Fonte: ONU BR - Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2016
Fonte: https://goo.gl/5L0f9y
Em Santa Catarina, 40 mil pequenos agricultores são atendidos por uma parceria entre o governo do estado e o Banco Mundial. Os beneficiários recebem capacitação para aumentar a produtividade dos negócios. Iniciativa também promove a inserção dos alimentos desses fazendeiros nos mercados regionais. Entre os produtores participantes, 4,8 mil são indígenas e 1,3 mil são jovens.
A agência da ONU lembra que, no mundo, 70% das pessoas pobres trabalham no campo. O cenário exige mais investimentos e políticas para retirar essa população da miséria.
Criada há 30 anos, a iniciativa SC Rural é resultado de uma cooperação entre as autoridades públicas e o Banco Mundial. O organismo financeiro considera o projeto uma experiência de sucesso, capaz de indicar caminhos de desenvolvimento para a agricultura em outras partes do mundo.
Uma recente avaliação de impacto revelou que, em cinco anos, a renda dos catarinenses atendidos pelo programa aumentou 118%, enquanto a dos agricultores não beneficiados subiu 56%. O números são fruto de uma combinação de investimentos, que se dividem entre a formação da juventude campesina e de novos empreendedores no campo e a melhoria da infraestrutura estadual.
Capacitação
Com o que aprendeu em oito meses num curso para jovens agricultores, Adriano Heerdt conseguiu aumentar a produção de leite, diminuir o custo, melhorar as pastagens e resolver alguns problemas de saúde das vacas de que cuida.
A capacitação, oferecida pelo SC Rural, combina aulas com atividades práticas, no campo, para levar informações de confiança a um público que nem sempre tem acesso a educação formal, televisão ou internet.
“Fui aplicando as técnicas que me ensinavam e via que dava certo. Hoje, cada vez mais procuro me aperfeiçoar porque tudo dá retorno para a gente”, conta Adriano.
O Banco Mundial aponta que o conhecimento sobre as melhores práticas produtivas, bem como o acesso a novas tecnologias e oportunidades de mercado são elementos-chave para que agricultores familiares possam competir no mercado de alimentos e aumentar a renda.
“Em Santa Catarina, o foco deixou de ser somente em produção agrícola e passou a incluir o agronegócio (ou seja, produção e processamento) e os jovens rurais. Isso deveria ser uma estratégia a seguir no resto do Brasil e no mundo em desenvolvimento”, comenta o economista do organismo financeiro, Diego Arias.
Juventude no campo
Atualmente, 9,6 milhões de jovens entre 15 e 29 anos vivem da agricultura nos 20 países latino-americanos. Somente no Brasil, eles somam 2,3 milhões. O total regional caiu 20% na última década, segundo o estudo Juventude Rural e Emprego Decente na América Latina, publicado este ano pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O documento explica que, embora pareça haver um “fenômeno de jovens empreendedores rurais que conseguem fazer um negócio decolar”, tal conquista não é fácil e esbarra nas dificuldades de infraestrutura do campo. Uma das iniciativas apontadas como necessárias são incentivos na forma de programas de orientação e financiamento para a juventude.
No SC Rural, foi exatamente esse apoio que Jaqueline Grapiglia, de 25 anos, encontrou para expandir os negócios da família. Quando o pai conseguiu montar uma padaria em casa por meio do programa, a jovem viu a oportunidade de voltar para o campo.
Formada em administração e pós-graduada em gestão estratégica, ela também fez o curso de empreendedorismo para jovens, que financia as melhores ideias elaboradas pelos alunos. Como projeto final, criou uma loja de quitutes e agora sonha em abrir um café colonial. “O agricultor só vai ficar no campo se tiver perfil para empreender”, aposta Jaqueline.
Simplicidade inovadora
O Banco Mundial lembra que, com tecnologias simples, já dá para aumentar o rendimento, ter um produto de melhor qualidade, trabalhar menos tempo e poupar a saúde dos agricultores. Novas ferramentas, como radares e drones, também ajudam fazendeiros a enfrentar as mudanças climáticas e poupar recursos naturais.
Esses utensílios de ponta já são utilizados por grandes produtores, mas ainda são uma realidade distante para a agricultura familiar. Para reverter esse cenário, Santa Catarina criou o Núcleo de Inovação Tecnológica para Agricultura Familiar, organismo que cria pontes entre camponeses e startups locais para levar tecnologia ao campo a preço e escala acessíveis.
“Meu sonho é ver o pessoal usando a nossa tecnologia, que é nacional e nasceu na universidade”, comenta o diretor-executivo da Q Prime Engenharia, Vitor Miranda. A empresa foi criada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Atualmente, a companhia está adaptando para os pequenos produtores catarinenses uma máquina de secagem de alimentos, muito usada para erva-mate e outras. O equipamento deixa o produto mais homogêneo e economiza energia. “Como é complicado chegar até os agricultores porque é muita gente espalhada pelo estado, o SC Rural pode facilitar esse contato”, conclui Miranda.
Acesso a mercados
Quando Andreia Colle e o marido tiveram de fechar o próprio aviário por não terem condições de cumprir as exigências da grande empresa para a qual vendiam, encontraram no SC Rural a chance de recomeçar com um trabalho mais rentável.
Com apoio do programa, estruturaram e equiparam uma pequena agroindústria de embutidos de porco, de onde saem salames, torresmos, lombos e outros produtos oferecidos tanto no comércio local quanto na merenda escolar das escolas públicas.
Nos últimos quatro anos, também fizeram cursos que, segundo Andreia, ajudaram os Colle a encontrar seu público-alvo, produzir com mais qualidade e a gerenciar o negócio de forma profissional. O próximo desafio é aumentar a quantidade de pontos de venda, mas sem perder de vista o jeito colonial dos itens produzidos pela família.
Outro tema importante na discussão sobre acesso a mercados são os desafios da infraestrutura local. O SC Rural melhorou 400km de trechos de estradas rurais para que os agricultores possam escoar a produção com mais facilidade, além de aprimorar também as telecomunicações do campo.
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