Institute of Biological Sciences. Note: Content may be edited for style and length.

Journal Reference:
Craig Liddicoat, Michelle Waycott, Philip Weinstein. Environmental Change and Human Health: Can Environmental Proxies Inform the Biodiversity Hypothesis for Protective Microbial–Human Contact?BioScience, 2016; 66 (12): 1023 DOI: 10.1093/biosci/biw127

Cite This Page:
American Institute of Biological Sciences. "Microbial biodiversity in the environment can alter human health." ScienceDaily. ScienceDaily, 14 December 2016. <www.sciencedaily.com/releases/2016/12/161214115108.htm>.

Couch potatoes take note: If you want to stick to an exercise plan, try high-intensity workouts

Date: December 15, 2016

Source: McMaster University

Summary:
High-intensity interval training (HIT) is more enjoyable than moderate exercise, a team of kinesiologists has found. It’s the first study to examine changes in enjoyment for HIT workouts versus moderate continuous training, over the first six weeks of an exercise program.

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Organizações assinam nota de repúdio ao substitutivo da nova lei geral do licenciamento ambiental

Por Djhuliana Munde, ICV

Organizações da sociedade civil e entidades de classe divulgaram ontem (13) uma nota de repúdio ao substitutivo do deputado Mauro Pereira (PMDB/RS) ao Projeto de Lei n.º 3.729/2004, que pretende estabelecer a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental.

O substitutivo foi apresentado em setembro deste ano e não foi objeto de nenhum debate, audiência pública, sessão deliberativa ou qualquer outra forma de apreciação e aprofundamento por parte dos Deputados Federais ou da sociedade. As organizações que assinam a nota alegam que é fundamental que haja um amplo debate nacional sobre o tema.

“O substitutivo apresentado pelo Deputado Federal Mauro Pereira figura, entre os textos em tramitação, como aquele que pretende impor os mais graves retrocessos à legislação atualmente em vigor, além do notável baixo nível de técnica legislativa, o que prejudica a interpretação dos dispositivos, podendo gerar insegurança jurídica e ampliação de ações judiciais”, diz trecho da nota. Entre os exemplos de retrocessos incluídos no texto estão a dispensa de licenciamento para atividades poluidoras específicas, criação de licenciamento auto declaratório e permissão aos Estados e Municípios para flexibilizar exigências ambientais sem qualquer critério.

Diante disso, as organizações repudiam qualquer tentativa de aprovação do substitutivo ao Projeto de Lei n.º 3.729/2004 apresentado pelo deputado Mauro Pereira, principalmente sem que sejam realizados debates amplos, mediante audiências públicas, com a participação de diversos especialistas de diferentes setores da sociedade em relação aos complexos temas envolvidos na matéria.

Veja a nota de repúdio aqui.

in EcoDebate, 14/12/2016

Comunidade científica considera a aprovação da pec 55 um retrocesso para o desenvolvimento do país

Por Daniela Klebis e Viviane Monteiro – Jornal da Ciência/SBPC

Presidente da SBPC, Helena Nader, diz lamentar que governo brasileiro insista em tratar educação, saúde, ciência, tecnologia e inovação como gastos: “Cada real colocado nessas áreas, retorna de forma fantástica no desenvolvimento econômico e social do País”

Dirigentes de educação e ciência, tecnologia e inovação avaliam que a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 55, que corrige o orçamento da União pela inflação congelando os recursos por duas décadas, representa “um profundo” retrocesso para a educação, a saúde, e a CT&I.

“Novamente, o Parlamento brasileiro virou as costas para o povo brasileiro”, lamenta a presidente da SBPC, Helena Nader. Segundo ela, é uma vergonha que o governo brasileiro insista em tratar educação, saúde, ciência, tecnologia e inovação como gastos. “Qualquer país com democracia verdadeira sabe que se trata de investimento. Cada real colocado nessas áreas retorna de forma fantástica no desenvolvimento econômico e social do País. Na minha visão pessoal, de cidadã brasileira, é uma vergonha ter sido aprovada essa PEC do retrocesso para as áreas de saúde, CT&I e educação”, afirma.

