O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades do mundo, principalmente relacionada à flora, que se apresenta ainda pouco explorada, rica em plantas para os mais diferentes usos. Não é necessário ir muito longe para constatação, pois podemos encontrar espécies alimentícias, medicinais ou com aplicações na agricultura em diversos terrenos, nascendo espontaneamente ao nosso redor.
Apesar de a maioria da população estar dentro das casas na maior parte do tempo, nos quintais, exceto os cimentados, nascem plantas sem a intervenção do ser humano. Como competem com as ornamentais e/ou as comestíveis, dentre outras, são denominadas por leigos como plantas daninhas ou invasoras. No entanto, todas elas possuem uma ou mais utilidades, não justificando, portanto, esses nomes pejorativos.
Dentre os exemplos, existem vegetais como os carurus (está no plural, pois, dependendo da região, há mais de uma espécie com este nome, todas pertencentes ao gênero Amaranthus). Essas espécies são indicadoras de solo rico em matéria orgânica e comestível. É importante destacar que, quando ocorrem somente carurus, é sinal de que o solo está desequilibrado quanto à fertilidade.
Outrora, era comum comer algumas das espécies de caruru refogadas na sopa de fubá, porém, não são todos os carurus que podem ser consumidos, sendo evitado pela população tradicional aqueles que possuem “espinhos” (Amaranthus spinosus), por acreditar que sejam tóxicos. Quanto ao equilíbrio de insetos pragas na horta caseira, os besouros preferem atacar mais os carurus a muitas das hortaliças. Ou seja, ao arrancá-los, os besouros, por não terem essas fontes de alimentos, aumentam o ataque às outras plantas.
Outra planta de múltiplas aplicações é a erva-de-são-joão (Ageratum conyzoides). Além do uso na medicina popular, para cólica infantil, há estudos que demonstram sua ação como anti-inflamatório. Na agricultura, indica solo fértil, hospedando inimigos naturais de ácaros. Também existem referências de uso para infecção de útero em vacas.
Muitas das plantas que ocorrem no quintal são comestíveis, e como não são comumente consumidas como alimentos, são denominadas plantas alimentícias não convencionais (PANCs). Uma delas, a serralha (Sonchus oleraceus) é encontrada em feiras, como verdura. Há outras comestíveis conhecida como serralha, são as denominadas serralhinha ou bela-emília (Emilia sonchifolia). As duas “serralhas”, por terem caules tenros, são preferidas pelos pulgões.
Outra planta que já foi comercializada como hortaliça é a beldroega (Portulaca oleracea). É comum encontrá-la nas saladas de alguns restaurantes. Outras, de origem europeia, são as tanchagens (gênero Plantago), consumidas em algumas regiões da Europa, como alimento.
Há outras ainda desconhecidas como alimentos pela maioria da população, como a maria-pretinha (Solanum nigrum), o mentruz (Coronopus didymus) e o picão-preto (Bidens pilosa).
Apesar de serem consideradas alimentos, essas plantas, por não serem domesticadas pelo ser humano, possuem fatores antinutricionais, isto é, têm substâncias que dificultam a absorção de nutrientes. Porém, os efeitos negativos só irão surgir quando ocorre o consumo contínuo e em grandes quantidades.
Nascem também, nos quintais, algumas espécies do gênero Sida, denominadas por guanxumas ou vassourinhas. São indicadoras de solos compactados, sendo utilizadas para fazer vassouras caseiras. O picão-branco (Galinsoga parviflora) é outra planta que revela a qualidade do solo. Sua presença em grande quantidade indica que o solo é rico em matéria orgânica, mas deficiente em alguns micronutrientes.
Em animais, o picão-branco é usado misturado com o picão-preto nas rações ou nas forragens, para diminuir os efeitos tóxicos de medicamentos em cavalos. A erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides) é utilizada como repelente de pulgas e piolhos, e como vermífugo para animais.
As plantas dos quintais se destacam também como medicinais. Um exemplo é a já citada erva-de-são-joão. As quebra-pedras (gênero Phylanthus) são mais conhecidas pela população devido ao uso contra pedras nos rins.
Há referências científicas de algumas delas como hepatoprotetoras, como o picão-preto e a erva-botão (Eclipta alba). Uma que é reconhecida como diurética e usada desde a antiguidade é o dente-de-leão (Taraxacum officinale). Esta espécie é também comestível, indicadora de solo bom, usada como alimento de animais para estimular a lactação e fornecedora de inulina para a indústria de pães e de outros produtos da panificação.
Muitas vezes essas espécies ocorrem apenas em quintais. Quando esses locais são cimentados ou ocorre a erradicação constante dessas plantas, uma das consequências pode ser a extinção. Logo, a preservação delas e de seus usos é importante, principalmente para a melhoria da nossa alimentação e da nossa saúde.
Dente-de-leão
Beldroega
Texto:
Giovanna Brito Lins - Graduanda em Ciência e Tecnologia e Ciências Biológicas na Universidade Federal do ABC.
Marcos Roberto Furlan – Prof. e Membro do Mestrado em Ciências Ambientais da UNITAU
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