quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Extrato pirolenhoso


Texto:
Giovanna Brito Lins - Bacharelado em Ciência e Tecnologia e bacharelado em Biologia - UFABC - Universidade Federal do ABC

O extrato pirolenhoso é um líquido obtido a partir da condensação da fumaça expelida nos processos de carbonização da madeira recém-cortada, comumente associado, portanto, à produção de carvão vegetal.

A coleta ocorre entre os limites de 80 a 120°C de temperatura, medidas a cerca de 10 cm abaixo da boca de saída da primeira chaminé. Tais medidas são importantes para reduzir a presença de alcatrão e consequentemente a toxidez do líquido pirolenhoso. O produto da destilação deve permanecer em repouso por um período de 3 a 6 meses para que reações químicas cessem e os componentes estabilizem. Após este período, o produto deve ser separado em três etapas visualmente diferentes. A primeira camada é constituída de óleos vegetais e água (10%), a segunda do líquido pirolenhoso (60% a 75%), e a terceira do alcatrão (20% a 30%) (CAMPOS, 2007).

Figura 1: Forno rústico para queima vegetal adaptado com duas chaminés para controle e coleta do extrato pirolenhoso. Fonte: (CAMPOS, 2007).

O extrato de boa qualidade apresenta coloração de amarelo clara a vermelho achocolatada. À medida que avança o processo de oxidação, com o tempo, sua cor vai ficando mais escura. Caso se apresente turvo devido à presença de materiais em suspensão deverá ser feita a purificação, pois a transparência é um indicador de qualidade. Avalia-se através de olfato o cheiro característico de “defumado” (ECOPIROL, 2013).

Segundo Campos (2007), a escolha da madeira a ser utilizada é de muita importância na qualidade do ácido pirolenhoso. Deve-se evitar qualquer tipo de madeira tratada com pesticidas, madeiras provenientes de mata nativa e espécies tratadas com agrotóxicos, pois há grande presença de espécies venenosas o que inviabiliza o extrato pirolenhoso para fins alimentícios. Para cada demanda do extrato o tipo de madeira a ser utilizada deve ser único, pois cada espécie pode apresentar componentes distintos após a combustão, misturar tipos de madeiras poderia influenciar na qualidade do EP. A boa madeira para a produção do extrato é aquela que se conhece a espécie, sabe-se da ausência de agrotóxicos e de qualquer outra substância nociva à saúde.

Além das vantagens que envolvem a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera, baixo custo de obtenção por ser um subproduto da produção de carvão vegetal que ocorre em larga escala por todo o mundo, os processos de transformação do extrato são simples (decantação, destilação, por exemplo) e servem para obter muitos dos diferentes compostos nele encontrados.


Figura 2: Esquema dos processos de tratamento do líquido pirolenhoso para aplicações diferentes.
Fonte: (Miyasaka et al., 1999, citado por SILVEIRA, 2010).

Figura 3: Amostras de líquido pirolenhoso proveniente de diferentes processos (da esquerda para a direita) (1) decantada por seis meses e filtrada, (2) destilada uma vez, (3) destilada duas vezes ; (4) bruta sem filtração e (5,6) resíduo da decantação após 6 meses.
Fonte: (CAMPOS, 2007)

A aplicabilidade do extrato, seja bruto, decantado ou destilado é extremamente abrangente, principalmente na agricultura, como por exemplo: na composição de adubos orgânicos e na compostagem; como potencializador da eficiência de produtos fitossanitários e absorção de nutrientes em pulverizações foliares com potencial quelatizante (capacidade de isolar a carga elétrica de íons e reduzir ou eliminar a reatividade de algumas moléculas, gerando resultados mais simples de controlar e analisar) desinfecção de ambientes, esterilizante eficiente; aditivo de alimentos; na área humana, é usado em banhos para lavagem da pele áspera. Vale ressaltar que, para as últimas, é recomendada a destilação do extrato pirolenhoso bruto, para eliminar completamente o alcatrão e/ou outras toxinas que ainda poderão estar presentes em casos de utilização em hortaliças e pulverização de frutos.

Pode-se concluir, portanto, que o uso deste líquido em diferentes formas e funções, devido à presença de muitos compostos é viável e variável de acordo com o vegetal carbonizado e processo pelo qual o líquido passou, aumentando a quantidade de insumos e formulações possíveis sendo, também, um produto sustentável, de fácil acesso e de fonte renovável.

Referências:

Agrícola. Rio Grande do Sul: Pelotas, 2007. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/746002/tecnicas-para-producao-de-extrato-pirolenhoso-para-uso-agricola>. Acesso em: 31. jan. 2018.

CAMPOS, Ângela. Técnicas para Produção de Extrato Pirolenhoso para Uso Agrícola. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/30826/1/Circular-65.pdf>. . Acesso em: 31. jan. 2018.

ecopirol.com.br/conheca.html
 SILVEIRA, C.M. Influência do Extrato Pirolenhoso no desenvolvimento e crescimento de plantas de milho. São Paulo: Jaboticabal, 2010. Disponível em: <www.fcav.unesp.br/download/pgtrabs/pv/d/2809.pdf>. Acesso em: 31. jan. 2018.

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