quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Uso da Melissa officinalis no tratamento de cães

Franciele Beatriz Faria Santos. - acadêmica de Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté

 Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

A Melissa officinalis, conhecida popularmente como erva-cidreira ou melissa, tem despertado interesse na medicina veterinária devido às suas propriedades calmantes e antimicrobianas. Pesquisas recentes apontam para diferentes aplicações dessa planta em cães, abrangendo desde o manejo do estresse até o controle de infecções cutâneas e parasitas.

Efeito calmante e bem-estar animal
Roy et al. (2025) investigaram o impacto de um extrato hidroalcoólico de Melissa officinalis (MOE) e do ácido rosmarínico (AR) sobre o comportamento e o metaboloma de cães Beagle. O estudo, conduzido com 20 animais distribuídos em quatro grupos, demonstrou melhora significativa nos parâmetros comportamentais dos cães tratados com MOE (pontuação média 2,0) em comparação ao grupo placebo (-3,4). A análise metabolômica revelou alterações em vias relacionadas ao metabolismo lipídico e de ácidos biliares, sugerindo um mecanismo de ação associado à modulação do sistema GABA. Esses achados reforçam o potencial da Melissa officinalis como alternativa natural para reduzir estresse e ansiedade em cães.

Atividade antimicrobiana contra infecções cutâneas
Ebani et al. (2020) avaliaram a ação de óleos essenciais, incluindo o de Melissa officinalis, contra cepas de Staphylococcus spp. e Malassezia pachydermatis isoladas de cães com dermatite. Embora óleos como orégano e tomilho tenham apresentado maior eficácia antibacteriana, o óleo de Melissa demonstrou atividade antifúngica relevante, especialmente contra Malassezia, indicando seu potencial como coadjuvante no tratamento de otites e dermatites.

Complementando esses achados, Nocera et al. (2020) testaram a eficácia de óleos essenciais contra Staphylococcus pseudintermedius resistente e sensível à meticilina. O óleo de melissa apresentou atividade inibitória mínima (CIM) de 1:2048 v/v contra cepas sensíveis, sugerindo efeito limitado, mas ainda promissor como parte de terapias combinadas.

Controle de parasitas externos
Moog et al. (2020) exploraram o uso de um suplemento alimentar à base de plantas, incluindo Melissa officinalis, para controle de pulgas em cães. O produto Bioticks® demonstrou eficácia progressiva, atingindo 82% de redução na população de pulgas após cinco meses, sem efeitos adversos. Esse resultado indica que a melissa, associada a outras plantas, pode contribuir para estratégias naturais de controle parasitário.

Atividade antifúngica em otite externa
Bismarck et al. (2019) confirmaram a ação antifúngica do óleo essencial de Melissa contra isolados clínicos de Malassezia pachydermatis de orelhas caninas. A atividade volátil do óleo reforça sua aplicabilidade em terapias tópicas ou aromaterapia veterinária.

Considerações finais

Os estudos revisados demonstram que a Melissa officinalis apresenta diversas utilidades na medicina veterinária, sendo especialmente reconhecida pelo efeito tranquilizante, atividade antifúngica e auxílio no manejo de parasitas. Apesar de sua ação antimicrobiana contra bactérias ser menos potente em comparação a outros óleos essenciais, seu uso em terapias integrativas mostra-se promissor. São precisas investigações futuras para estabelecer doses padrão, vias de aplicação e garantir a segurança em uso prolongado.

Referências

Bismarck D, Dusold A, Heusinger A, Müller E. Antifungal in vitro Activity of Essential Oils against Clinical Isolates of Malassezia pachydermatis from Canine Ears: A Report from a Practice Laboratory. Complement Med Res. 2020;27(3):143-154. doi: 10.1159/000504316.

Ebani VV, Bertelloni F, Najar B, Nardoni S, Pistelli L, Mancianti F. Antimicrobial Activity of Essential Oils against Staphylococcus and Malassezia Strains Isolated from Canine Dermatitis. Microorganisms. 2020 Feb 13;8(2):252. doi: 10.3390/microorganisms8020252.

Moog F, Plichart GV, Blua JL, Cadiergues MC. Evaluation of a plant-based food supplement to control flea populations in dogs: A prospective double-blind randomized study. Int J Parasitol Drugs Drug Resist. 2020 Apr;12:35-38. doi: 10.1016/j.ijpddr.2020.02.001. Epub 2020 Feb 15. PMID: 32114287; PMCID: PMC7049570.

Nocera FP, Mancini S, Najar B, Bertelloni F, Pistelli L, De Filippis A, Fiorito F, De Martino L, Fratini F. Antimicrobial Activity of Some Essential Oils against Methicillin-Susceptible and Methicillin-Resistant Staphylococcus pseudintermedius-Associated Pyoderma in Dogs. Animals (Basel). 2020 Oct 1;10(10):1782. doi: 10.3390/ani10101782. PMID: 33019582; PMCID: PMC7601051.

