terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Moxabustão aplicada à medicina veterinária: aplicações e eficácia clínica.

Amanda Sanches- Acadêmica de Medicina Veterinária da Universidade de Taubaté

Introdução

A moxabustão é uma modalidade terapêutica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que utiliza o calor gerado pela combustão da erva Artemisia vulgaris (artemísia) sobre pontos de acupuntura ou áreas específicas do corpo. Essa técnica tem como objetivo aquecer, tonificar e promover o livre fluxo de sangue na região aplicada, sendo amplamente reconhecida na Medicina Humana.
Na Medicina Veterinária (MV), a moxabustão tem ganhado relevância como terapia complementar no manejo da dor, na reabilitação neuromotora e no estímulo à regeneração tecidual em diversas espécies, especialmente cães, equinos e bovinos.


Revisão de literatura
A moxabustão, frequentemente associada à acupuntura, apresenta resultados promissores no tratamento de condições que afetam a locomoção e o sistema nervoso animal. Estudos indicam sua eficácia na reabilitação de cães com Doença do Disco Intervertebral (DDIV), promovendo redução da dor e melhora da função locomotora. Avaliações neuromotoras em cães com afecções da coluna vertebral submetidos à técnica demonstram progressão funcional, sugerindo que o tratamento combinado de agulhamento e moxabustão é uma ferramenta valiosa nos protocolos de fisiatria veterinária.

O efeito térmico da moxabustão estimula o fluxo sanguíneo local, essencial para a cicatrização. Relatos de caso evidenciam sucesso da técnica na cicatrização por segunda intenção em cães, acelerando o processo e promovendo granulação saudável do tecido. Em equinos, a moxabustão também foi avaliada, sendo considerada um tratamento complementar acessível e de fácil aplicação para feridas cutâneas. Além disso, há registros de uso em fauna silvestre, como serpentes, incluindo a Eunectes murinus (anaconda), para auxiliar na cicatrização de lesões.


Conclusão
Conclui-se que a moxabustão se consolida como um recurso relevante da MTC na Medicina Veterinária. A literatura científica respalda seu uso complementar em diversas áreas, incluindo manejo da dor crônica, reabilitação neuromotora (especialmente em cães) e estímulo à cicatrização tecidual em diferentes espécies. Sua eficácia clínica, associada à natureza minimamente invasiva e ao baixo custo, justifica a crescente incorporação nos protocolos terapêuticos veterinários. Contudo, pesquisas adicionais são necessárias para elucidar completamente seus mecanismos de ação e padronizar as melhores práticas de aplicação.


Referências

BARBOSA, Maria Luiza de Sousa. A utilização da moxabustão como terapia na cicatrização por segunda intenção em cães: relato de dois casos. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, São Paulo, v. 21, e38422, 2023. DOI: 10.36440/recmvz.v21.38422. Disponível em: https://www.revistamvez-crmvsp.com.br/index.php/recmvz/article/view/38422. Acesso em: 9 dez. 2025.

GRIZENDI, Bianca Moutinho. Avaliação do processo de cicatrização de feridas em equinos com o uso de moxabustão. 2020. 99 f. Dissertação (Mestrado em Biociência Animal) - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, Universidade de São Paulo, Pirassununga, 2020. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/74/74135/tde-05052021-154320/publico/ME6461976COR.pdf. Acesso em: 9 dez. 2025.

JANG, Kwang-ho.; LEE, Joo-myoung; NAM, Tchi-chou. Electroacupuncture and moxibustion for correction of abomasal displacement in dairy cattle. Journal of Veterinary Science, Suwon, v. 4, n. 1, p. 93-95, Apr. 2003. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12819371/. Acesso em: 9 dez. 2025.

LIMA, Jane Glayce Pereira; LINDEN, Lais Alburquerque van der; SANTOS, Renan Felipe Silva; OLIVEIRA, Rhaysa Allayde Silva; COSTA, Fabiano Sellos; LEITE , Jacinta Eufrasia Brito; LIMA, Helvio Rodrigues de; LIMA, Evilda Rodrigues. Avaliação neuromotora de cães com afecções da coluna vertebral submetidos ao tratamento com acupuntura e moxabustão. Medicina Veterinária, Recife, v. 17, n. 2, p. 110-116, 2023. DOI: 10.26605/medvet-v17n2-5089. Disponível em: https://www.journals.ufrpe.br/index.php/medicinaveterinaria/article/view/5089. Acesso em: 9 dez. 2025.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Uso da Melissa officinalis no tratamento de cães

Franciele Beatriz Faria Santos. - acadêmica de Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté

 Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

A Melissa officinalis, conhecida popularmente como erva-cidreira ou melissa, tem despertado interesse na medicina veterinária devido às suas propriedades calmantes e antimicrobianas. Pesquisas recentes apontam para diferentes aplicações dessa planta em cães, abrangendo desde o manejo do estresse até o controle de infecções cutâneas e parasitas.

