O Brasil registrou aumento de 300% no número de crianças de cinco a nove anos de idade que estavam acima do peso
“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço” expressa bem os achados de um estudo da USP em Ribeirão Preto sobre hábitos alimentares e estado nutricional de crianças e seus familiares. Apesar da preocupação com a alimentação das crianças, a maioria dos responsáveis participantes da pesquisa também apresentava dieta inadequada ou precisando de modificação.
Ao analisar rotinas, atitudes, crenças e algumas doenças ligadas à obesidade, especialistas do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP observaram que a influência de pais ou responsáveis sobre o comportamento alimentar dos filhos é maior que imaginam. E não apenas pelo que dizem às crianças, mas, principalmente, pelo que eles próprios consomem.
A nutricionista Gabriela Pap da Silva avaliou 164 crianças de seis a dez anos e seus familiares ou principais responsáveis pela nutrição, todos residentes na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Dentre os resultados, verificou que “a maior parte das crianças que apresentaram excesso de peso (56) possuía responsável também com excesso de peso (46)”.
Mais da metade das crianças (51,8%) tinha dieta “inadequada” e outros 47%, dieta com “necessidade de modificação”. Seus responsáveis também tinham valores altos de dieta “inadequada” (30,5%) e de “necessidade de modificação” da dieta (67,1%).
Gabriela justifica a importância dessas informações para tomada de atitudes familiares diante do que é considerada uma epidemia mundial: a obesidade infantil. Trata-se de “uma doença de causas multifatoriais, com destaque para hábitos de vida e alimentares”, que podem sofrer influência de seus cuidadores.
A obesidade infantil é considerada uma epidemia mundial e no Brasil os casos só aumentam – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Entre 1989 e 2009, o Brasil registrou aumento de 300% no número de crianças de cinco a nove anos de idade que estavam acima do peso; e ainda “grande prevalência de dislipidemia” entre elas, conta a pesquisadora. No grupo de Ribeirão Preto, estudado por Gabriela, algumas doenças alcançaram números expressivos entre os familiares próximos das crianças: 46,3% de diabetes mellitus, 62,8% de hipertensão arterial e 31,1% de dislipidemias.
A Organização Mundial da Saúde estima que essa população infantil obesa deva chegar a 75 milhões até 2025. Como problema de saúde pública, a preocupação se deve ao risco alto dessas crianças desenvolverem problemas de adultos como diabete, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Gabriela Pap da Silva trabalhou sob orientação da professora Telma Maria Braga Costa e do professor Sebastião de Sousa Almeida, do Departamento de Psicologia da FFCLRP, para obtenção de seu título de mestre em Psicobiologia. A dissertação de mestrado foi defendida em julho deste ano.
Rita Stella, de Ribeirão Preto
Mais informações: e-mail gabrielapapdasilva@gmail.com
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