Roy AS, Aberkane FZ, Cisse S, Guibert A, Richard D, Lerouzic M, Suor-Cherer S, Boisard S, Guilet D, Benarbia MEAB, Mallem MY. Metabolomics provides novel understanding of Melissa officinalis mechanism of action ensuring its calming effect on dogs. BMC Vet Res. 2025 Jul 11;21(1):459. doi: 10.1186/s12917-025-04904-8. 

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Nerium oleander L. utilizada na arborização urbana e casos de intoxicação em animais

Luana Salim Amancio Silva - acadêmica de Medicina Veterinária da Universidade de Taubaté
Maiara Vitoria de Campos - acadêmica de Medicina Veterinária da Universidade de Taubaté
Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

Nerium oleander L., conhecida popularmente por espirradeira ou oleandro, é uma espécie ornamental amplamente utilizada na arborização urbana, mas representa risco significativo de intoxicação para animais domésticos e de produção. A presença de glicosídeos cardíacos, como a oleandrina, provoca sinais clínicos graves, incluindo depressão, anorexia, arritmias, atonia ruminal, dispneia e lesões hepáticas e cardíacas, podendo levar à morte.

Casos fatais em equinos, bovinos e pequenos animais são amplamente relatados, reforçando a necessidade de manejo adequado da planta em áreas rurais e urbanas (Butler; Khan; Scarzella, 2016; Abdou; Basha; Khalil, 2019).

Butler, Khan e Scarzella (2016) descreveram a intoxicação de dois cavalos miniatura que apresentaram letargia, anorexia e arritmias após ingestão provável de oleandro; um animal morreu e o outro foi eutanasiado, com diagnóstico confirmado pela detecção de oleandrina no conteúdo gastrointestinal e digoxina no soro. Em um caso inédito, Pao-Franco et al. (2017) relataram intoxicação grave em uma cadela da raça Rhodesian Ridgeback, refratária a terapias convencionais, mas tratada com sucesso por anticorpos Fab específicos para digoxina, embora com lesões isquêmicas de prognóstico incerto.

Rubini et al. (2019) documentaram a morte de seis bovinos após ingestão de oleandro misturado à forragem, confirmada por análise toxicológica. Ceci et al. (2020) relataram um surto em 50 vacas lactantes, com 13 mortes em quatro dias, apresentando sinais como depressão, anorexia, atonia ruminal, diarreia e arritmias; necropsias revelaram necrose cardíaca e enterite grave, e oleandrina foi detectada em tecidos e produtos lácteos, indicando risco para consumidores. Lisuzzo et al. (2025) descreveram o primeiro caso de intoxicação por inalação da fumaça da queima de oleandro, resultando na morte de 76 bovinos em 30 horas, com lesões hepáticas e cardíacas confirmadas.

Esses relatos evidenciam a alta toxicidade do oleandro e a necessidade de monitoramento rigoroso em áreas urbanas e rurais, bem como políticas preventivas para evitar envenenamentos acidentais e impactos na saúde animal e humana.

Referências

ABDOU, Rania H.; BASHA, Walaa A.; KHALIL, Waleed F.. Subacute toxicity of Nerium oleander ethanolic extract in mice. Toxicological Research, [S.L.], v. 35, n. 3, p. 233-239, 15 jul. 2019. http://dx.doi.org/10.5487/tr.2019.35.3.233.

BUTLER, Jarrod; KHAN, Safdar; SCARZELLA, Gina. Fatal Oleander Toxicosis in Two Miniature Horses. Journal of The American Animal Hospital Association, [S.L.], v. 52, n. 6, p. 398-402, 1 nov. 2016. http://dx.doi.org/10.5326/jaaha-ms-6433.

CECI, Luigi; GIROLAMI, Flavia; CAPUCCHIO, Maria Teresa; COLOMBINO, Elena; NEBBIA, Carlo; GOSETTI, Fabio; MARENGO, Emilio; IARUSSI, Fabrizio; CARELLI, Grazia. Outbreak of Oleander (Nerium oleander) Poisoning in Dairy Cattle: clinical and food safety implications. Toxins, [S.L.], v. 12, n. 8, p. 1-11, 24 jul. 2020. http://dx.doi.org/10.3390/toxins12080471.

LISUZZO, Anastasia; SPADOTTO, Luca; MURARO, Michele; MAZZARIOL, Sandro; CENTELLEGHE, Cinzia; SORANZO, Elena; RUBINI, Silva; LOCATELLI, Carlo A.; DACASTO, Mauro; TAIO, Giorgia. Case Report: oleandrin intoxication by inhalation in beef cattle. Frontiers in Veterinary Science, [S.L.], v. 12, p. 1-7, 8 set. 2025. http://dx.doi.org/10.3389/fvets.2025.1666317.

