[EcoDebate] O geólogo russo TER STEPANIAN (1970), num boletim do IAEG (International Applied Engineering Geologists) em 1970, propôs que o período geológico atual, denominado holocênico, fosse conhecido por Tecnógeno.
E o que significa tecnógeno? Uma fase da vida da humanidade sobre a Terra, onde a ação humana (antropogênica ou de engenharia) é hegemônica sobre as ações geológicas, químicas e biológicas.
O tecnógeno ou antropoceno é então uma ciência voltada para o futuro, preocupada em acompanhar as mudanças ambientais e risco naturais devido à lenta ação de fatores imperceptíveis, que são gerados pela atividade tecnogênica do homem.
São necessários novos padrões, onde não necessariamente equações lineares, oscilatórias ou equações muito simples podem servir de modelos para sistemas governados pela entropia, onde os processos de fluxo de energia e materiais são hegemônicos sobre as representações fenomenológicas.
O tecnógeno guarda implícito o conceito de que a resiliência dos meios naturais foi ultrapassada. Ou traduzindo, que a capacidade de auto-recuperação dos ecossistemas e dos sistemas em geral, não consegue mais agir para voltar ao estado anterior a um impacto ambiental sozinha. Precisa da ajuda do próprio homem que gerou o impacto ambiental.
Fazendo uma analogia com uma borrachinha de dinheiro usada pelos bancos, podemos entender assim. A gente espicha a borrachinha e enquanto ela não rebenta e volta ao normal quando a gente pára de espichar, a resiliência não foi ultrapassada. Quando a borrachinha rebenta, quer dizer que a resiliência ou capacidade de auto-regeneração do sistema foi ultrapassada.
Mais modernamente propõe-se, em data ainda controversa entre o início da revolução industrial e o final do século XX como o início do Antropoceno, a era de influência massiva da espécie humana, uma época de profundas mudanças climáticas e de transformações expressivas no modo em que vivemos em virtude das alterações no ambiente. Estamos tratando do caos da vida e precisamos entender o que representa a chegada do Antropoceno.
A agenda 21 brasileira, bases para discussão, publicada pelo Ministério do Meio Ambiente, discute desafios em vários setores relevantes da gestão de recursos naturais do país e de sustentabilidade em setores fundamentais.
Portanto a aceitação cada vez maior no meio acadêmico do conceito de tecnógeno traz como consequência principal o consenso de que atualmente as relações dos processos antropogênicos, ou seja gerados pelo homem (ou de engenharia, neste sentido, como estradas, pontes, barragens, lavouras, indústrias, esgotos e resíduos sólidos) naturais e induzidos são os processos dominantes no tecnógeno (ou antropoceno, como queiram).
Estes processos ultrapassam a capacidade da natureza se recuperar sozinha, impondo a necessidade da própria intervenção humana para auxiliar a recuperação da natureza e a manutenção do equilíbrio que é fundamental para a qualidade de vida do próprio homem na Terra.
As mudanças climáticas e a perda da biodiversidade já desencadearam um processo de destruição de recursos naturais que ameaça as condições de vida humana no planeta. Segundo Paul Crutzen, prêmio Nobel de Química 1995, já entramos em uma nova era geológica, o Antropoceno, em que o homem começa a destruir suas condições de existência no planeta.
Em 2002, o historiador John McNeill alertou em seu livro “Algo de Novo Sob o Sol” que a humanidade vem se aproximando perigosamente das “fronteiras planetárias”, ou seja, os limites físicos além dos quais pode haver colapso total da capacidade de o planeta suportar as atividades humanas. (Something New Under the Sun, McNeill, 2002).
Os eventos climáticos extremos não cessam de confirmar sua advertência, secas, inundações, desertificação, falta d’água, temperaturas excessivas, desastres naturais e refugiados ambientais.
Em setembro de 2009, um artigo da revista Nature (A safe operating space for humanity, Rockström et alii, 2009) afirma que pode estar sob grave ameaça a longa era de estabilidade, conhecida como Holoceno, em que a Terra foi capaz de absorver, de maneira mais ou menos suave, perturbações internas e externas.
Um novo período, o Antropoceno, vem emergindo desde a Revolução Industrial e seu traço característico é a centralidade das ações humanas sobre as mudanças ambientais globais.
O advento do Antropoceno traz consigo o fim da estabilidade geobiofísica do planeta, quebrando a matriz de estabilidade e linearidade que é o pressuposto para previsões do futuro com base em acontecimentos do passado.
A não linearidade é a nova realidade, porque é característica de sistemas complexos tais como os sistemas geobiofísicos. Como as fronteiras planetárias estão sendo ultrapassadas, a solução seria caminhar na direção de uma governança global que ultrapassasse os atuais limites de soberania para um sistema internacional baseado na pós-soberania.
No número de dezembro de 2007 da revista Ambio, Paul Crutzen detalha os impactos que marcam a entrada no antropoceno.
Com Will Steffen, especialista em problemas ambientais da Universidade Nacional de Canberra, Austrália, e John McNeill, professor de história na School of Foreign Service em Washington, publica um artigo intitulado “O antropoceno: os humanos estão prestes a fazer submergir as grandes forças da natureza?”.
Após ter modificado, nestes últimos cinqüenta anos, seu ambiente como nunca o fizera antes, perturbando o sistema climático e deteriorando o equilíbrio da biosfera, a espécie humana, transformada numa “força geofísica planetária”, deve agora agir muito rapidamente para limitar os desgastes.
De acordo com ele, essa era se iniciou por volta de 1800, com a chegada da sociedade industrial, caracterizada pela utilização maciça de hidrocarbonetos.
Desde então, não cessa de crescer a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, causada pela combustão desses produtos. A acumulação dos gases do efeito-estufa contribui para o aquecimento global. A primeira fase do Antropoceno vai de 1800 a 1945 ou 1950 e corresponde, portanto, à formação da era industrial.
Referência:
** Artigo anterior desta série:
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
in EcoDebate, 29/06/2016
"Antropoceno, Parte 2/3, artigo de Roberto Naime," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/06/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/06/29/antropoceno-parte-23-artigo-de-roberto-naime/.
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