Prisioneiros dançam com daimistas num templo de Ji-Paraná, Rondônia, depois de tomar o chá
Ao invés de maus tratos e superlotação, presídio de segurança máxima recorre a massagens, meditação, reiki — e até ayuahusca — para tentar reduzir índices de reincidência
Por Simon Romero, do New York Times | Fotos Lalo de Almeida | Tradução Inês Castilho
Assim que o céu noturno envolveu esse posto avançado da Amazônia brasileira, começou a cerimônia no templo ao ar livre. Dezenas de adultos e crianças, todos trajados de branco, postaram-se numa fila. Um “padrinho” ofereceu a cada um deles uma xícara de ayahuasca – bebida alucinógena fermentada e barrenta. Eles a engoliram; alguns vomitaram. Cantaram hinos. Mais ayahuasca foi consumida. À meia-noite, os fieis pareciam estranhamente energizados. Então, a dança começou.
Esses rituais são costumeiros em toda a Amazônia, região onde a ayahuasca vem sendo consumida há séculos e onde várias religiões se formaram em torno do preparado psicodélico. Mas a cerimônia deste mês foi diferente: entre os que receberam a bebida das mãos do homem santo estavam presidiários condenados por crimes como assassinato, sequestro e estupro.
“Finalmente estou entendendo que estava levando a vida para o caminho errado”, disse Celmiro de Almeida, 36, que cumpre sentença por homicídio num presídio que fica a quatro horas dali, por uma estrada que serpenteia através da floresta. “Cada experiência ajuda a me comunicar e implorar perdão a minha vítima”, disse Almeida, que tomou ayahuasca cerca de vinte vezes nesse santuário.
A oferta de um alucinógeno para detentos em licença breve, no meio da floresta tropical, mostra a busca contínua de modos de aliviar a pressão no sistema prisional brasileiro. A população carcerária do país dobrou desde o início do século, para mais de 550 mil, tensionando prisões subfinanciadas repletas de violações dos direitos humanos e violentas revoltas, que podem acabar com degolas.
Uma das revoltas mais sangrentas das últimas décadas ocorreu numa cidade próxima de Porto Velho, em 2002, quando ao menos 27 detentos foram mortos na penitenciária de Urso Branco. Na mesma época, a Acuda (Associação Cultural e de Desenvolvimento do Apenado e Egresso), grupo de Porto Velho pioneiro em direitos dos presos, começou a oferecer aos detentos sessões de terapia com ioga, meditação e reiki, um ritual de cura com as mãos sobre o corpo do paciente.
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