PAO‐FRANCO, Amaris; HAMMOND, Tara N.; WEATHERTON, Linda K.; DECLEMENTI, Camille; FORNEY, Scott D.. Successful use of digoxin‐specific immune Fab in the treatment of severe Nerium oleander toxicosis in a dog. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, [S.L.], v. 27, n. 5, p. 596-604, 29 jul. 2017. http://dx.doi.org/10.1111/vec.1263

RUBINI, Silva; ROSSI, Sabina Strano; MESTRIA, Serena; ODOARDI, Sara; CHENDI, Sara; POLI, Andrea; MERIALDI, Giuseppe; ANDREOLI, Giuseppina; FRISONI, Paolo; GAUDIO, Rosa Maria. A Probable Fatal Case of Oleander (Nerium oleander) Poisoning on a Cattle Farm: a new method of detection and quantification of the oleandrin toxin in rumen. Toxins, [S.L.], v. 11, n. 8, p. 1-9, 25 jul. 2019. http://dx.doi.org/10.3390/toxins11080442.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Gênero Mentha no tratamento de cachorros

Ana Laura Teixeira Praniski de Oliveira - Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté

Mirella Pires Nunes - Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté

Sarah Junqueira Farah - Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté

Introdução

O gênero Mentha é um dos mais conhecidos da família Lamiaceae, com mais de 25 espécies descritas. Originário principalmente da bacia do Mediterrâneo, estende-se pela Ásia, Europa, Austrália, América do Norte e Norte da África, sendo um símbolo de hospitalidade em diversas culturas. Essa planta foi amplamente utilizada em civilizações antigas, desde usos medicinais populares até aplicações não medicinais, como aromaterapia e culinária (YOUSEFIAN et al., 2023). O gênero Mentha possui grande importância econômica para a indústria e pode ser utilizado em animais como auxiliar no combate a parasitas, insetos, além de apresentar propriedades antimicrobianas e antioxidantes.

No combate ao carrapato

Rhipicephalus sanguineus, prevalente em cães, representa uma ameaça à saúde de caninos e humanos, atuando como vetor de diversas doenças parasitárias transmitidas pelo sangue em cães, incluindo Ehrlichia canisHepatozoon canis e Babesia canis. Para conter seus efeitos nocivos, produtos químicos são aplicados nos cães e em seus ambientes. No entanto, esses tratamentos são frequentemente mal utilizados, com dosagens incorretas e duração imprópria, o que pode afetar a saúde ambiental, tanto humana quanto animal, além de favorecer o desenvolvimento de resistência dos carrapatos aos produtos (VUI, 2024).

Portanto, é necessário descobrir novos tratamentos que garantam o controle dos danos causados pelos carrapatos, protegendo a saúde de animais de estimação e humanos. Nesse contexto, estudos indicam que óleos essenciais derivados de plantas são eficazes contra larvas e carrapatos adultos (VUI, 2024).

Segundo VUI (2024), o óleo essencial de Mentha spicata foi capaz de eliminar larvas e reduzir a capacidade reprodutiva de carrapatos adultos. Essa atividade larvicida e o impacto na reprodução das fêmeas ingurgitadas podem ser atribuídos aos compostos químicos presentes no óleo, que possuem propriedades larvicidas, ou ao efeito sinérgico de diversos compostos bioativos, contribuindo para aumentar a atividade larvicida e diminuir a reprodução de carrapatos adultos.

Terapêutica na odontologia veterinária

Doença periodontal e halitose são comuns em cães. O uso de óleos essenciais do gênero Mentha, como o mentol, apresenta potencial terapêutico na odontologia veterinária. Em cães, a aplicação tópica de um gel contendo mentol, timol e antioxidantes demonstrou reduzir significativamente o mau hálito após a limpeza profissional inicial. Essa melhora foi atribuída à ação antimicrobiana dos compostos voláteis do hortelã, que atuam contra bactérias gram-negativas envolvidas na formação de compostos sulfurados voláteis, principais responsáveis pela halitose (LOW, 2014).

Atividade antiparasitária

Diversos estudos demonstraram o efeito in vitro de óleos essenciais contra helmintos. Albani et al. (2014) avaliaram a eficácia in vitro da hortelã (Mentha x piperita) contra a proliferação celular de Echinococcus granulosus, observando uma redução de 77% na viabilidade dos protoescólices. Também foram constatadas reduções no número de células compatíveis, com a presença de muitas células mortas e detritos celulares.

Conclusão

Diante do exposto, observa-se que o gênero Mentha apresenta potencial relevante na medicina veterinária, tanto no controle de parasitas quanto na terapêutica odontológica. Seus óleos essenciais demonstraram eficácia contra diferentes estágios do desenvolvimento de carrapatos, além de possuir propriedades antimicrobianas que auxiliam na redução da halitose em cães. De igual forma, os estudos sobre sua ação antiparasitária reforçam a importância de novas pesquisas, que poderão consolidar a hortelã como uma alternativa promissora e natural no manejo de doenças em animais. Assim, fica evidente que o uso de plantas medicinais aliado ao conhecimento científico contribui para tratamentos mais seguros e sustentáveis.

Bibliografia

ALBANI, Clara María; DENEGRI, Guillermo María; ELISSONDO, María Celina. Effect of different terpene-containing essential oils on the proliferation of Echinococcus granulosus larval cells. BioMed Research International, [S. l.], 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1155/2014/746931. Acesso em: 18 out. 2024.

