terça-feira, 25 de julho de 2017

Consumo de cafeína previne Doença de Alzheimer em animais de laboratório (UFRGS Ciência)

Tese defendida no Programa de Pós-graduação em Bioquímica avalia os efeitos da substância no cérebro de ratos

27 de abril de 2017 · Texto: Carolina Golenia
Cafeína teve efeito positivo em animais propensos a desenvolver o Alzheimer – Foto: Waferboard/Flickr CC by 2.0

Verificar, por meio de um modelo animal, se o consumo de cafeína pode exercer efeito preventivo sobre a Doença de Alzheimer foi o objetivo da tese de doutorado de Janaína Espinosa Teixeira, defendida no Programa de Pós-graduação em Bioquímica da UFRGS. A pesquisa foi orientada pela professora Lisiane de Oliveira Porciúncula, que, em 2006, ganhou o prêmio L’Oréal para Mulheres na Ciência pelo estudo sobre a cafeína como estratégia de prevenção do Alzheimer.

Em seu estudo, Janaína separou um grupo de ratos que tomaria apenas água comum de outro que tomaria água com doses de cafeína por quatro semanas. Os animais foram tratados com o equivalente para humanos a 3 a 4 xícaras de café expresso por dia. Pode parecer um tempo curto, mas, considerando o tempo de vida do rato, é um período considerável. “É como se ele tivesse tomado cafeína do início até o final da vida adulta”, comenta a pesquisadora.

Após essas quatro semanas, uma cirurgia foi realizada no cérebro de alguns dos ratos para injetar uma droga que produz o Alzheimer experimentalmente. Por volta de duas semanas depois da cirurgia, os animais começam a desenvolver a doença. Testes de memória foram feitos ao longo desse período. Segundo Janaína, “foi observado que os animais que consumiram a cafeína e receberam a droga não ficaram doentes, enquanto aqueles que não tomaram cafeína e receberam a droga desenvolveram o Alzheimer”.

Também foi observado que o grupo de ratos que recebeu cafeína e não passou pela cirurgia não obteve melhora em relação ao que tomou apenas água. “Vimos que a cafeína teve efeito positivo somente naqueles que eram propensos a desenvolver o Alzheimer. No rato saudável, ele nem melhorou, nem piorou”, diz Janaína. A partir disso, foi observado que a cafeína tem efeito neuroprotetor em situações de injúria ou dano, sendo que o seu consumo não melhora o desempenho da memória, apenas previne seu declínio.

Depois dessa fase, os animais foram sacrificados, e seus cérebros, analisados em microscópio. Os ratos que foram submetidos à cirurgia e não tomaram cafeína apresentaram grande perda de neurônios na região do hipocampo, parte do cérebro responsável pela memória, enquanto os que consumiram cafeína não tiveram perda significativa de células nervosas.

Esse estudo é considerado de prevenção porque o consumo se deu quatro semanas antes da injúria. Se a demência fosse causada e depois tratada com cafeína, seria um processo de reversão. “Não apostamos nisso porque a lesão causada pelo Alzheimer é muito agressiva. Até o momento, não há nenhuma droga que seja capaz de curar ou reverter a doença. A única coisa que pode ser feita hoje em dia é desacelerar, e mesmo assim só por um tempo limitado”, enfatiza Janaína.

A pesquisadora destaca um aspecto interessante de seu estudo: o modelo utilizado. Ela comenta que existem várias formas de induzir Alzheimer em ratos, como a do camundongo transgênico, que já nasce com uma mutação que o faz desenvolver a doença posteriormente. Nesse trabalho, foi utilizado um modelo animal baseado no comprometimento da insulina no cérebro.

A insulina é o hormônio responsável por captar a glicose das células, sendo que o cérebro não precisa dela para se nutrir. Sua função no encéfalo é ajudar na formação de memórias. Janaína comenta que outros estudos constataram que pessoas com Alzheimer tem menos insulina no cérebro. Com isso, sugeriu-se que o Alzheimer poderia ser um “diabetes tipo 3”, um “diabetes do cérebro”. A droga injetada no encéfalo dos ratos destrói o hormônio, promovendo a demência. “Então, vimos que a cafeína foi capaz de prevenir a danificação da memória em um modelo animal causado pelo comprometimento da insulina no cérebro”, salienta.

A pesquisadora afirma que a substância é injetada diretamente no cérebro porque dessa forma não vai para o organismo, pois há uma barreira que a impede de atravessar para o resto do corpo. Assim, o animal não fica diabético, já que a mesma droga, injetada na barriga, é usada pra induzir diabetes nos ratos. Demais efeitos da cafeína, como o psicoestimulante, não foram observados nesse estudo, pois o consumo se deu em um período crônico, ou seja, mais longo. Janaína ressalta que “a cafeína é uma substância boa para pessoas saudáveis, sendo que quem é hipertenso ou possui qualquer outra contraindicação não deve consumir sem procurar um médico”.

Questionada sobre a possibilidade de realizar o mesmo estudo com humanos, Janaína comenta que cada indivíduo tem sua casa e sua rotina, assim como hábitos alimentares próprios, sendo mais complicado controlar o nível de cafeína que será consumido. Além disso, há muita variabilidade entre as populações, o tempo demandado é muito longo, e algumas pessoas acabariam desistindo da pesquisa. Já no modelo animal a variação é pequena, o estudo pode ser mais bem controlado, e o tempo necessário é relativamente menor.

Tese

Link:
http://www.ufrgs.br/secom/ciencia/consumo-de-cafeina-previne-doenca-de-alzheimer-em-animais-de-laboratorio/

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