Efeito calmante e bem-estar animal
Roy et al. (2025) investigaram o impacto de um extrato hidroalcoólico de Melissa officinalis (MOE) e do ácido rosmarínico (AR) sobre o comportamento e o metaboloma de cães Beagle. O estudo, conduzido com 20 animais distribuídos em quatro grupos, demonstrou melhora significativa nos parâmetros comportamentais dos cães tratados com MOE (pontuação média 2,0) em comparação ao grupo placebo (-3,4). A análise metabolômica revelou alterações em vias relacionadas ao metabolismo lipídico e de ácidos biliares, sugerindo um mecanismo de ação associado à modulação do sistema GABA. Esses achados reforçam o potencial da Melissa officinalis como alternativa natural para reduzir estresse e ansiedade em cães.

Atividade antimicrobiana contra infecções cutâneas
Ebani et al. (2020) avaliaram a ação de óleos essenciais, incluindo o de Melissa officinalis, contra cepas de Staphylococcus spp. e Malassezia pachydermatis isoladas de cães com dermatite. Embora óleos como orégano e tomilho tenham apresentado maior eficácia antibacteriana, o óleo de Melissa demonstrou atividade antifúngica relevante, especialmente contra Malassezia, indicando seu potencial como coadjuvante no tratamento de otites e dermatites.

Complementando esses achados, Nocera et al. (2020) testaram a eficácia de óleos essenciais contra Staphylococcus pseudintermedius resistente e sensível à meticilina. O óleo de melissa apresentou atividade inibitória mínima (CIM) de 1:2048 v/v contra cepas sensíveis, sugerindo efeito limitado, mas ainda promissor como parte de terapias combinadas.

Controle de parasitas externos
Moog et al. (2020) exploraram o uso de um suplemento alimentar à base de plantas, incluindo Melissa officinalis, para controle de pulgas em cães. O produto Bioticks® demonstrou eficácia progressiva, atingindo 82% de redução na população de pulgas após cinco meses, sem efeitos adversos. Esse resultado indica que a melissa, associada a outras plantas, pode contribuir para estratégias naturais de controle parasitário.

Atividade antifúngica em otite externa
Bismarck et al. (2019) confirmaram a ação antifúngica do óleo essencial de Melissa contra isolados clínicos de Malassezia pachydermatis de orelhas caninas. A atividade volátil do óleo reforça sua aplicabilidade em terapias tópicas ou aromaterapia veterinária.

Considerações finais

Os estudos revisados demonstram que a Melissa officinalis apresenta diversas utilidades na medicina veterinária, sendo especialmente reconhecida pelo efeito tranquilizante, atividade antifúngica e auxílio no manejo de parasitas. Apesar de sua ação antimicrobiana contra bactérias ser menos potente em comparação a outros óleos essenciais, seu uso em terapias integrativas mostra-se promissor. São precisas investigações futuras para estabelecer doses padrão, vias de aplicação e garantir a segurança em uso prolongado.

Referências

Bismarck D, Dusold A, Heusinger A, Müller E. Antifungal in vitro Activity of Essential Oils against Clinical Isolates of Malassezia pachydermatis from Canine Ears: A Report from a Practice Laboratory. Complement Med Res. 2020;27(3):143-154. doi: 10.1159/000504316.

Ebani VV, Bertelloni F, Najar B, Nardoni S, Pistelli L, Mancianti F. Antimicrobial Activity of Essential Oils against Staphylococcus and Malassezia Strains Isolated from Canine Dermatitis. Microorganisms. 2020 Feb 13;8(2):252. doi: 10.3390/microorganisms8020252.

Moog F, Plichart GV, Blua JL, Cadiergues MC. Evaluation of a plant-based food supplement to control flea populations in dogs: A prospective double-blind randomized study. Int J Parasitol Drugs Drug Resist. 2020 Apr;12:35-38. doi: 10.1016/j.ijpddr.2020.02.001. Epub 2020 Feb 15. PMID: 32114287; PMCID: PMC7049570.

Nocera FP, Mancini S, Najar B, Bertelloni F, Pistelli L, De Filippis A, Fiorito F, De Martino L, Fratini F. Antimicrobial Activity of Some Essential Oils against Methicillin-Susceptible and Methicillin-Resistant Staphylococcus pseudintermedius-Associated Pyoderma in Dogs. Animals (Basel). 2020 Oct 1;10(10):1782. doi: 10.3390/ani10101782. PMID: 33019582; PMCID: PMC7601051.

Roy AS, Aberkane FZ, Cisse S, Guibert A, Richard D, Lerouzic M, Suor-Cherer S, Boisard S, Guilet D, Benarbia MEAB, Mallem MY. Metabolomics provides novel understanding of Melissa officinalis mechanism of action ensuring its calming effect on dogs. BMC Vet Res. 2025 Jul 11;21(1):459. doi: 10.1186/s12917-025-04904-8.