[EcoDebate] SILVA et. al. (2014) explicitam que a transição agroecológica deste assentamento passa por um processo importante através das atividades agrícolas desenvolvidas no assentamento, em que a maioria dos assentados se mostra conscientes em quanto ao enlace da sustentabilidade de uma maneira empírica.
Se percebe que por se tratar de um assentamento com mais de 20 anos existem poucos jovens envolvidos na continuação da agricultura, isso pode ser atribuído ao fato de que o campo seja visto como um local de atraso para eles e por oferecer poucas oportunidades para que eles cresçam em virtude da agricultura.
A fragilidade do processo organizacional e talvez de um planejamento mais especializado gere um pequeno atraso quando a formulação de um processo de educação no campo de maneira que, fosse facilitado o desenvolvimento da Transição Agroecológica.
Além disso, a produção sem uso de insumos agrícolas (herbicidas, fungicidas, inseticidas) e o manejo da vegetação remanescente, Caatinga, ao assentamento é outra circunstância relevante.
Os agricultores familiares são marginalizados, diante da necessidade da soberania alimentar não podendo garantir suas necessidades, alimentares no campo. A política pública de reforma agrária, de crédito, de investimento e de comercialização deve ir contra essa tendência à concentração da produção.
Isto, por sua vez, induziu a mudanças na estrutura produtiva a favor dos produtos com maior demanda no mercado (frutas, hortaliças, sementes, oleaginosas, produtos florestais e carnes de aves) e em detrimento de produtos tradicionais da região como trigo, café, açúcar, algodão e banana.
Neste pressuposto quanto à soberania alimentar observada no assentamento Soledade em suas realidades, nas famílias acompanhadas há disparidades quanto à produção, sendo que em parte do assentamento ainda se encontra em avanço no processo de desenvolvimento, de suas atividades produtivas, podendo ainda ser ampliado em grande parte o quintal produtivo, quanto à disponibilidade de produtos, fazendo assim, com que haja maior diversificação dos alimentos produzidos.
Em contrapartida outra área do mesmo assentamento acaba se sobressaindo com uma maior variedade de alimentos produzidos em seu quintal produtivo, dando margem à percepção da importância de se consumir um alimento saudável e de procedência, porém alguns agricultores ainda resistem à produção desses alimentos em suas terras, tornando claro uma falha na transição agroecológica.
O processo para o desenvolvimento da economia solidária, presente no Assentamento Soledade, ainda não abrange o assentamento como um todo. Para que o processo se desenrole é necessário o estabelecimento da transição agroecológica e da soberania alimentar, pilares do enlace da sustentabilidade.
Nas realidades vivenciadas no, entanto, é notável que há uma queda, no que diz respeito a comercialização dos produtos, por não existir políticas que incentivem a venda de forma justa e solidária, onde os assentados não dispõe de uma feira agroecológica para o escoamento da produção e outros projetos e políticas que estimulem o consumo de alimentos saudáveis, que venham a influenciar na ampliação de uma economia sustentável que cresça no assentamento, de forma positiva.
Assim como os produtos derivados ou secundários como a polpa e corante, que não funcionaram por falta de organização tanto do grupo em questão, quanto da dificuldade de levar esses produtos para outros centros de comercialização, evidenciando a falta de políticas públicas que agreguem valor, facilitando e motivando a atividade.
A partir do que foi observado no Soledade, evidencia-se o potencial da região, no desenvolvimento de uma agricultura de base agroecológica, Porém é de suma importância à consolidação de políticas, que estimulem a produção e a permanência de agricultor no campo, permitindo assim a conservação de sua identidade e o estabelecimento de um novo viés para a transição da agricultura familiar moderna, para uma agricultura de base agro-ecológica que acarrete inúmeros benefícios ao produtor e ao consumidor do produto final.
Outra dimensão de elevada importância, trata-se do trabalho desenvolvido pela ponte formada entre as universidades e entidades não governamentais, para melhor comunicação entre os agricultores, formando um conhecimento que se adapte a cada realidade.
Não adianta trazer tecnologias relacionadas a uma agricultura convencional ou ainda que não haja formação entre os agricultores, se essas não se enquadrarem com a situação vivida em cada assentamento e comunidades rurais e subvertam a autonomia.
Uma outra cosmovisão do mundo é necessária para resgatar a dignidade e a qualidade de vida de todas as populações.
Referências:
ESTEVÃO, P., CASTELA, E. F. de, SOUSA, D. N. de, MILAGRES, C. S. F. A. Extensão rural e sua trajetória histórica. VIII Congresso Latino-americano de Sociologia Rural, Porto de Galinhas, 2010.
TEIXEIRA, G., O agronegócio é ‘negócio’ para o Brasil? Presidente da ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária, 2013
SILVA, Maria Janaina Nascimento, AGUIAR Kalianne Carla de Souza , LEMOS, Marcílio de, COSTA, Paula Alinne de Almeida. O Enlace da Sustentabilidade no Assentamento Soledade: Vivenciando e Construindo saberes agroecológicos. Cadernos de agroecologia, v. 9, n. 4, 2014
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 08/06/2016
"Enlace de sustentabilidade, Parte II, Final, artigo de Roberto Naime," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 8/06/2016,https://www.ecodebate.com.br/2016/06/08/enlace-de-sustentabilidade-parte-ii-final-artigo-de-roberto-naime/.
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