Até agora o Pau-jacaré era um árvore de pouco interesse comercial. Ela indica áreas de reflorestamento, cresce muito rápido e a casca do caule tem espinhos e rugosidades que lembram a pele de um jacaré. É nativa do Brasil e pode ser encontrada em qualquer beira de estrada nas regiões de Mata Atlântica. A madeira não tem valor comercial e é usada apenas para lenha. As folhas caem em abundância pelo chão e quando a área reflorestada está desenvolvida, a árvore morre. Até agora! Pesquisas realizadas na Universidade Federal de Viçosa indicam que destas folhas sai um poderoso extrato para fabricação de produtos antimicrobianos, antifúngicos e anti-inflamatórios de alto interesse farmacológico.
Os produtos já estão em fase de testes e logo chegarão ao mercado como opção mais natural e mais barata a medicamentos caros, importados e muito usados em hospitais para tratar feridas, escaras e outras infecções dermatológicas. A tecnologia foi totalmente desenvolvida na UFV que já detém a patente de cinco produtos feitos a partir das substâncias encontradas nas folhas da Piptadenia gonoacantha, o nome científico do Pau-jacaré.
O extrato é retirado das folhas da árvore conhecida como Pau-jacaré.
Tudo começou quando Camilo Amaro de Carvalho fazia seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural na UFV. Na época, uma aluna de graduação comentou que a família dela costumava tomar chás da folha de Pau-jacaré para curar infecções urinárias. Até então, na literatura científica não havia nada a respeito de possíveis utilizações da planta. Quando se dedicou a estudá-la, em 2008, Camilo descobriu que as folhas são ricas em compostos fenólicos (flavonoides e taninos) com alta atividade antioxidante, anti-inflamatória e antibacteriana. “Descobrimos que as substâncias contidas nas folhas têm ação no combate s bactérias oportunistas como o Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermides, patógenos causadores de doenças na pele e muito comuns em doentes acamados”, disse Camilo. Em sua tese de doutoramento, o pesquisador dedicou- se a avaliar e caracterizar estas atividades antibacterianas e anti-inflamatória e padronizou um método de extração eficiente destas substâncias de uso medicinal. Os resultados foram publicados em artigos científicos, o que garante o pioneirismo do pesquisador nos estudos biológicos da Piptadenia gonoacantha.
Quando tornou-se professor no Departamento de Medicina e Enfermagem da UFV e orientador no Mestrado Profissionalizante em Ciências da Saúde, Camilo Amaro orientou uma dissertação que dá continuidade à sua tese. Neste trabalho, defendido em maio, a pesquisadora Adriane Jane Franco desenvolveu formulações para pomadas, sabonete líquido, bálsamo, creme e gel feitos a partir do extrato fitoquímico obtido a partir das folhas da árvore de Pau Jacaré. Os testes de laboratório compararam eficiência antibacteriana dos produtos desenvolvidos na UFV com fármacos comerciais muito usados no controle de infecções dermatológicas: a ampicilina e sulfadiazina de prata, ambos sintéticos e importados. “Tivemos um resultado muito positivo com eficácia sempre superior a 80% em relação ao fármaco de controle”, conta Camilo. Ele explica ainda que os medicamentos feitos a partir de moléculas sintéticas têm funções muito direcionadas e mais chance de desenvolver resistência bacteriana, enquanto os naturais podem ser amplos por conterem outras funções. “Eles podem ser ao mesmo tempo antibacteriano, anti-inflamatório e cicatrizantes e este é o caso dos medicamentos que desenvolvemos”.
O trabalho de Adriane Franco também se propôs a levantar os custos de produção dos fármacos e comparar os preços dos medicamentos sintéticos aos dos produtos naturais feitos a partir da Piptadenia gonoacantha. Para ela, mesmo se produzidos em pequena escala, eles custariam menos da metade do preço porque requerem uma estrutura de baixo custo. “Estamos agregando densidade de conhecimento a um produto nacional, aumentando a competitividade do país para ampliar as possibilidades de recursos terapêuticos de baixo custo para o SUS”, disse a pesquisadora.
Os produtos já estão em fase de testes clínicos para avaliar possíveis efeitos colaterais em animais e em humanos. Os resultados colhidos já são favoráveis e farão parte de uma outra dissertação que será defendida em julho, no Departamento de Medicina e Enfermagem da UFV. Segundo o professor Camilo já existem empresas interessadas na produção dos produtos da marca registrada como JACBIO, pertencente à UFV e aos autores das pesquisas.
As etapas de elaboração, encaminhamento e acompanhamento dos pedidos de depósitos de Patentes e registro da marca foram realizadas pela Comissão Permanente de Propriedade Intelectual (CPPI) da UFV.
Adriane Franco Camilo de Carvalho desenvolveram cinco produtos que já estão patenteados pela UFV
Léa Medeiros
Divulgação Institucional
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