quarta-feira, 3 de abril de 2013

A busca de cientistas aos óleos e essências da Caatinga - II

Saga Sertão adentro

No meio da década de setenta, contanto com o apoio do BNB, CNPq e outros órgãos, um grupo de cientistas da Universidade Federal do Ceará (UFC), integrado por agrônomos, químicos, farmacêuticos, embrenhou-se sertões adentro para identificar plantas do semi-árido com potencial econômico e farmacológico e possibilidade de se transformarem em novas opções para a agropecuária nordestina. Das espécies coletadas, algumas estão apresentando bons dividendos trinta anos depois. Outros nem tanto. Continuam no anonimato, apesar do potencial.

A busca dos cientistas na caatinga começou em 1975, mas o programa encerrou-se somente em 1979. Os trabalhos abrangeram reconhecimento, coleta, identificação e registro e estudo com vistas a determinar suas propriedades, rendimento e composição de óleo essencial. Do dessecamento de 150 plantas nativas ou já cultivadas no semi-árido foram obtidos cerca de 500 óleos. Bamburral da serra, jaborandi, canela-de-cunhã, marmeleiro, aroeira, ve¬lame, mentrasto e dezenas de outras espécies, colhidas entre o Maranhão e o norte de Minas Gerais, após identificadas botanicamente, passaram por um processo de extração por arraste com vapor, produzindo o óleo que sofre processos de secagem, análise, separação e identificação estrutural de componentes, com a avaliação dos resultados. O seu rendimento em óleo variou, nas análises, de 0,03 a 4%.

Para o economista e professor Sydrião Alencar, Superintendente do Banco do Nordeste para a Área de Estudos e Pesquisas (ETENE), além do pioneirismo no aspecto científico, a pesquisa foi um marco na parceria BNB/UFC, desde que apresentou perspectivas animadoras para o aproveitamento de óleos essenciais de plantas regionais, que representam opções novas para o semi--árido.

Nos cinco anos do projeto, o Banco alocou, através do FUNDECI, recursos não-reembolsáveis equivalentes a US$ 1 milhão, a preços de Dez/2003.

Descoberta de novos óleos

O objetivo dos técnicos encarregados do programa era oferecer um projeto destinado ao aproveitamento industrial e comercial de plantas da rica flora regional, até então pouco estudadas. E a julgar pelo interesse demonstrado por muitos empresários, os resultados desse trabalho ainda renderão muitos frutos para a economia regional. Até porque, ele propiciou a descoberta de vários óleos essenciais de relevância econômica que podem ser utilizados como fonte de matéria-prima para vários segmentos industriais.

É o caso, por exemplo, entre outros, da cânfora, detectada no velame (Croton sp), substância largamente utilizada nas indústrias de plástico, vernizes, explosivos, farmacêutica e de cosméticos; estragol, constituinte principal de canelas silvestres do Norte, utilizado na indústria de perfumaria, fotográfica e farmacêutica; limoneno, constituinte principal do óleo essencial do Pilocarpus jaborandi, com largo uso na indústria de solventes e tintas, e como aromatizante; e do óleo de marmeleiro, que pode ser usado como solvente e na indústria química e como material de partida para síntese de diversos compostos, inclusive adoçantes artificiais, conforme os autores da pesquisa.

Outros óleos essenciais estudados continham eugenol – muito presente na alfavaca -, cujas propriedades anestésicas foram objeto de estudos e trabalhos por parte de especialistas da Escola Paulista de Medicina. Por outro lado, alguns constituintes desses óleos colocam plantas como o marmeleiro no rol daquelas com potencial para serem aproveitadas como fonte não convencional de energia.

O arbusto conhecido por canela-de-cunhã, do gênero Croton, muito abundante no Serra da Ibaiapaba, área que separa o Ceará do Piauí, apresenta grande potencial econômico. Os próprios pesquisadores constataram, na época, o seu uso intensivo como aromatizante e edulcorante na fabricação de cachaça e de "batidas", um tipo rapadura sofisticada com formato de uma bisnaga de pão. O óleo da canela-de-cunhã revelou grande semelhança com a essência de anis ou erva-doce, importada pelo Brasil.

A análise do mentrasto mostra que seu óleo essencial, embora de baixo rendimento, pode ter grande relevância econômica por que um de seus principais constituintes químicos tem atividade inseticida. Já no bamburral constatou-se alto teor de eucaliptol, substância largamente empregada na indústria farmacêutica, de perfumaria e desinfetantes domésticos. Trata-se de uma espécie que cresce abundantemente no Ceará e no Rio Grande do Norte, sem que ninguém lhe atribuísse maior atenção.

Os resultados das 82 análises de plantas selecionadas entre as 575 coletadas foram reunidos num livro editado pela Universidade Federal do Ceará. Nele consta as características físico-químicas dos óleos essenciais e sua composição química, o nome científico e a denominação popular das plantas e sua classificação botânica. e rendimento de óleo essencial de cada uma. Relaciona também as plantas coletadas, os principais compostos de óleos essenciais e suas respectivas fontes alternativas, bem como quadros sobre a importação e exportação brasileira de óleos essenciais, plantas aromáticas e seus derivados, em 1978.

Quanto ao trivial capim-santo, cujo prestígio aumentou substancialmente, a ponto de já frequentar gabinetes de executivos e líderes políticos (diz a sabedoria popular que se trata de excelente calmante), seu óleo essencial ganhou prestígio mundo afora, vendido tanto para modestas fábricas de alimentos como a grandes multinacionais farmacêuticas e de alimentos.

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