LOW, Samuel B.; PEAK, R. Michael; SMITHSON, Christopher W.; PERRONE, Jeanne; GADDIS, Bert; KONTOGIORGOS, Elias. Evaluation of a topical gel containing a novel combination of essential oils and antioxidants for reducing oral malodor in dogs. American Journal of Veterinary Research, v. 75, n. 7, p. 653-657, 2014.

VUI, N. V.; LINH, N. T.; QUYEN, N. T. K.; NANG, K.; VIET, H. V. The utility of Ocimum basilicumPerilla frutescens, and Mentha spicata essential oils to control larvae and engorged female Rhipicephalus sanguineus ticks on dogs. J Vet Med Sci. 2024 Dec 1;86(12):1237-1242. doi: 10.1292/jvms.24-0288. Epub 2024 Oct 8. PMID: 39384378; PMCID: PMC11612241.

YOUSEFIAN, Shirin; ESMAEILI, Fazileh; LOHRASEBI, Tahmineh. A comprehensive review of the key characteristics of the genus Mentha, natural compounds and biotechnological approaches for the production of secondary metabolites. Iranian Journal of Biotechnology, Teerã, v. 21, n. 4, p. e3605, 1 out. 2023. DOI: 10.30498/ijb.2023.380485.3605. Recebido em 09 jan. 2023. Aceito em 16 jul. 2023.


segunda-feira, 5 de maio de 2025

Relato de pesquisas sobre o uso da Curcuma longa no tratamento de equinos - I

Carina Wanchowski Palma - Universidade de Taubaté

Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

Os benefícios à saúde humana atribuídos à especiaria cúrcuma/curcumina resultaram em sua ampla utilização como suplemento alimentar para animais de estimação e outros animais, incluindo cavalos.

No Pubmed destacamos os seguintes autores e pesquisas:

Biodisponibilidade 

A cúrcuma (Curcuma longa), amplamente reconhecida por seus benefícios à saúde humana, vem sendo cada vez mais utilizada como suplemento alimentar em animais de estimação e cavalos, devido às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes atribuídas aos curcuminoides (curcumina, desmetoxicurcumina e bisdesmetoxicurcumina). No entanto, enquanto há extensa investigação sobre a metabolização desses compostos em humanos e roedores, os dados sobre sua absorção e metabolismo em equinos ainda são escassos.

Este estudo apresenta um método analítico validado (LC-ESI-MS/MS) para a quantificação simultânea dos curcuminoides livres e seus metabólitos de fase 2 (curcumina-O-sulfato e curcumina-O-glicuronídeo) em plasma equino. O método demonstrou alta sensibilidade, precisão (85 a 115%) e reprodutibilidade (<15% de variação), atendendo aos critérios da FDA. A ferramenta foi aplicada com sucesso para caracterizar a farmacocinética da curcumina-O-sulfato em cavalos.

Esse avanço metodológico representa um passo importante para a compreensão dos efeitos terapêuticos e da biodisponibilidade da cúrcuma em equinos, possibilitando estudos mais robustos sobre sua eficácia e segurança no contexto da nutrição e saúde animal.

Referência

Liu Y, Siard M, Adams A, et al. Quantificação simultânea de curcuminoides livres e seus metabólitos em plasma equino por LC-ESI-MS/MS. J Pharm Biomed Anal . 2018;154:31-39. doi:10.1016/j.jpba.2018.03.014

Segurança e eficácia de diferentes formas de cúrcuma

Em resposta a uma solicitação da Comissão Europeia, o Painel FEEDAP da EFSA avaliou a segurança e eficácia de diferentes formas de cúrcuma (Curcuma longa L.) — incluindo extrato, óleo essencial, oleorresina e tintura — quando utilizadas como aditivos sensoriais em rações e água de bebida para animais, abrangendo todas as espécies, inclusive cavalos.

O parecer científico concluiu que essas preparações são seguras para equinos quando utilizadas nos níveis máximos propostos. Especificamente para cavalos, a oleorresina de cúrcuma é segura até 5 mg/kg de ração completa, e a tintura de cúrcuma pode ser administrada até 6 mL por animal/dia. Não foram identificadas preocupações com a saúde dos consumidores decorrentes da ingestão de produtos de origem animal alimentados com esses aditivos, e os riscos ambientais também foram considerados desprezíveis.

Embora o foco do parecer tenha sido o uso sensorial (melhoria de sabor e palatabilidade), a avaliação reforça a segurança do uso da cúrcuma em formulações alimentares para equinos, permitindo seu uso potencial também como suporte à saúde, dadas as conhecidas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e digestivas da planta. No entanto, os compostos derivados da cúrcuma são classificados como irritantes cutâneos e respiratórios e sensibilizantes da pele, exigindo cuidados no manuseio.

Esses resultados reforçam o uso seguro e regulamentado da Curcuma longa como aditivo funcional e sensorial na alimentação de cavalos, abrindo possibilidades para seu uso complementar em estratégias nutricionais voltadas ao bem-estar e à performance equina.

