O inverno chegou oficialmente no dia 20 de junho, mas o frio veio com tudo, de norte a sul do País, muito antes desta data. As baixas temperaturas têm forçado os brasileiros a retirarem do guarda-roupa os casacos, as toucas, os gorros e até as luvas. Para quem descobre estar despreparado para enfrentar a mudança brusca e não quer nem pensar em bater o queixo, o jeito é ir às compras.
O problema é que o mesmo clima que aquece as vendas aquece também a procura nos prontos-socorros. O Ministério da Saúde admite o aumento de atendimentos durante essa época do ano, mas diz não ter um levantamento com números precisos. Um detalhe não deixa dúvidas: em geral, as crianças de 0 a 2 anos de idade são as maiores vítimas de infecções típicas desse período.
A empresária Iene Almeida mora em Brasília e é mãe de uma menina de 9 anos. Desde que a filha nasceu, a situação complica quando a temperatura cai. “Ela é alérgica e nesse frio é um tormento. Aparecem as crises de rinite, a tosse e a gripe. Tem até início de bronquite. Tudo aparece de uma vez só. Ela não dorme direito. É muito ruim nesse tempo. Se eu pudesse, me mudaria de Brasília”, desabafa.
Calma, Iene. O problema não é exclusivo da capital federal. É geral! A pneumologista pediatra da Salute – Clínicas Especializadas, Drª Cláudia Lidroneta, ressalta, em primeiro lugar, que essas doenças são registradas em outros períodos do ano, porém mais frequentes e mais graves nessa estação. São otites, sinusites e outras doenças respiratórias, como pneumonias virais ou bacterianas e bronquiolites. “Quando a temperatura diminui e há redução da radiação ultravioleta, os vírus sobrevivem mais tempo. E aí eles passam mais facilmente de pessoa para pessoa. Ao lado disso, existem mais fatores. Um deles é a tendência das pessoas ficarem mais agrupadas em ambientes fechados, o que facilita a transmissão”, esclarece.
A gripe está entre as primeiras da lista. Apresenta como principais sintomas coriza (nariz escorrendo), tosse, congestão dos olhos e nasal. A febre pode ocorrer ou não. “Ela pode se complicar com otite até pneumonia. Por isso, podemos dizer que a gripe é uma doença facilitadora da ocorrência de outras patologias”, acrescenta a Drª Claudia.
A prevenção inclui atitudes como manter o ambiente arejado, evitar lugares com muita gente e locais onde há pessoas doentes, porque isso aumenta a circulação do vírus. No caso dos bebês, o ideal é não oferecer a mamadeira na posição totalmente deitada.
Ela é aparentemente simples, mas deve ser tratada com a orientação de um médico. Subestimá-la é correr riscos. “Não é infrequente que a criança mais debilitada, depois de uma infecção por um agente mais virulento, desenvolva um quadro de complicação, uma delas é a pneumonia, quando a infecção atinge os pulmões”, alerta a especialista.
Os sintomas mais comuns da pneumonia são febre alta e tosse produtiva com secreção (catarro) abundante. Quando a temperatura do corpo diminui, a criança fica prostrada. Além disso, há sensação de cansaço e ela passa a respirar muitas vezes por minuto. O médico pode, diante desses sinais, optar por tratar sem fazer o raio-x e considerar o diagnóstico. “Esse é um ponto importante. O raio-x tem radiação. Interessante evitá-lo, sempre que possível, numa criança pequena, principalmente se ela tem muitas infecções respiratórias e frequentemente vai ao pronto-socorro. O paciente deve sempre perguntar ao médico se é possível diagnosticar sem esse tipo de exame, porque é uma opção mais coerente”, justifica a especialista.
E olhe esses números. A gripe atinge até 30% da faixa etária de 0 a 12 anos. Quanto à pneumonia, no Brasil, a doença é a causa de aproximadamente 11% das mortes de menores de um 1 ano de vida. De 1 a 4 anos de idade, o percentual é de 13%. Em 2013, dados oficiais indicaram incidência de gripe anual de 33 para cada 10 mil crianças menores de 5 anos, e de 14,5 para cada 10 mil com menos de 16 anos.
A pneumologista pediatra não poupa o alerta: “A tendência dos pais é agasalhar excessivamente e fechar todo o ambiente. Está errado. Devemos permitir espaços arejados, mesmo com a presença do vento e do frio para impedir a maior circulação do vírus. Evitar levar os pequenos doentes para a escola é o melhor que se faz. E tem mais. Por conta da baixa umidade, muita gente corre atrás dos umidificadores. Eles são de fácil contaminação. Melhor dar preferência à velha bacia com água embaixo da cama e à toalha molhada no quarto. Esses métodos antigos funcionam”, conclui a Drª Claudia Lidroneta.
in EcoDebate, 29/06/2016
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