quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Alerta sobre o uso da graviola no tratamento do câncer



NÃO DEIXEM DE LER esse texto do Prof. Dr. Luis Carlos Marques alertando sobre os riscos do uso clínico da graviola. 

A GRAVIOLA, por apresentar alta citotoxicidade, NÃO deve ser USADA como PREVENTIVO para o CÂNCER!

A anonacina, um constituinte lipofílico isolado da graviola, é inibidor do complexo I mitocondrial e induz a neurodegeneração estriatal e da substância negra, Champy et al. (2004). Essa disfunção neuronal pode acarretar a doença de Parkinson.

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DA GRAVIOLA EM CÂNCER

O câncer é uma doença grave, de grande prevalência em todo o mundo, sendo a segunda causa de morte mais frequente no Brasil. Para o ano de 2015, o INCA estimou cerca de 580 mil novos casos distribuídos nos vários subtipos (mama, próstata, cólon, pulmão, etc.).

Dos vários quimioterápicos disponíveis para o tratamento do câncer, muitos deles são de origem vegetal, como exemplos vimblastina, vincristina, paclitaxel, podofilotoxina, dentre outros, amplamente produzidos e consumidos em todo o mundo (Costa-Lotufo et al., 2010). Nesse cenário, recentemente desencadeou-se a divulgação e o consumo das folhas da graviola (Annona muricata) como a mais nova arma natural contra o câncer. Assim, pretende-se avaliar a veracidade dessa possibilidade em termos de evidências científicas modernas.

Estudos de citotoxicidade

A origem dos efeitos da graviola surgiu a partir de testes com células (Rupprecht et al., 1990), no chamado modelo de citotoxicidade, onde grupos de células são expostos a concentrações variadas de extratos vegetais.

De acordo com a revisão de Moghadamtousi e colaboradores (2015), esse efeito é real e decorrente da classe fitoquímica das acetogeninas, amplamente presentes nas espécies de Annona. Os extratos das folhas mostraram-se capazes de induzir apoptose em modelos utilizando células de cânceres de cólon, de pulmão e leucemia K562 através de ativação da caspase-3; já o efeito antiproliferativo decorre de ação na fase G1 do ciclo celular.

Apesar desses efeitos demonstrados em modelos in vitro e em animais, até o momento não existem estudos em animais maiores, não roedores, nem qualquer estudo clínico em nenhuma das fases. Tratam-se, portanto, de indícios pré-clínicos, os quais necessitam serem replicados em testes com seres humanos antes de qualquer conclusão efetiva ou comercialização.

Evidências clínicas

A partir dos testes de citotoxicidade, deveriam ter sido realizados os estudos sequenciais para o desenvolvimento de medicamentos, passando por estudos de segurança em animais e chegando-se aos estudos clínicos nas suas quatro fases. Porém esses estudos inexistem até o momento evidenciando algum problema em relação à planta e seus fitoquímicos.

Esses problemas foram evidenciados por indícios de risco a partir de dados epidemiológicos. Assim, desde 1999 se avalia possíveis relações entre o consumo de frutas tropicais e a incidência, acima de ocorrências ‘normais’, de um modelo atípico da doença de Parkinson nos habitantes das Antilhas Francesas (Caparros-Lefebvre; Elbaz, 1999; Moghadamtousi et al., 2015). As acetogeninas isoladas (AGEs) mostraram-se as responsáveis pelo desenvolvimento dessa doença neurodegenerativa, particularmente a anonnacina, que atuam inibindo o complexo mitocondrial I e induzindo neurodegeneração nas regiões das fibras nigro-estriatais, ricas no neurotransmissor dopamina (Champy et al., 2004; Lannuzel et al., 2002; 2003; 2006).

Como equacionar a graviola na fitoterapia atual?

Com base nos dados expostos, apesar dos indícios em modelos de células in vitro, os riscos de uso clínico da planta ou seus extratos são superiores a qualquer benefício que possa, teoricamente, promover em pacientes. Vale comentar que nessa doença os pacientes e familiares ficam muito fragilizados, buscando qualquer promessa de cura, ainda mais com o conceito de ‘natural’ à frente.

