Suzana Kahn: para mitigar o aumento da temperatura será preciso uma mudança de comportamento em relação ao consumo.
Especialistas alertaram nesta terça-feira (29), na Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, que as alterações no clima provocam impactos físicos, econômicos e sociais irreversíveis em diversos países. Entre os cenários de futuro apresentados no relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), discutidos na reunião, estão dias e noites mais quentes, ondas de calor, eventos de chuva extrema, aumento dos ciclones tropicais e prolongamento das secas.
“A mudança climática já é alarmante com riscos irreversíveis e vai necessitar um grande trabalho de adaptação, com medidas que devem ser tomadas rapidamente”, alertou Osvaldo Luiz Leal de Moraes, representante da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Medidas como o uso de materiais de construção adequados a climas diferentes, a contenção de enchentes, entre outras, foram apontadas pelo representante da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Sérgio Margulis.
Divulgado em 31 de março, o documento está sendo considerado como a avaliação mais completa já feita sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta. De acordo com o relatório, o efeito do aquecimento global será “grave, abrangente e irreversível”.
Comportamento consumista
Durante o debate, a vice-presidente do IPCC, Suzana Kahn, enfatizou que o acordo internacional para mitigar o aumento da temperatura passa por uma mudança de comportamento em relação ao consumo. “A tecnologia pura e simples não vai resolver o problema. Se a gente considerar o aumento populacional no mundo, mantendo o mesmo padrão de consumo da classe média ocidental, não adianta”, afirmou.
Na opinião de Suzana Kahn, os países consumidores também são responsáveis pelo aquecimento global. Ela ressaltou que os países mais poluidores são os de menor renda, que produzem bens para atender a demanda dos mais ricos.
Na América do Sul, a previsão é que a distribuição e uso da água sejam afetados, assim como a produção de alimentos. A safra de trigo já caiu e pode reduzir também a de milho, soja e arroz.
Geração de energia
O relatório sobre mudanças climáticas revelou ainda que, em 2010, a emissão de gás carbono, que causa o efeito estufa foi o maior da história. O aumento está relacionado à geração de energia e, em menor número, ao uso da terra (queimadas e desmatamento).
A Europa, por razões geopolíticas, intensificou o uso do carvão na sua matriz energética, gerando o crescimento da intensidade de carbono no setor industrial.
Aprovada pelos governos, a utilização da biomassa para substituir as usinas térmicas a carvão, é uma das medidas de mitigação destacadas no relatório.
Para o presidente da comissão, deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), um acordo entre os países para instituir a redução de carbono como unidade de valor do sistema financeiro internacional, seria uma medida complementar para manter os níveis desejados de temperatura no planeta.
Efeitos climáticos no Brasil
Segundo os especialistas, nos últimos cem anos a temperatura no Brasil aumentou em média dois graus. E a previsão é aumentar mais dois graus até o fim do século.
Fenômenos climáticos recentes como as grandes cheias em Rondônia, Rio de Janeiro e outros estados, tornado em Santa Catarina e a seca em São Paulo foram mencionados pelos debatedores.
O senador pelo Ceará e vice-presidente da comissão, Inácio Arruda (PCdoB), lembrou os três anos de estiagem seguida no Nordeste e questionou os participantes sobre as previsões climáticas para a região.
As respostas divergiram, com tendência de aumento da desertificação e períodos maiores de seca, mas também aumento de chuvas, ainda que com distribuição irregular. Estudos apontam que no litoral nordestino, nos últimos 50 anos, não houve mudança na quantidade de chuvas, ao contrário do interior.
A previsão é que chova mais, tanto no Nordeste quanto na Região Amazônica, nos próximos anos. Contudo, como são usados mais de 30 modelos climáticos diferentes, é comum que os resultados sejam mais discordantes em relação às chuvas do que sobre o aumento da temperatura. A expectativa é que o uso por cientistas brasileiros de um modelo de escala global possa garantir melhores cenários e previsões mais precisas.
Da Redação – RCA
Com informações da Agência Senado
Matéria da Agência Câmara de Notícias, no EcoDebate, 30/04/2014
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