Meta é capacitar pequeno produtor e agricultor familiar para uso sustentável dos recursos naturais. Foto: Arquivo/ABr
Foi oficialmente iniciado ontem (28) o projeto “Integração da conservação da biodiversidade e uso sustentável nas práticas de produção de produtos florestais não madeireiros e sistemas agroflorestais em paisagens florestais de usos múltiplos de alto valor para a conservação”, a ser desenvolvido em parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). A sessão de apresentação aconteceu às 15 horas na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e contou com as presenças do diretor-executivo de TT da Embrapa, Waldyr Stumpf; do coordenador-residente do Sistema das Nações Unidas e representante do PNUD no Brasil, Jorge Chediek; do representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, Alan Bojanic; da Secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ana Cristina Barros; e do presidente da Anater, Paulo Cabral, entre outras autoridades.
O projeto: desafio em prol do agroextrativismo sustentável
A solenidade foi iniciada com a apresentação do projeto pelo pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Aldicir Scariot, que é o coordenador do projeto. Segundo ele, o cenário atual, que levou à necessidade de execução dessa iniciativa, é marcado por mudanças rápidas no uso da terra, perda de biodiversidade, exclusão social e ameaças ao modo de vida das comunidades que moram no campo. Aliados a esse cenário, existem gargalos como a insuficiência de dados e conhecimentos relacionados à conservação e uso sustentável da biodiversidade; escassez de tecnologia e capacitação, além da falta de visão em relação à importância de múltiplos usos para a terra. “É preciso que as pessoas entendam que conservar a biodiversidade e gerar renda não são atividades excludentes, muito pelo contrário, são complementares. E é exatamente isso o que esse projeto pretende estimular e fortalecer”, enfatizou Aldicir.
A premissa básica do projeto, que conta também com o apoio dos ministérios do Meio Ambiente (MMA), Desenvolvimento Social (MDS), Desenvolvimento Agrário (MDA) e Agricultura (Mapa), além da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e organismos da sociedade civil, é promover “uma associação íntima entre agroextrativismo e biodiversidade. O agroextrativismo é uma oportunidade ímpar para aliar uso sustentável da terra e a conservação”, frisou o pesquisador.
Os objetivos principais são: ampliar a participação dos agroextrativistas, reduzir as desigualdades sociais, manter as famílias no campo, assegurar o modo de vida das comunidades locais, reconhecer e fortalecer sua cultura e investir em tecnologias simples e de baixo custo.
As ações envolverão seis (6) Territórios da Cidadania – Alto Acre e Capixaba, Alto Rio Pardo, Marajó, Sobral e Sertão do São Francisco – abrangendo três biomas brasileiros: Cerrado, Caatinga e Amazônia.
De acordo com Aldicir, esses biomas foram definidos em conjunto entre as instituições parceiras com base nos seguintes dados: alto impacto para a biodiversidade, baixo IDH, populações tradicionais e agricultura familiar.
O projeto será desenvolvido a partir de planos de trabalho anuais para cada Território da Cidadania envolvido, com base em sinergias com políticas e programas públicos, que valorizem os seguintes pilares: tecnologia, socioeconomia, capacitação de multiplicadores e disseminação de conhecimento, crédito/financiamento e conservação da biodiversidade.
Além da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e do Departamento de Transferência de Tecnologia (DTT), que são os mentores e articuladores do projeto, participam outras 11 unidades de pesquisa da Embrapa, atuantes nos três biomas que fazem parte da iniciativa.
Projeto tem DNA brasileiro e enxerga a sustentabilidade em sentido amplo
O coordenador-residente do Sistema das Nações Unidas e representante do PNUD no Brasil, Jorge Chediek, afirmou que esse projeto é muito especial para o PNUD e tem “DNA brasileiro”. Prestes a sair do Brasil para assumir a chefia da cooperação sul-sul em Nova York, Chediek ressaltou a importância dessa iniciativa e da parceria entre o PNUD e a Embrapa. “Esse projeto nasceu na Rio 92 e se consolidou na Rio+20. O ponto forte é o fato de enxergar a sustentabilidade no sentido amplo, não apenas do ponto de vista ecológico, mas social, mas também do social e do econômico”, enfatizou.
Essa também é a opinião da secretária de Biodiversidade e Florestas do MMA, Ana Cristina Barros, que destacou a importância de “romper a dicotomia da visão da conservação”. Segundo ela, é preciso transcender essa visão radical de floresta protegida e não protegida e enxergar a importância do homem nesse processo. “É fundamental considerar a floresta e o ser humano como aliados e não como antagonistas. O uso adequado da biodiversidade depende de tecnologia e, principalmente, da sua transferência para as comunidades”, complementou a Secretária.
Para o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, um dos pontos mais importantes do projeto é valorizar a exploração sustentável de produtos florestais não madeiráveis. É preciso identificar os produtores e estimular o trabalho que desenvolvem em prol da melhoria da sua qualidade de vida no campo. “Precisamos fazer com que esse projeto seja lembrado pela sua grandeza e não me refiro apenas ao plano ideológico, mas territorial”, constatou Bojanic, lembrando que o fato de o projeto abranger três biomas é desafiador, mas muito importante para o desenvolvimento do País.
O presidente da Anater, Paulo Cabral, também destacou a importância de levar tecnologia aos Territórios da Cidadania que compõem o projeto. Muitos deles, como Marajó, por exemplo, são desafiadores, pois possuem municípios com os IDHs mais baixos do Brasil. Mas, segundo ele, a única forma de conservar a biodiversidade é usá-la de forma adequada. Ele ressaltou ainda o papel da Anater nessa parceria, pois cabe a ela a tarefa de transferir as tecnologias geradas pela Embrapa e outras instituições públicas e privadas aos pequenos produtores.
O diretor de TT da Embrapa, Waldyr Stumpf, ressaltou a magnitude do projeto, lembrando que vai permitir à sociedade conhecer melhor uma área na qual a Embrapa é muito atuante, mas que poucos conhecem: a de agricultura familiar e comunidades tradicionais. Segundo Waldir, existem hoje na Empresa mais de 50 projetos de pesquisa voltados a pequenas comunidades tradicionais, quilombolas e povos indígenas, entre outros. “É fundamental que a sociedade conheça e compreenda melhor a importância que a Embrapa dá a esses segmentos”, ressaltou o diretor. Todas essas ações, incluindo o projeto em parceria com o PNUD que começa agora, evidenciam que a construção de soluções tecnológicas é o único caminho capaz de gerar renda, com inclusão produtiva sustentável.
Por Fernanda Diniz e Irene Santana, Embrapa, in EcoDebate, 29/09/2015
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