Referência:

Painel da EFSA sobre Aditivos e Produtos ou Substâncias Utilizados na Alimentação Animal (FEEDAP), Bampidis V, Azimonti G et al. Segurança e eficácia do extrato de cúrcuma, óleo de cúrcuma, oleorresina de cúrcuma e tintura de cúrcuma do rizoma de Curcuma longa L. quando usados ​​como aditivos sensoriais em rações para todas as espécies animais. EFSA J. 2020;18(6):e06146. Publicado em 12 de junho de 2020. doi:10.2903/j.efsa.2020.6146

Controle da Inflamação

Beghelli et al. (2023)

Exercícios intensos podem desencadear inflamação e estresse oxidativo devido à produção de espécies reativas de oxigênio, formando um ciclo vicioso entre esses processos fisiopatológicos. Um estudo duplo-cego controlado por placebo foi conduzido com 16 cavalos de salto para avaliar os efeitos de um suplemento fitoterápico comercial (Dolhorse®) contendo extrato de Curcuma longa (14.280 mg/kg), além de Verbascum thapsus e Boswellia serrata. Após 10 dias de suplementação, foram observadas mudanças significativas em 36 pontos proteicos relacionados a 29 proteínas, além da regulação negativa de citocinas pró-inflamatórias como IL-1α, IL-6, TLR4 e IKBKB, conforme análise por RT-PCR em tempo real.

Destaca-se o papel da cúrcuma (Curcuma longa), reconhecida por suas propriedades anti-inflamatórias e moduladoras da resposta imune, como provável agente contribuinte para a redução dos marcadores inflamatórios. Embora não tenham sido observados efeitos significativos sobre o sistema antioxidante, o suplemento levou à superexpressão de proteínas associadas à imunidade e ao metabolismo, e à redução de proteínas inflamatórias e fragmentos do sistema complemento. Esses resultados sugerem que a fitoterapia, especialmente com cúrcuma, pode auxiliar no controle da inflamação em cavalos atletas, atuando como adjuvante na manutenção da saúde durante atividades físicas intensas.

Referência: Beghelli D, Zallocco L, Angeloni C, et al. Suplementação alimentar com Boswellia serrata, Verbascum thapsus e Curcuma longa em cavalos de salto: efeitos no proteoma sérico, estado antioxidante e expressão gênica anti-inflamatória. Life (Basel) . 2023;13(3):750. Publicado em 10 de março de 2023. doi:10.3390/life13030750 

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Óleos de citrus e a ansiedade

Paula Barcelos Benedicto - Universidade de Taubaté

Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

Os óleos essenciais de citrus, como Citrus sinensis e Citrus aurantium, têm demonstrado eficácia no controle da ansiedade, conforme evidenciado em estudos. Utilizados principalmente por meio da aromaterapia, esses óleos influenciam positivamente o sistema nervoso, promovendo efeitos ansiolíticos. Os resultados de pesquisas indicam que a inalação desses óleos pode reduzir significativamente a ansiedade em diferentes contextos, como em pacientes submetidos a procedimentos médicos — incluindo angiografia coronária e coleta de material medular —, em estudantes durante exames e em pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI).

Além da redução da ansiedade, o aroma de Citrus aurantium demonstrou melhorar a qualidade do sono em mulheres na pós-menopausa, graças às suas propriedades sedativas e ansiolíticas. Também se observou alívio da ansiedade em ambientes odontológicos, especialmente entre mulheres e indivíduos com níveis elevados de ansiedade, através da vaporização de óleos como o de Citrus sinensis. Em situações específicas, como no caso de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM), a aromaterapia com óleo essencial de limão reduziu os níveis de ansiedade. Já o óleo essencial de yuzu (Citrus junos) apresentou efeitos terapêuticos em sintomas pré-menstruais, contribuindo para a diminuição da tensão, ansiedade, raiva e fadiga.

Em alguns estudos, os efeitos dos óleos essenciais de citrus na redução da ansiedade foram comparáveis aos de medicamentos tradicionais, como o diazepam. Isso se deve aos seus mecanismos de ação, que incluem propriedades neuroprotetoras, ansiolíticas, antioxidantes e sedativas. A inalação de aromas cítricos também influencia o sistema nervoso autônomo, podendo diminuir a frequência cardíaca e aumentar a atividade parassimpática, o que contribui para o relaxamento corporal.

De modo geral, a aromaterapia com óleos essenciais de citrus é considerada segura e eficaz, com poucos efeitos colaterais relatados. A combinação dessa prática com outras abordagens terapêuticas, como a musicoterapia, pode potencializar os efeitos ansiolíticos. No entanto, a utilização dos óleos deve ser sempre orientada por um profissional qualificado, que poderá indicar a forma de uso mais adequada e a dosagem ideal para cada caso.

Referências

ABBASPOOR, Zahra; SIAHPOOSH, Amir; JAVADIFAR, Nahid; SIAHKAL, Shahla Faal; MOHAGHEGH, Zeynab; SHARIFIPOUR, Foruzan. The Effect of Citrus Aurantium Aroma on the Sleep Quality in Postmenopausal Women: a randomized controlled trial. International Journal Of Community Based Nursing And Midwifery, [S.L.], v. 10, n. 2, p. 86-95, abr. 2022. http://dx.doi.org/10.30476/ijcbnm.2021.90322.1693.

