O representante da Articulação Camponesa do Tocantins, Pedro Alves dos Santos, participa do lançamento da campanha em defesa do cerrado. Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil
Um grupo de 36 organizações se uniu para defender a preservação da água no Cerrado em mobilização lançada ontem (27), em Brasília. A Campanha Nacional em Defesa do Cerrado busca conscientizar a sociedade dos problemas que a falta de água tem provocado na biodiversidade da região e na vida de comunidades indígenas e povos tradicionais.
“O Cerrado é fundamental para essas comunidades. Essa campanha está sendo lançada hoje, na expectativa de atingir toda a sociedade brasileira para chamar atenção dessa realidade que o Cerrado está vivendo”, disse Isolete Wichinieski, integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), uma das entidades envolvidas na campanha. Além da CPT, outras organizações religiosas e de defesa da agricultura familiar e dos e direitos humanos integram a campanha.
Segundo Isolete, os povos tradicionais e comunidades indígenas têm um papel importante “na defesa desse território, no uso que eles fazem e na maneira como foram se adaptando e convivendo com esse bioma”.
A campanha pretende mostrar que um dos grandes responsáveis pelo processo de escassez da água e empobrecimento do solo do Cerrado é a monocultura ligada ao agronegócio.
“Nosso Cerrado está totalmente destruído. O agronegócio está avançando. A produção de soja, milho, cana-de-açúcar e eucalipto no território Guarani-Kaiowá trouxe prejuízo para a nossa comunidade”, disse o indígena Elson Guarani-Kaiowá durante o lançamento da campanha.
“Sofremos também vários ataques de agrotóxicos que foram despejados na comunidade indígena. Quando chove, esse agrotóxico cai nos rios, matando os peixes e os animais que ainda restam nas matas. Isso para a gente é uma grande preocupação”, acrescentou.
PEC do Cerrado
Entre as ações da campanha, estão a defesa da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 504/2010, que torna o Cerrado patrimônio nacional. Outra medida é estudar e cobrar políticas para frear o desmatamento na região. “Hoje o cerrado tem menos de 48% de vegetação [original]. A gente precisa conservar esse Cerrado em pé e pensar políticas que possam realmente recuperar o que a gente ainda consegue recuperar. Porque nem tudo a gente vai conseguir recuperar desse território, da vegetação e da sua biodiversidade”, lamentou.
Outra preocupação das entidades envolvidas na campanha é a inclusão do bioma no Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba (sigla para a região de Cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, considerada a grande fronteira agrícola do país atualmente). “Esse plano vai impactar muito mais o Cerrado. Se a gente não tiver um processo de discutir com as comunidades, de ver como barrar esse plano de desenvolvimento, teremos graves consequências para o Cerrado”, disse Isolete Wichinieski, da CPT.
Por Marcelo Brandão, da Agência Brasil, in EcoDebate, 28/09/2016
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