A chamada PEC dos Gastos, que institui um novo regime fiscal do País, foi aprovada, no segundo turno, por volta de 13h30 desta terça-feira (13), no plenário do Senado Federal, com 53 votos a favor e 16 contrários. A medida será promulgada pela Presidência do Senado Federal na quinta-feira (15), em sessão solene do Congresso Nacional, às 9 horas. A oposição apresentou destaque para deixar de fora dos impactos da PEC os orçamentos em saúde e educação, mas a decisão foi rejeitada por 52 votos, contra 19 a favor. O teto do gasto durará pelo menos dez anos.

Para a presidente do Conselho de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti), Francilene Garcia, a implementação da PEC nº 55 tende a limitar o crescimento competitivo do País e que, provavelmente, fará com que o Brasil recue em vários avanços, obtidos nas últimas duas décadas, na infraestrutura de CT&I e nas contribuições que a ciência vem dando em várias áreas. Para Garcia, a PEC deve comprometer ainda a perspectiva de futuro de uma juventude que precisa “ser posicionada a tempo”.

Na observação de Garcia, ainda não está claro em que patamar o orçamento da área de CT&I, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), será corrigido pela inflação pelos próximos 20 anos, até porque a verba da área apresenta contingenciamentos consideráveis todos os anos, principalmente a do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Garcia lembrou que na reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), realizada em 10 de novembro, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, afirmou que seriam encaminhados à área de CT&I R$ 1, 5 bilhão dos recursos repatriados do exterior.

Pela proposta de lei orçamentária (PLOA), aprovado na Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização, na quinta-feira, 08, de dezembro (disponível aqui), o orçamento FNDCT para o próximo ano é de R$ 2,698 bilhões, um acréscimo de 1,31% sobre o valor autorizado de R$ 2,663 bilhões em 2016. Trata-se do menor valor desde 2013, quando o montante autorizado somou R$ 3,758 bilhões.

in EcoDebate, 15/12/2016

Fragmentação e degradação de habitats reduz a diversidade de insetos polinizadores

Fragmentação e degradação de habitats reduz a diversidade de insetos polinizadores. Entrevista especial com Cássio Alencar Nunes

IHU

Apesar de a “crise de polinizadores” no Brasil ainda não ser comparável à situação desses insetos nos EUA e na Europa, “é preocupante que, ao longo de todo o país, adotemos práticas que são extremamente perigosas para esses insetos e que foram apontadas globalmente como as principais causas das crises de polinizadores”, adverte o biólogo Cássio Alencar Nunes, na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, embora os estudos sobre a diminuição de insetos polinizadores ainda sejam “incipientes” no Brasil, as pesquisas realizadas até o momento já evidenciam a diminuição de colmeias em estados como Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia.

Entre os fatores que têm contribuído para a redução dos insetos polinizadores, Nunes explica que a “fragmentação e degradação de habitats nativos e mudanças no uso do solo” e o uso de agrotóxicos têm reduzido “consideravelmente a diversidade e abundância de insetos polinizadores”. E aconselha: “Ainda temos tempo para agir antes desse desastre ocorrer no nosso país. A tendência atual de desmatamento e degradação dos habitats nativos e uso indiscriminado de agrotóxicos nos leva a pensar que, além de possível, essa crise de polinizadores é potencial! Mas, se agirmos rápido e com planejamentos a longo prazo, podemos evitá-la”.

Cássio Alencar Nunes é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre pela UFMG. Atualmente é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aplicada da Universidade Federal de Lavras – UFLA.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – É possível identificar quais as causas relacionadas à diminuição da população de abelhas e insetos polinizadores no país?
Alguns estudos já mostraram que em alguns locais no Brasil a fragmentação dos habitats reduz consideravelmente a diversidade e abundância de insetos polinizadores

Cássio Alencar Nunes – No Brasil, ainda são incipientes os estudos que comprovam a diminuição de insetos polinizadores de maneira que não local. Entretanto, é preocupante que, ao longo de todo o país, adotemos práticas que são extremamente perigosas para esses insetos e que foram apontadas globalmente como as principais causas das crises de polinizadores. Uma dessas práticas é a fragmentação e degradação de habitats nativos e mudanças no uso do solo. Alguns estudos já mostraram que em alguns locais no Brasil a fragmentação dos habitats reduz consideravelmente a diversidade e abundância de insetos polinizadores.

