A proteção de aço é a maior estrutura móvel do mundo, com 108 metros de altura, 250 metros de largura e 150 metros de comprimento. Foto: EPA/Roman Pilipey/Agência Lusa
Num canteiro de obras montado ao lado do reator número 4 da antiga Usina de Chernobil, na Ucrânia, uma espécie de escudo gigante feito de aço, construído a partir de um projeto de colaboração e financiamento internacional, está sendo finalizado.
Trata-se da maior estrutura móvel do mundo, com 108 metros de altura, 250 metros de largura e 150 metros de comprimento. A dimensão equivale a um prédio de 36 andares e com área onde caberiam pelo menos três campos de futebol.
Já são quatro anos de trabalho para criar a nova estrutura, que deve ser movida sobre o reator em novembro deste ano. O arco gigante vai protegê-lo e selá-lo, a fim de evitar o vazamento de radiação e melhorar a estabilidade do sarcófago de concreto e aço construído meses depois do pior desastre nuclear da história.
No dia 26 de abril de 1986, após um teste mal-sucedido, um dos quatro reatores da Usina de Chernobil, então na antiga União Soviética, explodiu e liberou uma enorme nuvem radioativa, que se espalhou por boa parte da Europa.
Como consequência direta, 31 pessoas morreram. Mas outras dezenas ou até centenas de milhares perderam a vida para doenças como o câncer, relacionadas aos altos níveis de radiação. Até hoje não há consenso sobre o número de vítimas.
Em abril de 1986, um dos quatro reatores de Chernobil explodiu e liberou uma enorme nuvem radioativa, que se espalhou por boa parte da Europa. Foto: EPA/Roman Pilipey/Agência Lusa
Sem solução
Depois de 30 anos, a estrutura de contenção antiga já passou do “prazo de validade” e está bastante deteriorada. Se ela ceder, poderá liberar grande quantidade de resíduos radioativos e causar sérios danos. Por isso, criar uma nova proteção, mais moderna, era necessário e urgente. “Ela foi projetada para durar 100 anos e dar à Ucrânia a chance de desmontar o reator número quatro e torná-lo seguro para sempre”, informou o gerente de Segurança e Meio Ambiente da obra, David Driscoll.
Em relatório divulgado neste mês, a ONG Greenpeace na Alemanha criticou não só os altos custos do projeto – mais de dois bilhões de euros – e a demora em concluí-lo, mas, principalmente, o fato de que, até agora, quase nada foi feito em busca de solução de longo prazo para tornar o reator danificado em um sistema ambientalmente seguro.
Segundo a organização, ainda não existe tecnologia disponível para lidar com a grande quantidade de material radioativo e dar um destino adequado a ele. Chegar a essa solução exige ainda mais investimento.
“O receio é que, após a conclusão do Plano de Proteção, a Ucrânia tenha de lidar sozinha com o problema. A forma como a recuperação do reator e do material radioativo será financiada é uma pergunta que ainda está no ar e poderá custar dezenas de bilhões de dólares”, acrescentou o relatório. “Nós podemos concluir que, 30 anos após o pior desastre nuclear que o mundo já viu, o reator danificado ainda representa um risco.”
Contaminação
Ainda hoje, muita gente está exposta aos perigos da radiação presente no solo, na comida e na água, mesmo a centenas de quilômetros de Chernobil. Segundo dados oficiais, cinco milhões de pessoas residem em regiões contaminadas na Ucrânia, na Rússia e na Bielorrúsia – os países mais afetados pelo desastre de 1986.
“Cerca de um milhão dessas pessoas recebe doses anuais de radiação acima do que o nível máximo definido para populações”, detalhou o ativista senior do Greenpeace, Rashid Alimov. Apesar do risco e por falta de opção, os moradores se alimentam de plantas e animais que crescem nesses locais.
A situação é ainda mais crítica na chamada “zona de exclusão”, que fica num raio de 30 quilômetros da antiga Usina Nuclear de Chernobil. O cenário é de ruas desertas e de construções destruídas e abandonadas, onde antes viviam milhares de pessoas. Plantas crescem entre as ruínas e animais selvagens voltaram para a região, que foi totalmente evacuada depois do desastre.
Mas, hoje, algumas centenas de ex-moradores, a maioria idosos, vive nessa zona de exclusão. Apesar de ilegal, a presença deles é tolerada. Maria Lozbin, de 69 anos, é uma dessas pessoas. Há seis anos, ela decidiu voltar para a vila abandonada de Pripyat, onde, para ela, “a vida é boa e tranquila”. “Não tenho medo de nada. Planto e como tudo o que a terra dá. Quando for a hora de eu morrer, vai acontecer com ou sem radiação. Vou morrer quando a hora chegar”, concluiu Maria.
Por Aline Moraes, da Agência Brasil, in EcoDebate, 27/04/2016
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