quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ciência e cultura popular juntas no uso de plantas medicinais


A ciência, a cultura popular e a medicina alternativa são unânimes: as plantas medicinais têm o poder da cura para vários males que atingem o corpo e a alma. Arnica, aroeira, ipê roxo, espinheira-santa, camomila e alcachofra são algumas das plantas mais comuns utilizadas com o fim de evitar e sanar enfermidades, igualmente receitadas por pesquisadores, terapeutas e comerciantes. A unanimidade se encerra por aí: quando o assunto é forma de tratamento, receita e dosagem, cada fonte de saber enxerga o consumo das plantas medicinais de forma bem particular.

Para a farmacêutica Aparecida Pires, o uso dos chamados fitoterápicos - como são chamados os medicamentos naturais feitos à base de plantas medicinais – podem ser utilizados em parceria com os remédios convencionais. “As pessoas podem e devem fazer uso da medicina alternativa, o que não pode é deixar de visitar o médico ou usar qualquer medicamento, seja fitoterápico ou não, de maneira excessiva. Tudo em excesso prejudica”, alerta a farmacêutica. Ela complementa afirmando que apesar do crescimento do uso da medicina alternativa no Brasil, ainda há muito a fazer. “Estamos engatinhando, temos uma flora muito rica, que precisa ser estudada”, destaca.


A farmacêutica é proprietária da Farmácia Sal da Terra, localizada no bairro do Derby, Centro do Recife, que produz medicamentos homeopáticos e florais. A maioria das plantas utilizadas para a fabricação dos florais são importadas de São Paulo, colhidas em determinado horário e submersas em água mineral. “O cultivo e a colheita devem ser feitos de forma criteriosa, por isso a importância do estudo das plantas medicinais”, enfatiza.

Nesse ponto, a pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Evani Araújo, mestre e doutora em farmácia com linha de pesquisa na área de plantas medicinais, concorda com a farmacêutica. Para ela, a ciência tem o papel de orientar o consumo na cultura popular. “Não existem leis para regularizar o uso de plantas pela população, as pessoas usam de forma indiscriminada. Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) certificar a eficácia de uma planta para tal doença leva anos de pesquisa e o custo é alto”, destaca. 

Evani explica que o uso popular das plantas ajuda a ciência quando identifica algum resultado prático, simbolizando o primeiro passo para a descoberta. “A população é a fonte da nossa pesquisa, até porque não vamos pegar qualquer matinho na estrada e fazer pesquisas. Nós começamos a estudar a planta, nós fazemos os testes em cima do que as pessoas disseram, isso é positivo”.


Apesar disso, ela orienta que não é seguro o uso de qualquer planta de forma indiscriminada. “As pessoas costumam dizer: 'quando não ajuda, também não atrapalha', mas não é assim que funciona. A toxicidade crônica do vegetal precisa ser estudada”. Um episódio é lembrado pela pesquisadora, em relação ao uso do chá da planta Confrei. “Houve um tempo em que todos tinham um litro de chá de Confrei na geladeira, já que ela tinha propriedades anti-inflamatórias e era muito usada em contusões. A partir disso, a universidade decidiu estudar a planta em ratos e depois da autópsia do animal foram encontradas doenças degenerativas, como câncer no rim, pulmão e fígado. Ou seja, a planta pode não causar problemas imediatos, mas a longo prazo pode originar uma doença”, alerta.

Por último, entra a cultura popular, simplificando a ingestão das plantas para o tratamento de doenças. No ponto 98 da Rua da Praia com o Mercado de São José, no Centro do Recife, o comerciante Claudemir Ferreira Gomes, mais conhecido como “Doutor Raiz” medica chás, raízes, plantas e “garrafadas” para todos as males do corpo e da alma. Para o comerciante, não tem muito mistério. “A coisa certa é ensinar certo. O camarada não vai pegar quixaba, aroeira, canela, caju roxo e arnica e fazer um remédio só, não pode. Tem que saber para que cada planta serve”, ensina.


O comércio de Dr. Raiz já é conhecido nos arredores do Mercado de São José, local onde ele atua há 44 anos. Ele revela que um dos remédios mais procurados é para “fígado crescido”. “Quando chegam aqui com a barriga crescida, já sei que é problema no fígado e indico uma garrafada de picão preto, também conhecido como picão da praia. Três colheres por dia e não tem erro”, indica.

No local, os clientes ainda encontram remédio para câncer (feito à base de Avelois), artrite ou artrose (Arnica), inflamação nos ossos e tuberculose (raiz de Macaíba), problemas de estômago (Espinheira-santa), vários tipos de verme (o chamado “Caseiro Sertanejo”), entre outros. Para as mulheres com problemas de cisto ou miomas, o Dr Raiz indica a raiz de Unha-de-Gato e para emagrecer, o chá Sete Ervas. Ele finaliza a entrevista reafirmando o poder das plantas: “Eu tenho cliente senador, deputado, vereador e até governador que procura meus medicamentos. Eu aprovo a cura pelas plantas”.

Texto: Suzan Vitorino Do NE10
Data: 12.09.2012
Link:
http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/saude/noticia/2012/09/12/ciencia-e-cultura-popular-juntas-no-uso-de-plantas-medicinais-367405.php

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