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A Cooplantas funciona em um assentamento do MST, na cidade de Itaberá, no interior de São Paulo
Camila Maciel
Brasil de Fato | Itaberá (SP),19 de Junho de 2018 às 16:10
A Cooplantas foi formalizada em 2009, mas o trabalho com plantas medicinais já tem mais de 20 anos / Camila Maciel | Brasil de Fato
O cuidado milenar dos povos tradicionais por meio das plantas hoje também se faz pelas mãos de mulheres agricultoras da região sudoeste de São Paulo.
“A capuchinha a gente usa mais para pomada milagrosa, cicatrizante. Camomila é digestiva, para cólicas menstruais, dor de estômago, intestino. A calêndula é anti-inflamatória. Vivendo e aprendendo, né? Todo dia a gente aprende um pouco”.
A afirmação é de Vanilda Santos, 42 anos, moradora do Assentamento da Fazenda Pirituba, na cidade de Itapeva, no interior paulista.
Ela faz parte da Cooperativa de Produção de Plantas Medicinais, a Cooplantas, junto com outras 30 mulheres e dois homens. Eles são organizados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST.
Com o trabalho na lavoura, elas produzem dezenas de variedades de plantas. Cavalinha, melissa, erva cidreira, capim limão, goiaba, amora são apenas algumas delas.
Parte dessa produção, que é toda orgânica e agroecológica, vai para o SUS em forma de medicamentos fitoterápicos.
A cooperativa foi formalizada em 2009, mas o trabalho com plantas medicinais já tem mais de 20 anos, como explica Nazaré Carvalho, de 62 anos, uma das fundadoras da iniciativa.
“Quando nós entramos no acampamento, veio uma pessoa de São Paulo e ela fez uma pomada milagrosa aqui. As crianças eram cheias de feridas. Aí começamos a fazer a pomada milagrosa para consumo próprio e a gente começou a trabalhar com plantas medicinais e até hoje. Faz 27 anos já", diz.
Para Nazaré, esse trabalho é também uma resistência ao poder da indústria farmacêutica.
“Na época, os índios, a nossa cultura era com plantas medicinais, e hoje o latifúndio, que são as farmácias, que eu chamo de latifúndio, que gasta muito dinheiro e pobre não tem muito dinheiro para comprar antibiótico, se o antibiótico está aqui no campo”, comenta.
Ao longo de mais de 20 anos, foram muitas as conquistas a partir da organização de mulheres no assentamento. Entre elas, um projeto do Ministério da Saúde que viabilizou uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, a prefeitura de Itapeva e a Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de Itapeva, a Fait, para disponibilizar medicamentos fitoterápicos pelo SUS.
Vívian Ferrari, professora e coordenadora do curso de farmácia da Fait, explica que a iniciativa existe desde 2012 e já trouxe muitos benefícios para a comunidade.
"Os medicamentos estão sendo produzidos aqui pelos alunos com esse contato que eles tem também que eles têm com os profissionais de saúde do SUS e o mais gostoso de tudo isso é participar desse projeto e ver que, na prática, o medicamento está chegando na casa da comunidade, atendendo os padrões de qualidade, identidade, de segurança", analisa.
Uma das conquistas mais recentes da Cooplantas é a construção de uma fábrica de chá para produção e venda em sachê. O local está sendo construído ao lado de onde hoje é feita a secagem das plantas.
Mas além dos avanços na estrutura da produção e dos ganhos financeiros para as mulheres, Nazaré destaca a organização das agricultoras como uma das vitórias da cooperativa.
“As meninas não são mais exploradas. Ninguém explora. Elas têm a visão de saber o que elas querem. A visão também na casa, o marido ajuda a fazer o serviço na casa, quando ela chega do serviço, então elas têm outra visão. Tem machismo, claro, mas tem mais esclarecimento", explica.
O trabalho na cooperativa é divido em setores: produção, secagem, manipulação, comercialização e direção. Os ganhos com a produção é dividido considerando as horas trabalhadas por cada uma. Em média, o valor é de R$ 500, mas a meta é alcançar um salário mínimo.
Edição: Guilherme Henrique
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