24/04/2018
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Utilizado com sucesso em tecidos moles, derivado da seringueira mostrou-se benéfico também no reparo de lesões no osso
Por Rita Stella - Editorias: Ciências da Saúde
Além do alto potencial de reparação óssea e da biocompatibilidade, o látex é um material nacional e de baixo custo quando comparado a outros disponíveis no mercado – Foto: Domínio público via Wikimedia Commons
Lesões em crânios de ratos ganharam novos vasos sanguíneos e boa reestruturação óssea após tratamento com o látex. Os experimentos utilizaram a F1, uma fração da proteína do látex natural (extraído da Hevea brasiliensis, a seringueira), e mostram o estímulo de fatores de crescimento para a recuperação óssea.
O achado é parte de estudo realizado por pesquisadores da USP em Ribeirão Preto e da Unesp em Araçatuba e publicado na edição de fevereiro da revista Biomedical Material. Os resultados confirmam os benefícios da proteína do látex já relatados com tecidos moles em experimentos anteriores, como a formação de vasos sanguíneos, adesão celular e formação de matriz extracelular. Mas esses são os primeiros relatos desses efeitos sobre os ossos.
Os pesquisadores analisaram a evolução de defeitos provocados por cirurgias em 112 calvárias (ossos da calota craniana) de ratos de laboratório. Esses ossos foram separados em grupos que receberam enxertos de osso (autólogos, autógenos e xenógenos – do próprio animal, da mesma espécie e de outra espécie) e também aqueles com enxertos mais a proteína F1.
Aparência histológica do centro do defeito ósseo em seis semanas de pós-operatório/ Fotomicrografias mostrando os tecidos que preencheram a área do defeito ósseo em CTL (A) e (C), AuG – F1 (B) e (D), AlG – F1 (E) e (G), XeG – F1 (F) e (H), AuG ( I), AlG (J) e XeG (K).
Abreviaturas e símbolos: asteriscos – enxerto ósseo remanescente; bv – vasos sanguíneos, tecido conjuntivo; nfb – osso neoformado; setas pretas – limite entre osso novo e enxerto ósseo remanescente – Imagem: Revista Biomedical Materials
Após avaliações, realizadas por diferentes métodos, observaram maior quantidade de neoformação óssea – tecido novo – nos grupos que receberam os enxertos autólogos e autógenos e também naqueles que receberam os mesmos enxertos acrescidos da proteína do látex.
Contudo, chamou a atenção dos cientistas o aumento da MMP-9 (metaloproteinase de Matriz 9, enzima relacionada ao processo de reparo celular) nos tecidos tratados com o látex, principalmente nos exames realizados na primeira fase das análises, ocorrida na quarta semana pós-implante.
Segundo João Paulo Mardegan Issa, professor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP e um dos responsáveis pelo estudo, esses dados confirmam o que outras pesquisas já haviam encontrado sobre essa enzima. Durante uma resposta inflamatória, “a MMP-9 está ativa no tecido lesado e este evento se relaciona com a reparação das áreas de cicatrizes no osso, otimizado com o uso da F1”.
Apesar da F1 apresentar propriedades importantes para o reparo de tecidos do organismo animal – como a de formação de novos vasos sanguíneos, a adesão celular e da matriz extracelular, novos experimentos devem ser realizados até que o látex da seringueira possa ser utilizado no reparo ósseo de humanos. O professor comenta que ainda precisam “esclarecer os efeitos desta proteína nessa restauração do osso, especialmente envolvendo o uso de outros modelos animais experimentais e períodos de tempos de recuperação”.
Futuro promissor para um produto nacional
Os especialistas asseguram que biomateriais com as características da F1 são importantes para correção de defeitos que eles chamam de críticos, pois se trata de feridas intraósseas e de grandes proporções para uma cura espontânea.
Informações como as recém-publicadas pela equipe da USP e da Unesp devem colaborar para um futuro promissor do uso do látex em recuperação de ossos. Além do alto potencial de reparação óssea e da biocompatibilidade, o látex é um “material nacional e de baixo custo quando comparado a outros produtos de estímulo reparativo disponíveis no mercado”, lembra o professor.
Os estudos sobre o uso clínico do látex começaram na década de 1990, com uma equipe liderada pelo professor Joaquim Coutinho Netto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Com o látex produzido pela árvore da borracha, a Hevea brasiliensis, os pesquisadores desenvolveram uma biomembrana de látex natural especial para o tratamento de lesões em tecidos moles. Os resultados dessas pesquisas provaram a segurança e eficiência do látex no reparo de diferentes tecidos. O professor Coutinho faleceu em setembro de 2012.
A pesquisa agora publicada integra a tese de doutorado da dentista Bruna Gabriela Santos Kotake, apresentada à FMRP em 2016. Bruna trabalhou sob orientação do professor da Forp João Paulo Mardegan Issa.
Mais informações: e- mail jpmissa@forp.usp.br ou brunakotake@gmail.com
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