CZAKERT, Judith; KANDIL, Farid I.; BOUJNAH, Hiba; TAVAKOLIAN, Pantea; BLAKESLEE, Sarah B.; STRITTER, Wiebke; DOMMISCH, Henrik; SEIFERT, Georg. Scenting serenity: influence of essential-oil vaporization on dental anxiety - a cluster-randomized, controlled, single-blinded study (aroma_dent). Scientific Reports, [S.L.], v. 14, n. 1, p. 1-13, 19 jun. 2024. http://dx.doi.org/10.1038/s41598-024-63657-w.

EBRAHIMI, Abed; ESLAMI, Jamshid; DARVISHI, Isan; MOMENI, Khadijeh; AKBARZADEH, Marzieh. An overview of the comparison of inhalation aromatherapy on emotional distress of female and male patients in preoperative period. Journal of Complementary and Integrative Medicine, [S.L.], v. 19, n. 1, p. 111-119, 12 maio 2021. http://dx.doi.org/10.1515/jcim-2020-0464.

HOZUMI, Hideaki; HASEGAWA, Sho; TSUNENARI, Takazumi; SANPEI, Noriko; ARASHINA, Yuko; TAKAHASHI, Kieko; KONNNO, Ayako; CHIDA, Emi; TOMIMATSU, Souichi. Aromatherapies using Osmanthus fragrans oil and grapefruit oil are effective complementary treatments for anxious patients undergoing colonoscopy: a randomized controlled study. Complementary Therapies in Medicine, [S.L.], v. 34, p. 165-169, out. 2017. http://dx.doi.org/10.1016/j.ctim.2017.08.012.

KARIMZADEH, Zahra; FOROUZI, Mansooreh Azizzadeh; RAHIMINEZHAD, Elham; AHMADINEJAD, Mehdi; DEHGHAN, Mahlagha. The effects of Lavender and Citrus aurantium on anxiety and agitation of the conscious patients in intensive care units: a parallel randomized placebo-controlled trial. Biomed Research International, [S.L.], v. 2021, p. 1-8, 15 jun. 2021 http://dx.doi.org/10.1155/2021/5565956.

MATSUMOTO, Tamaki; KIMURA, Tetsuya; HAYASHI, Tatsuya. Does japanese citrus fruit yuzu (Citrus junos Sieb. ex Tanaka) fragrance have lavender-like therapeutic effects that alleviate premenstrual emotional symptoms? A single-blind randomized crossover study. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, [S.L.], v. 23, n. 6, p. 461-470, jun. 2017. http://dx.doi.org/10.1089/acm.2016.0328.

MORADI, Khalil; ASHTARIAN, Hossein; DANZIMA, Nicholas Yakubu; SAEEDI, Hamid; BIJAN, Behrouz; AKBARI, Farzaneh; MOHAMMADI, Mohammad Mehdi. Essential oil from Citrus aurantium alleviates anxiety of patients undergoing coronary angiography: a single-blind, randomized controlled trial. Chinese Journal of Integrative Medicine, [S.L.], v. 27, n. 3, p. 177-182, 22 jun. 2020. http://dx.doi.org/10.1007/s11655-020-3266-5.

MOSLEMI, Farhad; ALIJANIHA, Fatemeh; NASERI, Mohsen; KAZEMNEJAD, Anoshirvan; CHARKHKAR, Mahsa; HEIDARI, Mohammad Reza. Citrus aurantium aroma for anxiety in patients with acute coronary syndrome: a double-blind placebo-controlled trial. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, [S.L.], v. 25, n. 8, p. 833-839, ago. 2019. http://dx.doi.org/10.1089/acm.2019.0061.

PIMENTA, Flávia Cristina Fernandes; ALVES, Mateus Feitosa; PIMENTA, Martina Bragante Fernandes; MELO, Silvia Adelaide Linhares; ALMEIDA, Anna Alice Figueirêdo de; LEITE, José Roberto; PORDEUS, Liana Clébia de Morais; DINIZ, Margareth de Fátima Formiga Melo; ALMEIDA, Reinaldo Nóbrega de. Anxiolytic effect of Citrus aurantium L. on patients with Chronic Myeloid Leukemia. Phytotherapy Research, [S.L.], v. 30, n. 4, p. 613-617, 20 jan. 2016. http://dx.doi.org/10.1002/ptr.5566.

RAMBOD, Masoume; RAKHSHAN, Mahnaz; TOHIDINIK, Sara; NIKOO, Mohammad Hossein. The effect of lemon inhalation aromatherapy on blood pressure, electrocardiogram changes, and anxiety in acute myocardial infarction patients: a clinical, multi-centered, assessor-blinded trial design. Complementary Therapies in Clinical Practice, [S.L.], v. 39, p. 1-7, maio 2020.  http://dx.doi.org/10.1016/j.ctcp.2020.101155.


quinta-feira, 3 de abril de 2025

CBD em cães: resultados de pesquisas

Paulo Augusto Lombardi Ferreira Filho – Universidade de Taubaté

Sabrina Demaria Santos – Universidade de Taubaté

Giulia Volodka Osorio – Universidade de Taubaté

Yasmim de Paulo Leite Galcez – Universidade de Taubaté

Marcos Roberto Furlan – Universidade de Taubaté

INTRODUÇÃO

O canabidiol (CBD), um composto não psicoativo derivado da Cannabis sativa ou Cannabis indica, tem atraído atenção por seus potenciais efeitos terapêuticos, oferecendo benefícios sem os efeitos adversos comumente associados ao tetrahidrocanabinol (THC). Estudos preliminares e relatos de casos sugerem que o CBD pode auxiliar no tratamento de diversas condições em cães, como dor crônica, inflamação, ansiedade e convulsões, além de melhorar a qualidade de vida de cães com osteoartrite.

