terça-feira, 30 de abril de 2013

Quase 900 milhões de pessoas vão dormir com fome. Relatório aponta risco de uma catástrofe

Mapa da fome 2012. Imagem: FAO (clique na imagem para ampliar)

“Temos um problema muito importante. Quase 900 milhões de pessoas vão dormir com fome, o que é um desastre para a humanidade, para a ONU e para os Objetivos do Milênio. Se as coisas não mudarem, teremos uma catástrofe alimentar. Temos que intervir, agora, para resolver problemas que serão inevitáveis dentro de 50 anos”. O economista Gonzalo Fanjulfoi o encarregado, neste meio dia, de dar voz para “O desafio da fome”, um relatório elaborado por Mãos Unidas, com a colaboração da AECID e que foi apresentado naUniversidade Pontifícia Comillas.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada no sítio Religión Digital, 24-04-2013. A tradução é do Cepat.

Entre as propostas deste relatório, Mãos Unidas advoga por uma “mudança de sistema econômico”, que elimine o consumo desenfreado e que incorpore decisões políticas que freiem a destruição ambiental. “Urge enfrentar o problema orientando os sistemas de produção de alimentos, as regras econômicas e as decisões políticas para garantir o direito à alimentação, acima de qualquer interesse”, destaca o relatório, que sustenta que “ao menos uma em cada seis pessoas não tem alimentos suficientes para ser saudável e levar uma vida ativa. A fome e a desnutrição são consideradas, em nível mundial, o principal risco para a saúde, mais do que a AIDS, a malária e a tuberculose juntas”.

“Jogamos 30% dos alimentos produzidos, afetando tanto o meio ambiente como o seu preço”, uma situação que é absolutamente inapresentável, sustenta o relatório, que acrescenta que três quartas partes dos que sofrem a fome vivem em áreas rurais, principalmente na Ásia e África, expostos a secas e inundações.

Por isso, Mãos Unidas propõe aplicar reformas agrárias e outros mecanismos que garantam aos pobres o acesso a terra, para que possam cultivar seus alimentos e gerar excedentes de maneira sustentável.

Entre suas recomendações, inclui a de vigiar as novas gerações de biocombustíveis, de maneira que não afetem a disponibilidade de terra para os pequenos camponeses, além de limitar a possibilidade de que investidores privados e governos estrangeiros adquiram grandes extensões de terras cultiváveis nos países em vias de desenvolvimento.

Segundo o relatório anual da FAO, “O Estado de insegurança alimentar no mundo – 2012”, atualmente há 870 milhões de pessoas com fome.

Péssimas perspectivas

No mundo, há uma população de 7 bilhões de pessoas, sendo que na metade do século poderá aumentar em outros 2 bilhões. No ano 2025, 1,8 bilhão de pessoas viverão em países ou regiões com escassez absoluta de água, e dois terços da população poderão estar vivendo em condições de carência, prenuncia.

Também lembra que, segundo a Agência Internacional de Energia, os biocombustíveis poderão proporcionar, em 2050, 27% do total de combustível para o transporte (em comparação aos 2% atual) e reduzir notavelmente o uso de diesel, querosene e combustível de avião.

O ato foi aberto pela presidente de Mãos Unidas, Soledad Suárez, que defendeu que “somos nós os que temos que mudar o mundo, desafiando a fome, como aquelas mulheres fizeram há 54 anos”.

A apresentação serviu como motivação para que alguns especialistas dessem sua opinião a respeito do atual estado das coisas. Estas foram algumas das reflexões mais relevantes:

Imaculada Cubillo, membro da campanha Direito à Alimentação, Cáritas, opina que “o documento me parece muito completo e expõe com toda clareza os conceitos básicos para entender a magnitude da situação da fome, num contexto de mudança climática. É imprescindível sua compreensão para adotar a atitude solidária e a visão política de sua solução. Os exemplos ilustram bem esta necessidade”.

Jerônimo Aguado, membro da Via Campesina – Plataforma Rural, considera que o relatório resulta “muito bem elaborado e um bom diagnóstico da questão da alimentação e do problema da fome em escala global”.

Lourdes Benavides, da campanha CRECE, Intermón Oxfam, destaca que “entre todos e todas, devemos conseguir mudanças urgentes em políticas públicas, em práticas de empresas, em nosso modo de consumir, para que todos nós, pessoas que habitamos o planeta, voltemos a estar no centro de um mundo mais justo, mais equitativo e sustentável. EMãos Unidas, com seu relatório, contribui para esse fim”.

Marco Gordillo, coordenador do Departamento de Campanhas da Mãos Unidas, que é o responsável da elaboração deste relatório e para quem o documento “insiste que para garantir o direito à alimentação, é necessário reorientar nossos sistemas de produção agrícola, recuperando sua função social, ambiental e econômica, priorizando o acesso aos alimentos para todos, especialmente para os mais pobres e vulneráveis”.

Além disso, através do Skype, houve a participação de Henry Morales, Movimento Tzuk Kim-Pop (Guatemala), que lembrou como em seu país a maioria da produção alimentar (80%) está nas mãos de apenas 2% da população, num país onde a desnutrição infantil é um gravíssimo e secular problema.

(Ecodebate, 30/04/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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