terça-feira, 14 de maio de 2013

Testes avaliam memória de cães e atesta vínculos com humanos

Rúvila Magalhães - ruvila.avelino@usp.br
14/maio/2013
Pesquisa contou com amostra de 15 cães de diversas raças

Cães testados em pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da USP mostraram-se capazes de reter informações sobre a localização de alimento escondido, após intervalos de até 4 minutos. Esse resultado é parte do estudo realizado pela psicóloga Maria Mascarenhas Brandão em sua dissertação de mestrado em psicologia experimental. Os animais demonstraram mais facilidade na execução da tarefa ao serem lembrados da localidade do objeto escondido por um gesto humano, fato que atesta um vínculo entre as espécies. A capacidade de recordar, dentro do tempo de retenção indicada, não se mostrou abalada por distrações causadas propositalmente.

A pesquisa A memória de um gesto comunicativo humano no cão doméstico (Canis familiaris), orientada por César Ades, contou com uma amostra de 15 cães de diversas raças. O estudo objetivava investigar se um cachorro de estimação seria capaz de reter uma informação dada por um ser humano e por quanto tempo ela ficaria armazenada. Já durante a pesquisa, dotada de dois experimentos, foram determinados dois objetivos específicos.

“No primeiro experimento, o objetivo era verificar se haveria um decréscimo no número de acertos na tarefa de busca de um alimento escondido com o aumento do intervalo de tempo entre a aquisição da informação, que é o local do esconderijo, e o seu uso, que é a possibilidade de buscar o objeto”, relata Maria. Esse primeiro experimento contou com duas situações diferentes: na primeira, o cão deveria perseguir o alimento contando apenas com a percepção visual; na segunda, um ser humano era o mediador, indicando com gestos o local para onde o cão deveria ir. No segundo experimento, o objetivo era explorar fatores de interferência na memória, submetendo o animal a distrações. Todos os animais passavam por esses dois experimentos.

Desempenho

De maneira geral, os cães demonstraram melhor desempenho no intervalo de 60 segundos, sendo que a informação era retida por até 4 minutos. Os cães foram mais bem-sucedidos na tarefa quando recebiam indicação gestual, mesmo em comparação com o momento em que eles poderiam olhar diretamente para o alimento. Em nenhuma das situações observadas as distrações tiveram resultados significativos.

O melhor desempenho dos cães para os quais o alimento era indicado por um gesto surpreendeu a pesquisadora: “Durante a elaboração das hipóteses, pensou-se que os cães responderiam com mais facilidade na situação de observação direta, justamente pela possibilidade de ver o alimento, já que este estava colocado como elemento motivador e recompensa final e por isto parecia mais relevante para o cão”, relata Maria.

Segundo a pesquisadora, ainda há muito o que estudar e entender sobre o assunto. Há uma necessidade de uma amostra maior e o estudo de outros fatores ligados à memória. “Embora haja indicação de uma habilidade adquirida evolutivamente, não é possível sem uma investigação mais detalhada descartar o papel do aprendizado no desempenho da tarefa”, explica.

“Ao reforçar a importância do vínculo entre cães e seres humanos, a pesquisa aponta para a necessidade de se estudar a cognição canina para entender melhor esta relação”, conclui Maria. Segundo ela, a pesquisa não tinha um propósito relacionado à aplicações práticas diretas, porém os desdobramentos podem levar a reflexões a respeito da relação entre homens e cães.

Imagem: Wikimedia Commons
Mais informações: email mariamb@gmail.com, com Maria Mascarenhas Brandão

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