Segundo Costa (2024), a suplementação de CBD em cães é geralmente bem tolerada, com poucos efeitos adversos leves semelhantes aos observados com placebo. No entanto, alguns estudos indicam uma elevação da fosfatase alcalina associada ao uso de CBD, o que pode sinalizar alterações na função hepática. Embora essa elevação nem sempre indique lesão grave, é importante monitorar os níveis hepáticos durante o uso prolongado. A autora observa que doses orais diárias de 4 mg/kg de peso corporal são bem toleradas pelos cães.

Ensaios clínicos randomizados e controlados são essenciais para avaliar a eficácia e segurança do CBD em cães. Esses estudos reduzem vieses metodológicos e permitem diferenciar os efeitos reais dos psicológicos (placebo), além de identificar possíveis efeitos adversos específicos. Eles oferecem uma validação científica robusta que assegura a aplicabilidade dos resultados em diferentes populações caninas.

O uso de cannabis medicinal em animais é uma área de interesse crescente; contudo, há uma quantidade limitada de ensaios clínicos e estudos farmacocinéticos envolvendo canabinoides na medicina veterinária. Embora mais pesquisas sejam necessárias para compreender completamente os mecanismos do CBD e seu potencial terapêutico, os resultados iniciais indicam uma perspectiva promissora para o manejo de condições complexas na medicina veterinária. 

Relato de pesquisas

Farmacocinética do CBD em cães saudáveis (Bartner et al., 2018):

O estudo comparou três formulações de CBD em 30 cães. O óleo oral mostrou maior biodisponibilidade, com meia-vida de 199,7 ± 55,9 minutos (75 mg) e 127,5 ± 32,2 minutos (150 mg). A exposição sistêmica foi proporcional à dose, confirmando superioridade do óleo oral.

Eficácia em epilepsia refratária (McGrath et al., 2024):

Em um ensaio clínico com 26 cães, o grupo CBD (2,5 mg/kg, 2x/dia) teve redução de 33% na frequência de convulsões, comparado ao placebo. Dois cães foram excluídos por ataxia. Apesar da redução, a proporção de cães com melhora ≥ 50% foi similar entre os grupos. Níveis plasmáticos mais altos de CBD correlacionaram-se com maior eficácia, sugerindo que doses elevadas podem otimizar resultados.

CBD na osteoartrite canina (Verico et al., 2020): 

Doses de 50 mg/dia de CBD puro e 20 mg/dia de CBD lipossomal reduziram significativamente a dor em cães de grande porte, com efeitos prolongados. O placebo e 20 mg/dia de CBD puro não mostraram eficácia.

CBD/CBDA na dermatite atópica (Loewinger et al., 2022):

Apesar de não melhorar lesões cutâneas (CADESI-04), o CBD/CBDA (2 mg/kg/dia) reduziu o prurido (pVAS) em 28 dias. O aumento da fosfatase alcalina em 23,5% dos cães tratados reforça a necessidade de monitoramento hepático.

Conclusão

O CBD é promissor para dor crônica e prurido, mas respostas variam conforme a dose, formulação e condição tratada.

Estudos de longo prazo são necessários para validar segurança e eficácia.

Referências

BARTNER, Lisa R; MCGRATH, Stephanie; RAO, Sangeeta; HYATT, Linda K; A WITTENBURG, Luke. Pharmacokinetics of cannabidiol administered by 3 delivery methods at 2 different dosages to healthy dogs. Canadian Journal of Veterinary Research, [s. l], v. 82, n. 3, p. 178-183, 2018. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6038832/pdf/cjvr_07_178.pdf. Acesso em: 16 jan. 2025.

COSTA, Patrícia Sofia Carlos. O uso de canábis em animais de companhia: experiência profissionalizante na vertente de investigação e farmácia comunitária. 2024. 87 f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Ciências de Saúde, Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2024.

LOEWINGER, Melissa; WAKSHLAG, Joseph J.; BOWDEN, Daniel; PETERSKENNEDY, Jeanine; ROSENBERG, Andrew. The effect of a mixed cannabidiol and cannabidiolic acid based oil on clientowned dogs with atopic dermatitis. Veterinary Dermatology, [S.L.], v. 33, n. 4, p. 329, 29 maio 2022. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/vde.13077.

