quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Riscos químicos do cotidiano, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] Em todo cotidiano, sem que se perceba, estão presentes muitas substâncias químicas indesejáveis em produtos, objetos ou alimentos para preparo. Revista exame divulga matéria, na qual mais de 200 cientistas de 38 países, manifestam e descrevem algumas situações.

A substância mais comum são os chamados compostos perfluorados, também conhecidos como PFCs (sigla em inglês para “Perfluorinated chemicals”). Resultantes da moderna indústria química sintética, estes produtos são utilizados para fabricar artigos e produtos com características impermeabilizantes e antiaderentes.

A listagem inclui utensílios e artefatos de cozinha, embalagens de pipoca para micro-ondas, tecidos e tapetes tratados para ficarem impermeáveis a líquidos e resistentes à manchas, móveis, revestimentos de papel e de cosméticos, entre outros produtos do cotidiano de vida.

Segundo consenso científico sobre o tema, conforme relata a revista Exame em seu site, já rendeu mais de uma centena de pesquisas e deu origem à Declaração de Madrid, documento publicado na revista “Environmental Health Perspectives”.

Segundo todos os relatos, toda a natureza de produtos químicos altamente fluorados são extremamente persistentes no meio ambiente e potencialmente tóxicos. E, de acordo com todas as recomendações, devem ser substituídos por quaisquer “alternativas mais seguras”.

Existe um forte apelo aos governos de todo o mundo para restringir a produção e o uso destes produtos químicos, além de recomendar que os consumidores, tanto quanto possível, evitem sua utilização. Por sua capacidade de “imitar” as estruturas químicas dos hormônios e, até mesmo pelas possibilidades de produzir interferências nas sínteses destes mensageiros químicos do corpo, substâncias perfluoradas fazem parte de um grupo chamado de “disruptores endócrinos” no meio acadêmico ou científico.

Existe um grande e crescente conjunto de evidências que associam tais substâncias químicas a um espectro variado de problemas de saúde, que incluem certas tipologias de câncer, ocorrência de impactos no desenvolvimento dos sistemas imunológico e neurológico de indivíduos em fases de evolução, diminuição na contagem de espermatozoides de seres adultos, baixo peso de nascimento, entre outros problemas considerados de gravidade na saúde de indivíduos.

A exposição ocorre de múltiplas formas. Através da dieta alimentar, por utilização de alimentos previamente embalados ou cozidos em materiais que continham PFCs, pela presença de água contaminada e até mesmo pelo ar, pois produtos domésticos podem contaminar o ar interno de residências ou recintos fechados. Estas substâncias podem persistir por milhares de anos no meio ambiente, o que significa que muitas gerações futuras continuarão expostas aos efeitos e consequências já descritos.

A matéria da revista Exame ressalta que fabricantes do setor químico reagiram à publicação do documento. O “FluoroCouncil”, um grupo global que representa as principais empresas de “fluorotecnologia” insiste em defender, de que alguns desses produtos químicos são seguros. Consta que o grupo emitiu uma refutação ao comunicado de Madrid, dizendo e defendendo, de que a “fluorotechnology” é um processamento vital e essencial para muitos aspectos da vida moderna e implementando esforços para a eliminação progressiva de alguns dos produtos químicos fluorados que são considerados mais prejudiciais e nocivos para indivíduos e ambientes.

A revista evidencia para a chamada “epidemia silenciosa” de problemas neurológicos, causados por substâncias do cotidiano que corroem a inteligência e perturbam o comportamento. Como neurotoxinas invisíveis, que podem causar autismo, déficit de atenção, dislexia, paralisia cerebral e são ameaças ocultas do cotidiano, que podem deflagrar essas disfunções.

Outra substância do cotidiano moderno são os produtos com chumbo, cujas principais formas de contaminação se dão pela ingestão de alimentos ou água contaminados e por inalação de partículas de poeira da substância.

Outra substância considerada persistente é o tolueno ou metil benzeno que ficou popularmente conhecido no Brasil como cola-de-sapateiro, apesar de estarem presentes em outros tipos de colas, como as utilizadas na marcenaria. Esta substância também é usada como solvente, em pinturas, revestimentos, borrachas e resinas. A exposição materna ao tolueno tem sido associada a problemas de desenvolvimento cerebral e déficit de atenção na criança.

A exposição ao metilmercúrio, que afeta o desenvolvimento neurológico do feto, muitas vezes vem de ingestão materna de peixe que contém altos níveis de mercúrio. Esta é uma situação muito comum em antigas zonas de garimpo, onde o mercúrio e usado como amálgama para ouro e polui rios. Segundo o estudo, a vulnerabilidade do cérebro em desenvolvimento à toxicidade do metilmercúrio é muito maior que a do cérebro adulto. Os efeitos podem perdurar por anos.

Os bifenilos policlorados ou “PCBs”, tem sido rotineiramente associados a funcionalidades cognitivas, quando se tornam reduzidas na infância. Muitas vezes, estão presentes em alimentos, principalmente peixes, carnes e lácteos contaminados, e podem ser repassadas ao bebê pelo leite materno. Essas substâncias também são encontradas em aparelhos elétricos velhos, onde agem como isolantes térmicos.

O grupo de compostos conhecidos como polibromados éteres difenil ou “PBDEs” são amplamente utilizados como retardadores de chama, para proteger móveis, tapetes e roupas. Experimentos diversos sugerem que os PBDEs também podem ser neurotóxicos, afetando principalmente crianças.

