sexta-feira, 15 de maio de 2015

Pesquisadores de Sergipe desenvolvem floresta para atrair abelhas e restaurar áreas do semiárido

Por Edna Ferreira / Jornal da Ciência – SBPC

Projeto Floresta Apícola quer ajudar também na geração de renda de forma sustentável

As abelhas são um dos insetos mais importantes para a natureza e para a humanidade. Os cientistas estimam que elas são responsáveis por quase 80% da polinização das plantas cultivadas do planeta. A polinização é um processo importante na formação de frutos em diversas plantas, que se transformam em alimento para o homem. Mas como atrair as abelhas para que elas realizem esse trabalho e ao mesmo tempo ajudar áreas degradadas?

Pesquisadores do Sergipe Parque Tecnológico (SergipeTec) estão desenvolvendo o projeto Floresta Apícola que é uma ação de restauração ambiental por meio de formação de áreas florestais com plantas apícolas, aquelas fornecedoras de néctar e pólen em grandes quantidades, sendo intensamente visitada por abelhas. O objetivo do projeto é reestabelecer os serviços ambientais realizados pelas abelhas em áreas degradadas integrada à geração de renda de forma sustentável.

O engenheiro florestal Ronaldo Fernandes Pereira, com doutorado em Biotecnologia dos Recursos Naturais, é o coordenador geral do projeto e explica que as mudas das plantas nativas serão produzidas de forma convencional (por meio de sementes), forma assexuada e por meio de técnicas biotecnológicas. “Trabalhamos para a restauração de ecossistemas degradados no semiárido e na floresta atlântica; para a implantação de áreas destinadas à produção apícola e, além disso, buscamos definir os protocolos de propagação de plantas nativas apícolas”, afirmou.

O projeto ainda está bem no início, pois começou em fevereiro deste ano, no entanto os pesquisadores estão otimistas quanto aos resultados e benefícios. “O trabalho se encontra na fase de coleta dos explantes vegetativos (tecido vegetal), sementes e produção por sementes de mudas e preparando a área biotecnológica para iniciar os trabalhos”, explicou Pereira, que é pesquisador da CODEVASF – Cia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba.

O projeto está funcionando em duas áreas iniciais nos municípios sergipanos de Estância e Poço Redondo. Nesses espaços, os pesquisadores estão trabalhando com várias espécies do semiárido: aroeira do sertão, aroeirinha da praia, pau pombo, sucupira, ipês, barriguda, cedro rosa e cedro do sertão, ouricuri, palmeiras nativas, maria preta, gêneros cordias (folha larga), umburana de cheiro e umburana de cambão, umbu, cajá, cajarana, pinhas nativas.

“O primeiro benefício do projeto é a definição de protocolos para plantas nativas recalcitrantes ou resistentes, buscando ter condições de propagar essas espécies durante todo o ano. Segundo poder ter protocolos de cultura de tecido para plantas nativas brasileiras com a simples finalidade de propagar a biodiversidade, assegurando a conservação ex-situ [isto é, fora do local de origem] de materiais genéticos específicos. Também pretendemos iniciar um processo educativo mostrando que é importante implantar áreas florestais com finalidade para produção de mel, pólen e própolis, propagando assim os serviços ecossistêmicos ligados a cadeia apícola”, detalhou o coordenador do projeto.

Continuidade na restauração

De acordo com o engenheiro florestal Ronaldo Pereira o projeto atual é uma continuidade do Projeto Frutos da Floresta que foi financiado pela Petrobras e encerrado em 2014, que buscava realizar ações ambientais e de restauração, buscando tecnologias para a propagação de plantas em especial no semiárido. “O projeto Frutos da Floresta foi elaborado para uma execução de 20 anos, assim foi-se elaborando subprojetos dentro das ações já estabelecidas visando a continuidade do processo. Assim surgiu o Floresta Apícola”, contou. Atualmente, os recursos são de aproximadamente 400 mil reais e vem de um edital público nacional do Ministério da Justiça.

Pereira explica a importância de o projeto ser desenvolvido no SergipeTec. “Estamos trabalhando aqui porque o SergipeTec ter uma das melhores biofábricas do nordeste, destinada a atender as demandas socioambientais do estado, ou seja, sem uma visão exclusivamente comercial, mas compartilhada desde que as necessidades de politica do Estado possam ser atendidas pelo sistema. Com isso formou-se uma tripla parceria com a Companhia de desenvolvimento dos Vales do São Francisco, Instituto Brasileiro de Ecologia e Sustentabilidade (IBES) e SergipeTec, com a visão de buscar alternativas de restauro ambiental integrada a sustentabilidade social de comunidades rurais”, disse

Sobre o SergipeTec

O Sergipe Parque Tecnológico (SergipeTec) é uma associação privada, sem fins lucrativos, reconhecida como Organização Social Estadual. Hoje, abriga mais de 21 empresas, três incubadoras de empresas e seis instituições de pesquisa, gerando mais de 200 empregos diretos.

Tem a missão de promover o empreendedorismo, visando a inovação, a competitividade e a geração do conhecimento, trabalho e renda, através de: indução de sinergia entre empresas, governo, academia e organizações de suporte e fomento; fornecimento de serviços de valor agregado; qualificação contínua do território.

Atua no fomento à criação de empresas de base tecnológica e à construção de redes de relacionamentos que envolvam agentes do processo produtivo, da geração, do conhecimento, do ensino, da pesquisa e da inovação. Trabalha em conjunto com a Secretaria Estadual do Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia – SEDETEC, fazendo parte do sistema de inovação do Estado.

Publicado no Portal EcoDebate, 15/05/2015

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