O nosso código florestal, que é a legislação que protege os habitats nativos no Brasil, foi recentemente alterado apesar das inúmeras advertências dos cientistas. Uma mudança que pode ser muito prejudicial, por exemplo, é a redução de 58% da necessidade de restauração de habitats nativos (de 50 para 21 milhões de hectares). A outra prática é o uso indiscriminado de agrotóxicos. O Brasil é o número um do mundo em consumo de agrotóxicos, o que chega a ser assustador. No meio dos agrotóxicos usados existem alguns que foram banidos em diversas partes do mundo, justamente por ter sido comprovado que estes causavam alterações significativas nas comunidades de abelhas.

IHU On-Line – Em quais regiões do Brasil já se evidencia uma diminuição da população de abelhas e insetos polinizadores?

Cássio Alencar Nunes – Existem alguns casos isolados já relatados ou estudados em algumas regiões do Brasil, nos estados de Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia. Ainda é preciso que mais estudos sejam feitos em todo o território nacional com o intuito de monitorar as populações e comunidades de insetos polinizadores para saber se e onde exatamente estão ocorrendo os declínios.

IHU On-Line – Quais são as consequências da diminuição dessas populações para a agricultura e para o meio ambiente em geral?
Para o meio ambiente, a diminuição da polinização vai levar diretamente à diminuição da fertilidade das plantas que dependem desses agentes

Cássio Alencar Nunes – Como esses insetos desempenham uma função ecossistêmica muito importante como é a polinização, a perda de espécies e diminuição das populações pode levar a uma série de problemas. Para o meio ambiente, a diminuição da polinização vai levar diretamente à diminuição da fertilidade das plantas que dependem desses agentes e indiretamente a uma cascata de efeitos para os organismos que dependem de alguma maneira das plantas afetadas. Assim, a perda ou diminuição dos insetos polinizadores leva a um desequilíbrio do ecossistema.

Para a agricultura, os efeitos diretos são semelhantes, ou seja, as culturas que dependem de polinizadores para produzir frutos, sementes e grãos terão a produtividade reduzida, o que indiretamente irá afetar a economia que gira em torno da agricultura. Especificamente falando de abelhas, a diminuição das populações afeta diretamente também a indústria de apicultura, diminuindo a produção de mel, própolis e outros produtos derivados.

IHU On-Line – Quais são os tipos de cultivos que mais dependem da polinização das abelhas e dos insetos polinizadores?

Cássio Alencar Nunes – As culturas que são mais dependentes são as de frutos em geral e algumas sementes. No Brasil, as culturas que mais dependem essencialmente do serviço de polinização são as de cacau, melão, maracujá, melancia. Outras culturas que também dependem em um alto grau dos polinizadores são maçã, abacate, café, guaraná, goiaba, pêssego, pera e tomate.
Ciclo da polinização (Ilustração: PUCRS)

IHU On-Line – Qual é a importância das áreas de mata nativa para a sobrevivência dos insetos polinizadores?

Cássio Alencar Nunes – As áreas de habitat nativo (dizemos habitat, porque pode não ser uma mata e sim um campo nativo ou um cerrado) podem atuar como fonte de alimento (pólen e néctar) para os agentes polinizadores, principalmente nos períodos entre safras. Além disso, os habitats nativos fornecem áreas para descanso, refúgio e reprodução dos polinizadores.

IHU On-Line – O que poderia ser feito para evitar a diminuição dos insetos polinizadores?

Cássio Alencar Nunes – Num artigo recente, nós discutimos três estratégias principais para evitar a crise de polinizadores no Brasil; todas de longo prazo. A primeira e mais importante é a manutenção de uma certa quantidade de habitat nativo na paisagem agrícola. As áreas nativas são fontes de abrigo e alimento para grande parte dos polinizadores que são úteis para a cultura agrícola. A segunda medida seria a redução ou o uso menos indiscriminado de agrotóxicos, já que estes químicos têm grande potencial de reduzir a diversidade, abundância e eficiência de insetos polinizadores, além de poluir os ecossistemas. Neste caso dos agrotóxicos, a pesquisa sobre químicos que sejam eficientes contra as pragas específicas e que não afetem a comunidade biológica como um todo, é uma boa ideia também. A terceira estratégia é a de monitorar continuamente as comunidades de polinizadores ao longo de todo o território nacional com métodos padronizados.

IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?

Cássio Alencar Nunes – Apenas dizer que a crise de polinizadores ainda não é forte no Brasil como é na Europa e nos EUA, então ainda temos tempo para agir antes desse desastre ocorrer no nosso país. A tendência atual de desmatamento e degradação dos habitats nativos e uso indiscriminado de agrotóxicos nos leva a pensar que, além de possível, essa crise de polinizadores é potencial! Mas, se agirmos rápido e com planejamentos a longo prazo, podemos evitá-la.

(EcoDebate, 15/12/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

Chocolate and Stroke Risk

Egg Industry Response to Choline and TMAO

Plants With Aspirin Aspirations

Lei que permite pulverização de inseticida em áreas urbanas causa polêmica

Da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Um dos métodos usados para combater o mosquito Aedes aegypti, divide a opinião de especialistas da saúde e empresas de aviação agrícola
Lei sancionada em junho deste ano pelo presidente interino Michel Temer, tem causado polêmica entre técnicos da saúde e especialistas de empresa de aviação agrícola. De acordo com a Lei 13.301/2016, o uso de aviões de pulverização em áreas urbanas será permitido mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida: O inciso IV, do 3º parágrafo do artigo 1º da Lei 13.301-2016 incluiu, entre as medidas de controle do Aedes aegypti, a “permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida”.

Várias Comissões Intergestores Bipartite (CIB) nos estados – responsáveis pela Governança do Sistema Único de Saúde (SUS) e compostas pela Secretarias Estaduais e representantes das Secretarias Municipais de Saúde – reprovaram esta medida. Já se manifestaram neste sentido as CIB dos estados do Rio Grande do Sul, Ceará, Goiás, Espírito Santo e São Paulo.

Na opinião do assessor técnico do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Nereu Henrique Mansano, a utilização do método, além de ser um risco para o meio ambiente e saúde da população, é pouco eficaz no combate ao mosquito Aedes aegypti. Médico pediatra e mestre em Saúde Coletiva, Mansano explica que o mosquito em sua fase adulta vive predominantemente dentro dos domicílios. “A forma mais efetiva continua sendo a remoção mecânica dos criadouros. Além das medidas de acesso ao saneamento, como disponibilidade contínua de água tratada, coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos”, complementa.

Ainda segundo Mansano, os pareceres das áreas técnicas do Programa Nacional de Controle da Dengue e da Área de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde foram contrários à inclusão pelo Congresso do inciso que incluiu este tema à Medida Provisória que se transformou na Lei 13.301/2016 – que originalmente não incluía esta proposta.

“Com base nestes pareceres e pelos motivos citados, o CONASS e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), que respectivamente representam as Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, enviaram ao Ministério da Saúde solicitação de que este encaminhasse à Presidência da República orientação de veto ao inciso 4º do 3º parágrafo do artigo 1º da citada Lei. Apesar desta orientação o veto acabou não ocorrendo”, lamenta.

Já o engenheiro agrônomo e consultor em Tecnologia de Aplicação Aérea, Eduardo Araújo, apóia a aplicação de inseticida por aviões como método complementar em caso de emergência. “Acredito que a principal estratégia contra o mosquito, ainda é o controle larval, preventivo. Mas, se o controle falhar e a população de mosquitos adultos causar uma epidemia, o controle químico será inevitável”, ressalta. Araújo conta que a pulverização aérea atinge 500 quarteirões por hora de forma uniforme. “Esse método permite que o inseticida chegue às áreas de difícil acesso, como pátios dos fundos das casas, terrenos baldios murados, telhados, calhas e interrompa o ciclo da doença após algumas aplicações”, pontua.