Pesquisa com crianças que foram expostas no pré-natal ao percloroetileno em água potável mostrou tendência para deficiências na função neurológica e risco aumentado de diagnósticos psiquiátricos. Também chamado de tetracloroetileno este composto é um líquido incolor e volátil à temperatura ambiente. É usado como desengraxante de peças metálicas, em lavagens a seco, na indústria têxtil, e produtos de limpeza e de borracha laminada.

O Bisfenol ou “BPA” é uma substância usada na fabricação de policarbonato, que é utilizado na produção da maioria dos plásticos rígidos e transparentes, e também na produção da resina epóxi, e que faz parte do revestimento interno de latas que acondicionam bebidas e alimentos industrializados. Desde 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) decidiu proibir, no Brasil, a venda de mamadeiras de plástico que tenham a substância. O BPA pode enganar o corpo e fazê-lo pensar que é hormônio real. Tem sido associado a diversos tipos de câncer e problemas reprodutivos, além de obesidade, puberdade precoce e doenças cardíacas.

Os pesticidas clorpirifós e o DDT podem ser vinculados a anormalidades no desenvolvimento neurológico, particularmente em crianças. Estas substâncias são proibidas em muitas partes do mundo, mas ainda muito utilizados em países de baixa renda, ou onde as redes de proteção social não se sensibilizem com vulnerabilidades sociais de forma relevante. Estudos recentes também relacionam estes pesticidas com a doença de Alzheimer. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) proibiu, em 2004, a industrialização, produção, distribuição, comercialização e entrega de inseticidas de uso doméstico e em ambientes coletivos à base do princípio ativo clorpirifós. O DDT foi banido nos EUA na década de 70. No Brasil, o uso do DDT foi proibido em 2009.

Os fluoretos estão presentes em cremes dentais e antissépticos bucais para prevenir cáries, mas também são adicionados em inseticidas e venenos para ratos. Na década de 1960, foi disseminada a crença de que adicionar esta substância química em água potabilizada, atribuindo a funcionalidade de fortalecimento da saúde bucal, apresenta resultados.

Produtos químicos chamados ftalatos criam uma falsa sinalização de morte em células testiculares, determinando sua morte mais precoce. É usado para dar mais flexibilidade aos plásticos. Os ftalatos podem ser encontrados em várias situações d cotidiano mderno, na cortina do box do chuveiro, em cabos elétricos, na cobertura do chassi do carro e nos plásticos das portas. Outros apropriações de realidade, ligam os chamados ftalatos a alterações hormonais, defeitos congênitos no sistema reprodutor masculino, obesidade, diabetes e irregularidades da tireoide.

O elemento químico arsênico é largamente emprgado em processos de fundição de metais e na conservação de madeira. Consta que Sócrates foi envenenado com cicuta, um veneno a base de arsênico. Este metal é encontrado no meio ambiente combinado com outros elementos. Seus compostos geralmente formam um pó branco ou incolor que não tem cheiro ou sabor, o que dificulta identificação do tóxico em alimentos, na água ou na atmosfera. Exposições de crianças ao arsênico, presente em água potável contaminada, estão associados com déficits cognitivos em crianças com idade escolar e risco elevado de doença neurológica durante a vida adulta.

O manganês apresenta uma relação forte com hiperatividade. Crianças em idade escolar, que viviam próximo a áreas de mineração e processamento do minério demonstraram diminuição da função intelectual, deficiência em habilidades motoras e redução da função olfativa. Este produto químico, usado para fabricação de aço, tem sido associado ao baixo desempenho em matemática, função intelectual diminuída e déficit de atenção.

Esta não é uma reflexão alarmista. Todas as informações aqui compiladas se encontram em site de revista de grande circulação nacional e elevada credibilidade e indicadas nas referências bibliográficas consultadas, logo ao final da monografia. Ninguém é contra atividade empresarial alguma, todos dependem de algum emprego, isto são leis para sobreviver, e esta é uma situação muito clara. Mas todas as pessoas, sem exceção sonham com um mundo mais saudável para viverem com suas famílias e criarem seus filhos. Da mesma forma se sabe que todas as empresas e organizações sempre buscam evoluir e buscar materiais que na sejam percebidos como tóxicos e nocivos.

O mundo e a civilização humana, como se apresentam, estão pouco amigáveis e longe daquela coloração rosácea que a publicidade tenta em vão colorir a televisão todas as noites, com seu envoltório esfumaçado de projeções oníricas e sonhadoras.

Existe consciência de que não são leis proibindo, que vão resolver tudo na sociedade de tanto risco tão bem descrita por Ulrich Beck. Nem atitudes individualistas ou espontaneístas que vão resolver qualquer coisa. Mas a está na hora de fazer uma profunda reflexão social e alterar de forma planejada e contínua, a autopoiese social sistêmica que determina a operação da sociedade, em busca de harmonia e equilíbrio de vida, em contexto de viabilidade ecossistêmica e busca de homeostase universal.


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

in EcoDebate, 26/11/2015
"Riscos químicos do cotidiano, artigo de Roberto Naime," in Portal EcoDebate, 26/11/2015,http://www.ecodebate.com.br/2015/11/26/riscos-quimicos-do-cotidiano-artigo-de-roberto-naime/.

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