Texto introdutório
Marcos Roberto Furlan
Um de nossos tesouros está nos quintais. Uma riqueza não guardada em baús, bancos ou cofres, mas exposta aos nossos olhos. Uma riqueza não recebida em dinheiro ou como dividendo de ações. É um tesouro com capacidade de se multiplicar sozinho e se transformar em alimento, medicamento ou ornamentação.
Esse tesouro é a diversidade de plantas que nascem e crescem espontaneamente em nossos quintais, isto é, sem a intervenção do ser humano. Uma riqueza que serviu, principalmente, para alimentar e curar durante séculos. Plantas que, logo após o ser humano começar a viver em grupos e nas cidades, foram adotadas, selecionadas e preparadas para se ambientarem nos quintais. Como retribuição, elas cuidaram e alimentaram muitos pais e filhos. E continuam alimentando-nos e curando-nos.
Muitas dessas espécies espontâneas ainda insistem em ficar próximas das famílias, como se fossem parte delas ou de suas histórias. E não há como negar, elas são uma parte de um todo familiar.
No entanto, com a chegada da comodidade da comida pronta e dos medicamentos sintéticos, aos poucos, mas de forma agressiva, elas foram sendo desprezadas e consideradas indesejáveis, a ponto de serem chamadas de plantas daninhas, ervas daninhas ou plantas invasoras.
Apesar da resistência em sobreviver em solos fracos, repletos de pragas, úmidos ou secos, elas não conseguem sobreviver quando o cimento as sufoca. Algumas, quando encontram uma rachadura, ainda tentam; mas, quando descobertas, são arrancadas, como se não tivessem valor para a humanidade. Outras, com a ajuda de animais ou do vento, por exemplo, soltam suas sementes nas calçadas e nos terrenos baldios. E assim se preservam por mais um tempo de vida.
Nada contra as plantas ornamentais, as quais embelezam, relaxam e proporcionam bem-estar visual, mas poderíamos pensar em deixar essas vizinhas espontâneas terem um espaço para sua existência, antes que desistam e se deixem caminhar para sua extinção, o que seria uma lástima àqueles que reconhecem o valor de cada uma dessas plantas.
Assim, que possamos compreender que as plantas espontâneas de quintal, além de serem instrumentos vivos para nossas brincadeiras, relaxamentos, descansos e aprendizagens, são plantas que acompanham há milênios o ser humano, com muitas possibilidades de uso, como ilustrado na figura a seguir.
Figura 1. Usos das plantas espontâneas nos quintais.
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