quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Unha-de-gato combate efeitos da obesidade em camundongos

22/08/2018

Extrato de planta amazônica melhora sensibilidade à insulina e reduz inflamação em modelo animal
A Uncaria tormentosa é um cipó que cresce em florestas tropicais e tem propriedades anti-inflamatórias – Foto: Vangeliq.petrova via Wikimedia Commons – CC

Uma pesquisa realizada pelo grupo da professora Carla Carvalho, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, mostrou que o consumo de extrato da planta amazônica unha-de-gato (Uncaria tormentosa) melhora os sintomas da obesidade em camundongos. O trabalho, que faz parte da tese doutoral da pesquisadora Layanne Araújo, foi publicado na revista Scientific Reports.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, o número de pessoas com obesidade no mundo tem quase triplicado desde 1975, atingindo os 650 milhões no ano 2016. Hoje em dia a obesidade é responsável por mais mortes do que a desnutrição ou os acidentes de trânsito.

Além dos próprios efeitos prejudiciais para a saúde, como o entupimento dos vasos sanguíneos, a obesidade também está estreitamente ligada ao desenvolvimento de duas outras condições patológicas: a diabetes de tipo 2 e a resistência à insulina – o hormônio que regula o uso de nutrientes pelas células do organismo após as refeições.

Embora os especialistas concordem em que a melhor forma de combater a obesidade é a prevenção, existe uma grande demanda por tratamentos que melhorem a saúde e qualidade de vida das pessoas que já padecem obesidade. Porém, as drogas que existem atualmente no mercado são poucas e apresentam efeitos colaterais.

Com esse cenário na cabeça, a professora Carla Carvalho voltou-se para a Renisus, a lista de fitoterápicos – plantas com propriedades terapêuticas – aprovados pelo SUS, na procura de alguma planta que pudesse.

“É conhecido que o diabetes tipo 2, associado à obesidade, tem como base uma condição inflamatória subclínica (sem apresentar sintomas). A ideia então foi muito simples: usar um anti-inflamatório dos fitoterápicos da lista e ver se ele poderia ter algum efeito na resistência à ação da insulina associada a obesidade”, explica.

O fitoterápico escolhido foi a unha-de-gato (Uncaria tormentosa), um cipó presente em florestas tropicais. Considerada uma erva medicinal por algumas populações tradicionais, já era sabido que a unha-de-gato contém substâncias com propriedades anti-inflamatórias. Porém, ninguém tinha estudado ainda os seus efeitos na obesidade.
Camundongos obesos

O extrato de unha-de-gato foi testado em dois modelos de obesidade em camundongos. No primeiro, camundongos comuns de laboratório foram alimentados com uma dieta gordurenta durante 12 semanas, de forma a produzir animais obesos. No segundo caso foram utilizados os chamados camundongos ob/ob, que possuem uma mutação no gene responsável pela produção da leptina, um hormônio que inibe a fome. Ao carecer de leptina, os camundongos ob/ob estão sempre famintos, comem em excesso e ficam obesos poucas semanas após nascer, mesmo com uma dieta normal.

Cinco dias de consumo do extrato de unha-de-gato foram suficientes para que alguns efeitos positivos fossem detectáveis, especialmente no caso dos camundongos sujeitos à dieta gordurenta. Dentre outras coisas, quando a dieta gordurenta foi acompanhada do extrato de unha-de-gato, os animais engordaram menos apesar de ingerir a mesma quantidade de comida. Além disso, o consumo de unha-de-gato também melhorou a sensibilidade à insulina nesses animais. No caso dos camundongos ob/ob, o tratamento com unha-de-gato não alterou o peso dos animais e teve um efeito menor sobre os parâmetros relacionados à insulina. Porém, em ambos modelos o tratamento produziu grandes melhorias no fígado, principal órgão metabólico do organismo. Tanto a inflamação como o acúmulo de gordura (esteatose), dois efeitos caraterísticos da obesidade no fígado, foram reduzidos após o tratamento.

“A Uncaria, por só cinco dias nos animais, foi capaz de transformar uma esteato-hepatite incipiente em uma esteatose sem inflamação. Diminui o grau da doença gordurosa hepática”, explica a professora Carla.

O grupo está agora à procura de colaboradores para poder levar esses resultados para um contexto clínico em humanos.

Mais informações: e-mail croc@icb.usp.br, com a professora Carla Carvalho

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