Há dois anos, os moradores começaram a cultivar 18 espécies de plantas na comunidade, gerando renda e ajudando a preservar o bioma, um dos mais devastadas do Brasil.
A 240 quilômetros da maior cidade sul-americana, uma imensa reserva de mata atlântica esconde um conjunto de comunidades onde o tempo praticamente parou. Elas se formaram por volta de 1700, quando uma senhora portuguesa, sem filhos e perto do fim da vida, doou a própria mina de ouro para a igreja e libertou as famílias que trabalhavam nas terras.
Desde então, os ex-escravos e seus descendentes se mantiveram em isolamento quase total, sem dinheiro nem estradas, vivendo da agricultura em pequena escala. Casas, somente as de pau a pique.
“A pista de terra só foi construída na década de 60. As pessoas compravam e pagavam tudo com troca de serviços. Até hoje alguns usam esse sistema”, conta José Paula de França, 61 anos, presidente da Associação do Quilombo Nhunguara, um dos 12 quilombos da região.
A falta de modernidades é compensada pelo ar puríssimo, pelo silêncio e por uma paisagem quase intocada. E, para levar um pouquinho desse ambiente a quem o necessite, os moradores do Nhunguara há dois anos começaram a produzir mudas das árvores da mata atlântica.
É uma forma de ajudar a preservar a floresta, uma das mais devastadas do Brasil, e ao mesmo tempo garantir uma nova fonte de renda. Atualmente, além da pequena agricultura – feita em terrenos montanhosos, onde não se podem usar máquinas –, os quilombolas vivem de programas como o Bolsa Família ou da aposentadoria.
Dezoito espécies, metade delas nativas e metade exóticas, são cultivadas no viveiro construído com apoio do programa Microbacias, uma parceria do Banco Mundial com o Governo de São Paulo. A iniciativa também permitiu ao grupo erguer uma composteira, para evitar o uso de adubos químicos, e a se estruturar para comercializar cada vez mais mudas.
“Ainda não vendemos muito. No último ano, plantamos 25 mil mudas. As vendas renderam R$ 1 mil para cada uma das 11 pessoas do grupo e ainda reinvestimos na compra de sementes. Espero que no futuro possamos melhorar, pois temos mais noções de administração para fazer tudo”, conta a produtora rural Ana Maria Marinho, 58 anos.
Atualmente, os quilombolas vendem apenas para outros agricultores familiares e não têm uma clientela fixa. Por isso, o grupo se associou a outros donos de viveiros para obter o Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM). O documento lhes permitirá finalmente vender as plantas para pessoas físicas e empresas.
“Meu sonho é ver nosso caminhão saindo daqui cheio de mudas”, continua Ana Maria, pensando em um futuro de menos isolamento e mais oportunidades para os quilombolas de hoje e do futuro.
Informe do Banco Mundial, in EcoDebate, 13/11/2015
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