Futuramente, pode ser que novos quimioterápicos sejam desenvolvidos a partir de alterações estruturais nas acetogeninas, que mantenham os efeitos e equacionem sua neurotoxicidade, mas isso é apenas uma possibilidade distante das indicações atuais de produtos à base de graviola.

Cabe aos profissionais da saúde alertar aos riscos acima descritos, principalmente frente a inúmeras ofertas de produtos na internet e mesmo em redes de farmácias (ex.: Graviola 400 mg em cápsulas). Já na forma de uso alimentício, não se tem ainda um posicionamento definitivo, mas se houver o consumo de uma fruta ou suco dela diariamente, após um ano a quantidade de annonacina ingerida será a mesma capaz de induzir lesões cerebrais em ratos (Moghadamtousi et al., 2015).

Referências

Caparros-Lefebvre D, Elbaz A. Possible relation of atypical parkinsonism in the French West Indies with consumption of tropical plants: a case-control study. Caribbean Parkinsonism Study Group. Lancet. 1999 Jul 24;354(9175):281-6.

Champy P, Hoglinger GU, Feger J, Gleye C, Hocquemiller R, Laurens A, Guerineau V, Laprevote O, Medja F, Lombes A, Michel PP, Lannuzel A, Hirsch EC, Ruberg M. Annonacin, a lipophilic inhibitor of mitochondrial complex I, induces nigral and striatal neurodegeneration in rats: possible relevance for atypical parkinsonism in Guadeloupe. J Neurochem. 2004 Jan;88(1):63-9.

Costa-Lotufo, L. V.; Montenegro, R. C.; Alves, A. P. N. N., Madeira, S. V. F.; Pessoa, C.; Moraes, M. E. A.; Moraes, M. O. A contribuição dos produtos naturais como fonte de novos fármacos anticâncer: estudos no laboratório nacional de oncologia experimental da Universidade Federal do Ceará. Rev. Virtual Quim., 2010, 2 (1), 47-58. Obtido dehttp://www.uff.br/rvq em 02/10/2015.

Lannuzel A, Hoglinger GU, Champy P, Michel PP, Hirsch EC, Ruberg M. Is atypical parkindonism in the Caribbean caused by the consumption of Annonaceae? J Neural Transm Suppl. 2006;(70):153-7.

Lannuzel A, Michel PP, Caparros-Lefebvre D, Abaul J, Hocquemiller R, Ruberg M. Toxicity of Annonaceae for dopaminergic neurons: potential role in atypical parkinsonism in Guadeloupe. Mov Disord. 2002 Jan;17(1):84-90.

Lannuzel A, Michel PP, Hoglinger GU, Champy P, Jousset A, Medja F, Lombes A, Darios F, Gleye C, Laurens A, Hocquemiller R, Hirsch EC, Ruberg M. The mitochondrial complex I inhibitor annonacin is toxic to mesencephalic dopaminergic neurons by impairment of energy metabolism. Neuroscience. 2003;121(2):287-96.

Moghadamtousi, S.Z., Fadaeinasab, M.; Nikzad, S.; Mohan, G.; Ali, H.M.; Kadir, H.A. Annona muricata (Annonaceae): a review of its traditional uses, isolated acetogenins and biological activities. International Journal of Molecular Sciences 2015, 16, 15625-15658.

Rupprecht, J.K.; Hui, Y-H.; McLaughlin, J.L. Annonaceous acetogenins: a review. J. Nat. Prod., 1990, 53 (2), pp 237–278.

Sobre o autor

Prof. Dr. Luis Carlos Marques

Farmacêutico pela Universidade Estadual de Maringá, especialista em Fitoterapia pela Escola de Saúde Pública do Paraná, mestre em Botânica pela Universidade Federal do Paraná e doutor em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo.


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