Fonte: Slow Food Brasil - Terça-feira, 20 de Dezembro de 2016
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A Jandaíra é uma espécie de abelha endêmica do bioma Caatinga (que ocorre exclusivamente no Brasil), nas terras secas do semiárido, e distribui-se nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Pertence à tribo dos Meliponini, grupo de abelhas presente apenas nas regiões tropicais e subtropicais, conhecidas popularmente como “abelhas sem ferrão”. A meliponicultura é a atividade de criar abelhas deste grupo, diferindo da apicultura que é a atividade de criação das abelhas Apis mellifera, popularmente conhecidas como “européias”, “italianas” ou “africanas”.
A meliponicultura é uma atividade intimamente ligada aos costumes tradicionais da região nordeste do Brasil. Na Caatinga, em especial no estado do Rio Grande do Norte, quem reina é a abelha jandaíra: “a rainha do Sertão”, espécie adaptada ao clima semiárido e produtora de um mel amplamente utilizado pelas comunidades que ali vivem para alimentação e na medicina popular. Jandaíra (jandiá-ira) significa em tupi “abelha do mel”.
Naquela terra semi-árida, a produção só é boa nos anos em que a chuva dá o ar de sua graça. Quando é assim, costuma ser colhido de março a junho, fruto da florada que passou no período de chuva, chamado de “inverno”, geralmente nos meses de janeiro, fevereiro e março. O resultado é um mel claro, de coloração âmbar claro ou até mesmo cristalino, fluido, ligeiramente ácido e com notas de ervas e especiarias.
Na natureza, as Jandaíras costumam formar suas colônias em cavidades de troncos de imburana (Commiphora leptophloeos), árvore típica da Caatinga. Para a produção de mel, são criadas em colmeias de madeira ou em cortiços, nome dado aos segmentos de troncos ocos cortados especificamente para a criação de abelhas.
O território do Mato Grande, região do município de Jandaíra, é um grande berço genético da abelha. A grande incidência de enxames tem registros que remontam a meados do século XIX, tempo em que os tropeiros ali pernoitavam, levando lenha e carvão para o litoral, de onde traziam o peixe de sal preso. No caminho, buscavam o excelente mel dos troncos ocos das Imburanas. Utilizavam o mel na própria alimentação ou, dependendo da quantidade explorada, obtinham um produto de grande valor na troca por outros alimentos.
Com o tempo, pequenos “arruados” foram se formando na beira das estradas tropeiras, dando origens a municípios como Jandaíra, oficialmente fundada em 1964. Lá o mel da abelha nativa ganhou fama e status de "medicinal" na cultura popular. O comércio do mel em Jandaíra sempre foi disputado. Mesmo em Natal, capital do estado, a referencia ao mel sempre foi feita com muita distinção: "mel de Jandaíra é coisa dos deuses"; "gripe e resfriado se cura com mel de Jandaíra"; "quem passa em Jandaíra tem que trazer mel", diziam os mais antigos, que costumavam consumi-lo com farinha de milho. Atualmente é conhecida como "a Cidade do Mel".
A principal ameaça à abelha Jandaíra é a destruição do seu habitat natural, a Caatinga. Estima-se que o único bioma considerado exclusivamente brasileiro mantém apenas metade de sua cobertura vegetal original. A destruição da Caatinga se deve, principalmente, a produção de lenha e carvão vegetal, destinados aos pólos industriais de gesso e cerâmica na região Nordeste e ao setor siderúrgico dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O desmatamento é ainda mais preocupante se levada em conta a vulnerabilidade desse bioma às mudanças climáticas, sofrendo a Caatinga forte tendência à desertificação.
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