O médico e professor da Universidade de Brasília (UnB), Pedro Tauil, concorda com o impedimento de aplicação aérea de inseticidas e afirma que os efeitos negativos da aplicação de inseticida irão surgir em longo prazo. “O método além de ineficaz, põe em risco o meio ambiente”, diz.

Em maio deste ano, o Conselho Nacional de Saúde, órgão de controle social do SUS, composto por representantes da sociedade civil (usuários), dos trabalhadores da saúde, prestadores e gestores, manifestou-se contrário à medida, mesmo em casos emergenciais, por meio de uma moção de repúdio. No texto, o Conselho alega que o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxicos no mundo. Diz ainda que, entre 2011 e 2015, foram notificados mais de 56 mil casos de intoxicação por agrotóxicos. Segundo a publicação, a população e o meio ambiente irão correr riscos se expostos a mais agrotóxicos.

Eduardo Araújo, informa que o produto, utilizado com equipamentos terrestres, nas mesmas doses e sem sequelas já é autorizado pelo Ministério da Saúde. “Refere-se apenas de substituir ou complementar o método de aplicação. Além disso, não se trata de nenhuma experimentação. A pulverização aérea é utilizada com êxito em outros países”, elucida.

A tecnologia, foi usada apenas uma vez no Brasil, em 1975, e de acordo com Araújo, obteve êxito. Ainda assim, defende a ideia, apoiado pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroagrícolas (Sindag), de começar um trabalho “piloto”, em área controlada, para avaliação e eventuais ajustes sob a coordenação e supervisão do Ministério da Saúde. “Respeitadas as doses, não têm qualquer impacto sobre a saúde da população. Mesmo assim, como no Brasil é uma tecnologia praticamente nova, defendo o trabalho piloto, antes de estendê-la, para as demais áreas afetadas. A partir deste trabalho, geraríamos um protocolo a ser seguido nas áreas de extensão”, salienta o engenheiro.

Mark Latham, diretor no distrito Manatee, na Flórida, Estados Unidos, diz que o controle do mosquito vetor depende muito de participação da sociedade. Ele conta que em seus 36 anos de experiência com controle de mosquitos, primeiro nas Ilhas Cayman, depois em Miami e os últimos 22 anos em Manatee, o Aedes aegypti sempre foi uma das espécies mais problemáticas. “Falta participação da sociedade em questões simples de saneamento. Foi uma das maiores frustrações que tive”, comenta.

De acordo com Mark, os métodos de aplicação, adulticídio aéreo e larvicídio aéreo, foram aprovados pelas agências reguladoras dos EUA há muito tempo, para uso rural e urbano, com análises de risco constantemente avaliadas. Ele enfatiza que a vigilância e a identificação de populações significativas de mosquitos são necessárias antes de medidas de controle tão drásticas. “Em muitos lugares, especialmente aqui na Flórida, onde o problema dos mosquitos é grande durante 6 meses do ano, o adulticídio aéreo é comum e normalmente tem foco em mosquitos-peste, ao invés de vetores de doenças”, observa.

Nas áreas em que o combate ao mosquito e aplicações aéreas não são comuns, os métodos são considerados controversos, segundo Latham. Ele conta que a população teme o uso de pesticidas em larga escala, devido às ações de ativistas anti-pesticida, sem verificação científica. “Eu jamais diria que os pesticidas utilizados para adulticídio de mosquitos são inofensivos, mas diria que o seu uso beira o risco mínimo, certamente menor do que o risco oferecido pelas doenças transmitidas durante uma epidemia” assinala.

Segundo ele, esses métodos são respaldados pela ciência e por uma longa história de uso seguro. “Nos locais onde são comumente usados, como é o caso da minha cidade, oferece um serviço público de melhoria da qualidade de vida por reduzir grandes populações de mosquitos-peste e vetores de doenças”, salienta. De acordo com Latham, seu distrito tem realizado pesquisas operacionais sobre outros métodos disponíveis para o controle do Aedes aegypti devido ao risco de dengue, chikungunya e Zika vindo de fora. “Estamos investigando métodos como ovitrampas letais, armadilhas de auto disseminação etc. Porém, nenhum se mostrou promissor ou eficaz o suficiente para pararmos nossas aplicações aéreas, que são tão eficazes”, informa.