MCGRATH, Stephanie; BARTNER, Lisa R.; RAO, Sangeeta; PACKER, Rebecca A.; GUSTAFSON, Daniel L.. Randomized blinded controlled clinical trial to assess the effect of oral cannabidiol administration in addition to conventional antiepileptic treatment on seizure frequency in dogs with intractable idiopathic epilepsy. Journal of The American Veterinary Medical Association, [S.L.], v. 254, n. 11, p. 1301-1308, 1 jun. 2019. http://dx.doi.org/10.2460/javma.254.11.1301.

VERRICO, Chris D.; WESSON, Shonda; KONDURI, Vanaja; HOFFEREK, Colby J.; VAZQUEZ-PEREZ, Jonathan; BLAIR, Emek; DUNNER, Kenneth; SALIMPOUR, Pedram; DECKER, William K.; HALPERT, Matthew M.. A randomized, double-blind, placebo-controlled study of daily cannabidiol for the treatment of canine osteoarthritis pain. Pain, [S.L.], v. 161, n. 9, p. 2191-2202, 24 abr. 2020. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). http://dx.doi.org/10.1097/j.pain.0000000000001896.

sexta-feira, 28 de março de 2025

CANABIDIOl: APLICAÇÕES NA CLÍNICA VETERINÁRIA

Juliano Lacerda Tapajós - Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté 
Juliana de Camargo Januário - Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté 
Lívia Patto Gonçalves Soares - Medicina Veterinária - Universidade de Taubaté 

Resumo 

O uso da cannabis na medicina veterinária tem ganhado destaque devido às suas propriedades terapêuticas. Estudos demonstram que os canabinoides, como o canabidiol (CBD) e o tetraidrocanabinol (THC), atuam no sistema endocanabinoide dos animais, oferecendo benefícios no tratamento de dores crônicas, epilepsia, inflamações e distúrbios comportamentais. No entanto, o uso veterinário ainda enfrenta desafios regulatórios e riscos de toxicidade, especialmente relacionados à ingestão acidental de THC. Este artigo analisa o potencial terapêutico da cannabis na medicina veterinária, seus mecanismos de ação, indicações clínicas e as precauções necessárias para um uso seguro. 

Palavras-chave: Cannabis, Canabinoides, Medicina Veterinária, Terapia, Sistema Endocanabinoide.

Introdução 

O interesse no uso medicinal da cannabis tem crescido nos últimos anos, tanto na medicina humana quanto na veterinária. No Brasil, a regulamentação ainda é limitada, mas pesquisas demonstram seu potencial terapêutico para diversas condições clínicas em cães e gatos (Ramalho, 2023). Este artigo explora as aplicações da cannabis na prática veterinária, destacando seus benefícios, riscos e desafios.

Desenvolvimento 

A Cannabis sativa contém compostos bioativos chamados fitocanabinoides, sendo os principais o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). Esses compostos atuam no sistema endocanabinoide (SEC), que está presente em mamíferos e regula funções como dor, inflamação, humor e apetite. 

O SEC é composto por receptores específicos: 
CB1: Predominante no sistema nervoso central, influencia processos neurológicos e comportamentais.
CB2: Relacionado ao sistema imunológico, possui efeitos anti-inflamatórios e analgésicos. 

A ativação desses receptores pode ser útil no manejo da dor, epilepsia e distúrbios comportamentais em animais de companhia (Ramalho, 2023). O CBD, em particular, apresenta diversas propriedades terapêuticas, incluindo: 
Controle da dor e inflamação. 
Redução da frequência e gravidade de convulsões em casos de epilepsia. 
Modulação de distúrbios comportamentais.
Possível efeito antitumoral, inibindo a proliferação celular e induzindo apoptose em células tumorais (Ramalho, 2023). 

Apesar dos benefícios, o uso da cannabis na medicina veterinária exige cautela. O THC, por exemplo, tem alto potencial psicoativo e pode causar toxicidade em animais, especialmente em cães e gatos. Sintomas de intoxicação incluem ataxia, letargia, incontinência urinária e, em casos graves, crises convulsivas (Amissah et al., 2022). 

Riscos do THC: 
Possui efeitos psicoativos e pode causar intoxicação grave. 

Segurança do CBD: Geralmente bem tolerado, mas requer monitoramento da dose para evitar efeitos adversos. 

Conclusão 

O uso da cannabis na medicina veterinária apresenta um grande potencial terapêutico, especialmente no manejo da dor, epilepsia e inflamação. No entanto, é essencial que sua administração seja baseada em evidências científicas e regulamentada para garantir a segurança dos animais. Mais pesquisas são necessárias para estabelecer protocolos de dosagem seguros e eficazes. 

Referências 

Amissah, R. Q., Vogt, N. A., Chen, C., Urban, K., & Khokhar, J. (2022). Prevalence and characteristics of cannabis-induced toxicoses in pets: Results from a survey of veterinarians in North America. PLOS ONE, 17(4), e0261909. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0261909 

Blasius, R. K., Tamura, V. S. B., & Sprada, A. G. (2021). Aplicação de canabinoides em cães e gatos: Uma revisão sistemática. Anais Eletrônico XII EPCC, UNICESUMAR. 

Ramalho, J. P. L. (2023). Potencial terapêutico da Cannabis na Medicina Veterinária. Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC.