sexta-feira, 24 de maio de 2013

Artigo: Ações educativas em saúde: do saber popular ao saber científico

Ednaldo C. de Araújo, Edna C. de Araújo, Rinalda A. Guerra de Oliveira, Eliane Maria R. de Vasconcelos, Fabia Alexandra P. Alves

A fitoterapia como opção

RESUMO

As bases da educação popular estão inseridas no processo de humanização, sendo impossível escrever algo sobre as ações educativas em Saúde Pública no Brasil sem incluir a história da educação popular neste contexto. É sabido que todo o processo deverá estar centrado na elaboração de princípios de aprendizagem que construam o conhecimento, com materiais educativos (dispositivos, cartazes, folhetos, cartilhas) que tenham características da população-alvo. Várias foram as denominações dadas a este tipo de educação dirigidas à população de base, para adultos e popular, o surgimento deste movimento data da mesma época da publicação do livro Pedagogia do Oprimido (1968) de Paulo Freire. A fitoterapia, tida como uma opção terapêutica relativamente acessível, do ponto de vista econômico e, em alguns casos, com menor intensidade de efeitos colaterais, faz parte da prática da medicina popular, a qual se constitui como um conjunto de saberes articulados, que estão perfeitamente internalizados entre diversos usuários através, principalmente da tradição oral, tendo essa prática diminuída muito com a industrialização dos medicamentos, nas décadas de 40 e 50. Estudos farmacológicos, envolvendo plantas medicinais, tem sido o alvo de diversas análises nos mais variados tipos de eventos; entretanto, apesar de discutido há décadas o tema ainda é polêmico, especialmente quando são analisadas questões como: estratégias a serem empregadas neste tipo de estudo; tipos de extratos a serem preparados, modelos empregados, reprodutividade em animais de experimentação, e da posologia empregada popularmente. Embora a resposta a essas questões não seja consensual, há um aspecto neste tipo de investigação com o qual todos concordam: se a seleção de plantas for feita a partir do uso popular, a probabilidade de sucesso na pesquisa é maior. Com o objetivo de contribuir no campo de estudo das plantas foi feito um levantamento de plantas medicinais que podem ser usadas na ortopedia para ampliar a fonte de pesquisa e oferecer aos profissionais, aos diversos setores da saúde e a comunidade em geral as bases para o desenvolvimento da fitoterapia no Brasil, como uma opção eficaz de remédios naturais de fácil aquisição. Apesar da imensa biodiversidade que existe em nosso planeta, principalmente em nosso país, são escassos os registros de pesquisas voltados ao tratamento com fitoterápicos que podem ser utilizados com prescrição médica, nos casos agudos e crônicos de traumas, afecções articulares e inflamação.

Palavras chaves: educação popular, plantas medicinais, tratamento, traumas, inflamação.

INTRODUÇÃO

Ações Educativas em Saúde Pública no Brasil

Torna-se difícil escrever sobre as ações educativas em Saúde Pública no Brasil sem incluir a história da educação popular neste contexto. Segundo o Manual de Atualização do Programa de Saúde da Família (PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA, 2006), “a partir do final da década de 1950 surgiram vários trabalhos voltados para as camadas populares com o desejo de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e mais democrática”. Foram várias as denominações dadas a este tipo de educação voltada a população de base, para adultos e popular, o surgimento deste movimento data da mesma época da publicação do livro Pedagogia do Oprimido (1968) de Paulo Freire, fruto de suas experiências nas atividades educativas no Brasil, que preconizava a importância de se posicionar a educação como instrumento de conscientização, liberdade e transformação.

A partir dos anos 70, profissionais de saúde começaram a integrar as experiências de educação popular e experiências alternativas de saúde começaram a ser reestruturadas, isto significou “partir da realidade de pessoas para buscar os temas geradores de discussões”. A história da educação popular em saúde, não começou nos anos 60. Seus primeiros passos para originar os programas de educação em saúde no país surgiram em 1920 com a criação do primeiro Pelotão de Saúde em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Este modelo foi adotado posteriormente em escolas primárias do Distrito Federal, entre outras ações é registrada na mesma época a criação da inspetoria de Educação Sanitária do Departamento de Saúde e Assistência em Pernambuco, em meados da Revolução de 30. As atividades sanitárias estavam então concentradas nas cidades (PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA, 2006).

Em 1940, ocorreu uma grande transformação na educação sanitária, foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública, reconhecendo a educação sanitária como atividade básica e atribuindo a outros profissionais, tais como, técnicos e auxiliares de saúde, a responsabilidade pelas tarefas educacionais destinadas a grupos de gestantes e mães adolescentes. Em 1970, as mudanças que decorreram nesta década não contribuíram para a inclusão da educação nos programas de saúde desenvolvidos pelo ministério e secretarias estaduais de saúde e foram implantados os primeiros sistemas de informação de saúde que começaram a surgir experiências de serviços comunitários desvinculados do Estado. 