No Brasil, autoridades de saúde também alegam que a pulverização aérea desrespeita a legislação. A Instrução Normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) diz que é proibida a aplicação aérea de agrotóxicos em áreas situadas à uma distância mínima de 500 metros de povoações, cidades, vilas, bairros, de mananciais de captação de água para abastecimento de população. Também proíbe a pulverização aérea a distância mínima de 250 metros de mananciais de água, moradias isoladas e agrupamentos.

Porém, Eduardo Araújo alega que o método não irá contrariar a legislação. “Não se trata de aplicação de agrotóxicos em áreas urbanas, mas sim de aplicação de inseticidas próprios para tal finalidade. São inseticidas enquadrados como saneantes, regulamentados pelo Ministério da Saúde”, argumenta. Para basear suas alegações, Araújo cita a portaria 190 /2001 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Nota Técnica 75/ 2007 do Ministério da Saúde, que embora faça uma série de restrições ao uso rotineiro da aplicação aérea, reconhece que seu emprego se justificaria em situações muito específicas, como no caso de graves surtos de doença.

“Finalmente tivemos a promulgação da Lei 13.301 / 2016 que inclui a aplicação aérea de inseticidas em áreas urbanas como um dos instrumentos para o controle de mosquitos, desde que comprovada sua eficácia e mediante aprovação das autoridades sanitárias. Como se vê, a aplicação aérea para tal finalidade é perfeitamente legal. Só depende da autorização do Ministério da Saúde”, finaliza.

in EcoDebate, 16/12/2016

Estudo da Fiocruz descobre que alterações em bebês provocadas por zika são mais variadas do que se pensava

AFN

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade da Califórnia (UCLA) descobriram que as anormalidades provocadas pelo vírus zika em bebês antes do nascimento são mais variadas e frequentes do que se acreditava. A maior pesquisa de coorte já realizada sobre zika registrou anormalidades em 46% das 125 gestações analisadas. Destas, 97 foram acompanhadas no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). O estudo sugere que os danos fetais provocados pelo vírus zika podem ocorrer ao longo de toda a gravidez e são muito mais variados do que apenas a microcefalia. Além disso, algumas anomalias só podem ser detectadas apenas semanas ou meses após o bebê ter nascido, segundo a chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e uma das autoras do estudo, Patrícia Brasil.

“Um bebê aparentemente normal pode apresentar algum tipo de anormalidade não detectada em exames usuais de rotina. É muito importante saber isso, porque, quanto mais precoce for o diagnóstico, mais oportunas e efetivas poderão ser as medidas de intervenção que assegurem o melhor desenvolvimento dessas crianças”, afirmou a pesquisadora, destacando que a concepção e a execução do estudo são frutos de colaboração estruturada e fortalecida entre os institutos da Fiocruz, com financiamento principal do Ministério da Saude do Brasil.

O novo estudo, publicado no New England Journal of Medicine http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1602412?query=featured_home, foi baseado em uma amostra maior de 345 mulheres do Rio de Janeiro, que foram inscritas de setembro de 2015 a maio de 2016. Destas mulheres, 182 (53%) tiveram resultado positivo no teste para zika no sangue, na urina ou em ambos. Além disso, foi descoberto que 42% das mulheres que não tiveram zika estavam infectadas com chikungunya e que 3% das mulheres com zika também foram infectadas por chikungunya.

Desta amostra inicial, os pesquisadores avaliaram 125 mulheres infectadas por zika e 61 não infectadas com o vírus que haviam dado à luz até julho de 2016. O estudo anterior foi baseado principalmente em descobertas pré-natais por meio de ultrassom; em contraste, a nova pesquisa avaliou bebês nascidos de gestações afetadas por zika usando exames físicos e ressonâncias cerebrais. Outra novidade diz respeito a possibilidade de diagnóstico da zika através do líquido amniótico.

