6 de outubro de 2014
Foto:
A prospecção de plantas medicinais tem despertado grande interesse pela possibilidade de descoberta de novos compostos bioativos, a fim de originar, por exemplo, fitoterápicos, medicamentos semi-sintéticos e derivados de produtos naturais, com reduzidos efeitos colaterais comparados às drogas sintéticas. O conhecimento etnofarmacológico potencializa essa busca, juntamente com estudos químicos e farmacológicos. No entanto, a maioria dos estudos com plantas medicinais no Brasil tem sido realizada com plantas exóticas, embora o País seja apontado muitas vezes como a nação com a maior biodiversidade do planeta. Embora se note crescente demanda no mercado de fitoterápicos, este tem sido atendido, na maioria das vezes, com matéria-prima sem padronização e, ainda, fruto do extrativismo sem critérios. Daí, a necessidade de gerar tecnologias de produção da matéria prima vegetal e de procedimentos extrativos sustentáveis. Para que se possa garantir a eficácia e a segurança dos produtos com fins medicinais é necessário aliar os estudos de cultivo e da composição química das plantas às atividades farmacológicas e toxicológicas observadas.
Em Mato Grosso do Sul, estão sendo estudadas, do ponto de vista agronômico, químico e farmacológico, espécies medicinais nativas, dentre elas:
1) Fáfia ou ginseng-brasileiro [Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen], de ocorrência no Pantanal, utilizada em formulações como cápsulas e outras nas indústrias farmacêutica e cosmética . Popularmente, o decocto das raízes é usado como tônico geral e rejuvenescedor, contra fraqueza visual e frigidez sexual. O extrato metanólico da raiz apresenta atividade anti-reumática, anti-inflamatória e analgésica. Atua na proteção da mucosa gástrica através de mecanismos antioxidantes.
2) Guavira, gabiroba (Campomanesia adamantium Camb.), de ocorrência no Cerrado, cujo infuso das folhas é usado como anti-inflamatório, antidiarréico, depurativo, anti-reumático, antisséptico das vias urinárias e no tratamento de úlcera péptica. Os frutos apresentam potencial para serem utilizados in natura, na indústria de alimentos e como flavorizantes na indústria de bebidas. As folhas possuem substâncias antioxidantes e com atividade antimicrobiana, principalmente contra o fungo Candida albicans.
3) Carobinha (Jacaranda decurrens Cham. ssp. symmetrifoliolata Farias & Proença), de ocorrência no Cerrado, cujas raízes são amplamente usadas na medicina popular, no preparo de decoctos caseiros, como depurativo do sangue e cicatrizante de feridas uterinas e dos ovários, para tratamento de infecções ginecológicos, giardíase, amebíase e sífilis. Resultados experimentais indicam que as folhas e raízes das plantas são uma fonte rica em substâncias antioxidantes, sendo que os componentes das raízes apresentam maior potencial antioxidante. As raízes e folhas são ricas em fenóis e as folhas são ricas em flavonóides.
4) Pimenta rosa ou aroeira vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) é pioneira, nativa do Brasil, onde ocorre em várias formações vegetais, sendo mais comum em beiras de rios. É indispensável nos reflorestamentos heterogêneos destinados à recomposição de áreas degradadas de preservação permanente. Os frutos são usados como condimento alimentar, na cosmetologia e foram incluídos na Relação Nacional de Plantas Medicinais de interesse ao SUS (Renisus). A pimenta rosa possui inúmeras potencialidades medicinais e fitoquímicas. As folhas, frutos e a casca possuem atividade antimicrobiana, analgésica, anti-inflamatória, antioxidante, antibióticas, inseticida e alelopática.
5) Algodão-do-campo, algodãozinho [Cochlospermum regium (Mart. ex Schrank) Pilger], ocorre no Cerrado e Pantanal. Popularmente, as raízes são usadas na forma de decoctos para combater infecções, inflamações e como depurativas do sangue; como banhos de assento nas inflamações e corrimentos. Com as folhas faz-se chá contra cálculos renais e úlceras. As raízes têm atividade analgésica, anti-edematogênica, anti-bacteriana, antioxidante, mutagênica, citotóxica e contra artrite reumatóide.
6) Caraguatá (Bromelia balansae Mez), de ocorrência no Cerrado e Pantanal. O chá dos frutos e das raízes são indicados como expectorante pulmonar, no combate à anemia e bronquites. Pode-se deixar os frutos curtirem em aguardente e o extrato ser utilizado para combater reumatismo, com uso interno ou externo. Os frutos têm ações terapêuticas como purgativos, diuréticos, vermífugos, contra bronquinte, tosse e outros, devido à presença de saponinas, taninos, mucilagens e bromelina. As folhas são indicadas para afecções da mucosa bucal.
7) Barbatimão (Stryphnodendron obovatum Benth.) ocorre no Cerrado e Pantanal. É usado em banhos em doses mais concentradas, para afecções da pele e lavagem dos órgãos reprodutores masculinos e femininos. O decocto das cascas é indicado para uso externo contra hemorragias uterinas, corrimento vaginal, feridas ulcerosas e para prevenir queimaduras resultantes da radioterapia. O uso interno só é recomendável em doses muito pequenas, em extrato alcoólico para inflamações da garganta, diarréias, corrimento vaginal e hemorragias.
Proteger as espécies que constituem a biodiversidade é uma tarefa difícil, sendo necessário implementar estratégias de conservação, ou simultaneamente sensibilizar instituições de modo a favorecer a negociação entre os diferentes grupos de interesse, alcançando assim um compromisso sobre sua proteção e sua utilização sustentável.
Maria do Carmo Vieira e Néstor Antonio Heredia Zárate são Engenheiros Agrônomos, Professores doutores da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD)
See more at:
http://www.creams.org.br/Default.aspx?tabid=308&ItemId=1444#sthash.Uz8HN98O.dpuf
Nenhum comentário:
Postar um comentário