Nos anos 80 vem a democracia. Com esta, a construção do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 1990, com a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), surge um “ambiente favorável ao desenvolvimento da educação popular em saúde que passou a ser tomado como referencial de uma nova prática, em educação popular, com o propósito de reorganizar a prática de atenção à saúde em novas bases e substituir o modelo tradicional” (PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA, 2006)

Com o passar dos anos, o processo educacional para a promoção de ações comunitárias, também, passou por modificações, se adequando à realidade social e foi através da observação de que “as práticas desenvolvidas sem o envolvimento da população-alvo revelaram na verdade o profundo desconhecimento dos planejadores da saúde sobre o universo de representações do indivíduo” interferindo, segundo o Ministério da Saúde (2000), na forma de conceber a vida, o trabalho, a saúde e o seu conhecimento prévio sobre o tema a ser ensinado, a partir desta conscientização, foi percebido que os princípios metodológicos, também, teriam que ser revisados com participação da população, produzindo-se coletivamente, modificação dos materiais didáticos produzidos e linguagem acessível ao nível da comunidade.

Etapas importantes são traçadas quando se identificam as condições de vida, trabalho e risco de adoecimento da população-alvo, passando o processo educacional popular a ser objeto transformador de sujeitos que constroem suas vidas e cidadania. A partir da identificação dos problemas da comunidade, o propósito será o de detectar “como a informação e a educação podem comandar uma modificação do comportamento cultural relativo a prevenção e controle de doenças” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). Todo o processo deverá estar centrado na elaboração de princípios de aprendizagem que construam o conhecimento, com materiais educativos (dispositivos, cartazes, folhetos, cartilhas) que tenham características da população-alvo. Posteriormente, tais materiais educativos deverão ser testados em uma amostra da população-alvo:

“É uma etapa de grande importância para melhor adequação dos materiais ao nível de aprendizagem da população a que se destinam os materiais assim como a elaboração de um manual de instrução para os multiplicadores, segundo a referida autora, é a garantia de unidade e ação no trabalho. Como última etapa no processo de educação popular é a avaliação do processo educativo e do impacto”.

A avaliação do processo pretende monitorar cada etapa do projeto, desde a definição da população-alvo até a seleção de métodos e meios educacionais à produção de materiais instrucionais, “o treinamento de multiplicadores, o desenvolvimento do trabalho, medindo-se a eficiência e eficácia de cada etapa, identifica os possíveis problemas para que se realizem ajustes e correções” (CHIESA, FUJIMORI, FRACOLLI, 2006).

Segundo o Ministério da Saúde (2000), “cabe, portanto, a educação, corresponder a essa nova concepção e aumentar o seu campo de atuação, auxiliando a saúde no atendimento às necessidades humanas de bem-estar e padrões dignos de vida”. Nesta perspectiva, surge a educação para a saúde, caracterizada como veículo integrador dos mais diferentes campos do saber humano, com vistas a elevar os padrões de saúde, promovendo melhores níveis de saúde.

A educação para a saúde é preocupação de países desenvolvidos como os Estados Unidos e os da Europa havendo, segundo observou Menestrina (1990), grande preocupação com os aspectos educativos da saúde, onde foram criados cursos de mestrado e doutorado com o objetivo de preparar recursos humanos para atuar nesta área, preocupação de países desenvolvidos que não apresentam os graves problemas sanitários e educacionais dos países do terceiro mundo.

Para acompanhar e atingir os objetivos básicos referentes à saúde e a educação é necessário “uma ação educativa permanente que forneça, através do sistema de saúde, ações sanitárias de caráter educativo promovendo a humanização da sociedade através de medidas profiláticas”. Essas medidas teriam certamente como resultado a formação de um homem mais auto-educativo e em condições de sentir-se bem e viver melhor, assumindo uma nova perspectiva: a de partir em defesa de sua própria saúde e da saúde social, levando sempre em conta a tentativa de solucionar problemas (MENESTRINA, 1990).

Segundo Menestrina (1990), através de adequadas ações educativas, pode-se melhorar o nível da educação que engloba três elementos básicos: conhecimento, atitudes e comportamentos, contribuindo para que padrões de vida cada vez mais adequados sejam atingidos. Para estabelecer as bases conceituais para ações de educação em saúde é necessário “elaborar um trabalho dirigido para atuar sobre o conhecimento das pessoas para que elas desenvolvam o juízo crítico e capacidade de intervenção sobre suas vidas e sobre o ambiente com o qual interagem”, ficando claro que o indivíduo tem direito à informação, o cidadão tem o dever de informar, sem deixar de perceber que os dados e informações devem ser claros e serem transmitidos de maneira adequada, utilizando-se de “sistemas visuais e auditivos” que mobilizem a atenção e motive sua divulgação e que, sobretudo, as atenções à saúde devam acontecer de maneira contínua.

As bases da educação popular estão inseridas no processo de humanização. O educador Miguel Arroyo destaca os pontos fundamentais para a educação popular em saúde: diálogos entre os sujeitos, a educação vista como humanização, resgate da humanidade roubada, trabalho com a totalidade e dimensões do sujeito, e finalmente busca de matizes pedagógicas apropriadas à formação deles: o profissional de saúde não percebe que seu trabalho é educativo (PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA, 2006).

Brunner e Suddart (1999), referiram que um dos maiores desafios para a Enfermagem é atender as necessidades de educação para a saúde da população, cabendo ao enfermeiro o papel de professor, uma função independente da prática da Enfermagem e a sua principal responsabilidade. Foi observado que as atribuições educativas na área de Saúde Pública acontecem em vários setores como pré-natal, puericultura, atendimento domiciliar, explicando que “todo contato que o enfermeiro tem com o usuário de saúde, estando a pessoa doente ou não, deve ser considerado uma oportunidade de ensino de saúde”. As ações educativas realizadas por enfermeiros refletem no aparecimento de um grupo mais informado com perguntas mais significativas sobre saúde e demais serviços oferecidos.

Dentre as mudanças que têm ocorrido no sistema de saúde pública, a redução e a contenção dos gastos deram uma grande contribuição a educação em saúde. As ações proporcionaram a prevenção de doenças, a diminuição de tratamentos caros, tempo de hospitalização e facilitou a alta precoce. Segundo o Programa de Saúde da Família (2006) de 1991 a 2001 considerou-se “num dos momentos em que se pode falar de uma experiência em educação popular na área de saúde”. Foi um momento de troca onde a Área de Saúde não se limitou a um modelo assistencialista se estendendo a uma ação cultural e ampliada de diálogo e crescimento em busca de saída e soluções sociais.

A fitoterapia como opção terapêutica

A Europa detém o mercado mais desenvolvido do mundo na área de fitomedicina, com critérios para registro e controle de qualidade. Atualmente, 40% dos remédios relacionados no Compêndio Médico Alemão são oriundos de vegetais. No Brasil, vem aumentando gradativamente a utilização de fitoterápicos nos serviços de saúde do Distrito Federal, de Pernambuco, do Ceará, do Espírito Santo e da Paraíba, dentre outros (ALONSO, 1998; AMORIM, 2001; CARRICONDE, MORES, FRITSCHEN, CARDOZO JÚNIOR, 1995; CARRARA, 2005). Em contrapartida o número de doenças crônicas e traumatismos aumentam e muitos dos tratamentos convencionais são onerosos e apresentam resultados muitas vezes insatisfatórios, além de efeitos colaterais como a ulceração gastroduodenal com o uso de antiinflamatórios (COSTA, 1992; DINIZ; OLIVEIRA; MEDEIROS; MALTA JÚNIOR, 1997; ERNANE, 1994).

A fitoterapia é uma opção terapêutica relativamente acessível, do ponto de vista econômico e, em alguns casos, com menor intensidade de efeitos colaterais. Faz parte da prática da medicina popular, a qual se constitui como um conjunto de saberes articulados, que estão perfeitamente internalizados entre diversos usuários através, principalmente da tradição oral, tendo essa prática diminuída muito com a industrialização dos medicamentos, nas décadas de 40 e 50. Inúmeras espécies de plantas possuem propriedades medicinais encontradas nas raízes, cascas, folhas, flores, que sob a forma de chás, xaropes ou emplastos podem ser usadas no tratamento de pacientes com traumas, afecções articulares e inflamação antiinflamatórios (COSTA, 1992; DINIZ; OLIVEIRA; MEDEIROS; MALTA JÚNIOR, 1997; ERNANE, 1994; GRUENWALD, 1998).

Fitoterapia

No Brasil, um país onde a miscigenação é predominante, a utilização de plantas no tratamento de doenças apresenta, fundamentalmente, influências da cultura indígena, africana e, naturalmente européia (MARTINS, 2000). Os índios utilizavam a fitoterapia numa visão mística, em que o pajé ou feiticeiro da tribo fazia uso de plantas possuidoras de poderes alucinógenos para sonhar com espíritos que lhe revelaria então a erva ou procedimento a ser seguido para a cura dos doentes e, também, pela observação de animais que procuravam determinadas plantas quando enfermos.

A influência africana é pouco conhecida, porém importante. Para os negros, quando alguém adquiria uma enfermidade é porque estava possuído pelo espírito mau, e um curandeiro através de exorcismo tinha a função de expulsá-lo, utilizando como complemento do ritual, drogas de origem vegetal. A herança europeia, por sua vez, teve início com a chegada dos primeiros padres da companhia de Jesus, comandado por Nóbrega, em 1579, os quais vieram com Tomé de Souza, com o objetivo de catequizar os índios. Elaboraram receitas com o nome ‘’Boticas dos colégios’’ composto de plantas para o tratamento de enfermidades. De origem européia é a maioria das ervas, e, embora não sendo nativas, a maioria delas reproduz espontaneamente e forma genótipos ou variedades diferentes daquelas as quais os europeus trouxeram consigo no período da colonização. Influências estas que marcaram as distintas áreas de nossa cultura, tanto no âmbito espiritual como material, compõe a base da medicina popular que já a alguns anos vem sendo resgatada pela medicina natural, que procura aproveitar tais práticas acrescentando – lhe um caráter científico introduzindo – as num conjunto de princípios que tem como objetivo não apenas curar algumas enfermidades, mas trazer o homem de volta as suas raízes, que é a natureza (MARTINS, 2000).

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