Para o coautor do estudo e gerente da Área de Atenção Clínico-cirúrgica à Gestante do IFF, José Paulo Pereira Júnior, a nova pesquisa apontou que a microcefalia é apenas uma parte do espectro do que atualmente é chamado de Síndrome da Zika Congênita. “Com o aumento da amostra, identificamos que outras alterações, tão importantes quanto a microcefalia, estão sendo observadas em uma parcela considerável das gestantes expostas ao vírus”. Ele destaca ainda a importância do estabelecimento de um protocolo específico para acompanhamento dessas pacientes durante o pré-natal e também no momento do parto. “O parto normal pode e deve ser indicado em casos de diagnóstico de microcefalia, em que o bebê esteja hemodinamicamente estável,” explica o obstetra.

Já a responsável pela pesquisa clínica do Instituto, Maria Elisabeth Moreira, que também participou da pesquisa, reforça para a importância de estimular os bebês nos primeiros meses de vida. “É importante destacar que valorizamos também alterações neurológicas menores. Não podemos perder a janela de oportunidade de encaminhar essas mães para a estimulação precoce, que pode fazer toda a diferença para o desenvolvimento dos bebês. Nessa época, o cérebro ainda está crescendo, e as crianças respondem muito bem à estimulação, substituindo células doentes por células normais”, disse Moreira. 

A pesquisa dá continuidade a um estudo https://agencia.fiocruz.br/estudo-analisa-infeccao-por-virus-zika-em-gravidas-do-rio desenvolvido pela Fiocruz em março, que usou testes moleculares para encontrar uma associação entre a infecção por zika em mulheres grávidas e uma série de problemas incluindo morte fetal, crescimento fetal anormal e danos ao sistema nervoso central. Este é o maior estudo até aqui a acompanhar mulheres desde o momento da infecção até o fim da gravidez. Todas as mulheres foram inscritas antes de serem identificadas anormalidades em suas gestações.

Uma equipe multidisciplinar esteve a frente do acompanhamento dos bebês durante sua primeira infância, quando “manifestações neurológicas mais sutis não são identificáveis”. Exames posteriores, portanto, podem vir a descobrir outros problemas neurológicos não detectáveis no começo da vida dos bebês. “Nossos dados mostram que os riscos de complicações severas no desenvolvimento fetal após a infecção por zika são substanciais”, ressaltam os autores no artigo.

A professora de pediatria clínica da Divisão de Doenças Pediátricas Infecciosas da Escola de Medicina da UCLA e também autora do estudo, Karim Nielsen, definiu os resultados do estudo como “graves”. “Descobrimos que a microcefalia não é a alteração congênita mais comum do vírus zika e que a ausência desta condição não significa que você teve um bebê normal”, disse Nielsen. “Há muitos problemas que não são aparentes no nascimento. Os recém-nascidos podem parecer normais, mas não o serem aos seis meses, e há toda uma vasta gama de problemas”.

Na Fiocruz, o estudo foi enquadrado como prioritário pelo gabinete de enfrentamento à Emergência Sanitária, criado em dezembro de 2015 em função da crise da zika. Por isso também, foi indicado para encomenda de financiamento CAPES pelo coordenador do gabinete e vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli. “O gabinete julgou essencial o entendimento do progresso das infecções congênitas pelo vírus zika e por isso incentivou o desenho experimental apresentado pelo estudo via encomenda Capes. Estamos ainda mobilizados institucionalmente para gerar respostas e soluções frente a este grave problema de saúde pública mundial”, ressaltou.

A pesquisa é financiada pelo Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério de Saúde do Brasil, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (Niaid/NIH).

Destaques da pesquisa:

• Ocorreram nove mortes fetais em mulheres com zika durante a gravidez. Dentre essas, cinco foram no primeiro trimestre de gestação;

• Mortes fetais ou anormalidades em bebês foram verificadas em 46% dos casos de gestações de mães que testaram positivo para zika, em contraste com 11,5% das mulheres que testaram negativo para zika;

• 42% dos bebês que nasceram de mães infectadas por zika sofria de microcefalia, lesões cerebrais, calcificações cerebrais, lesões na retina, surdez, dificuldades para se alimentar, entre outras complicações;

Os problemas foram verificados em todas as etapas da gravidez: 55% das mulheres infectadas no primeiro trimestre foram afetadas, 51% no segundo e 29% no terceiro.

Fonte: Agência de Notícias Fiocruz

in EcoDebate, 16/12/2016