segunda-feira, 12 de março de 2012

Hortelã-de-panela




Antigamente, era bem mais fácil de encontrá-la nos quintais, onde se destacava pelo aroma característico e apreciado por muitos. Alguns mascavam suas folhas para obter hálito agradável, outros colocavam apenas algumas folhas no copo com água para obter um sabor diferenciado e refrescante.
Fácil de ser colhida e de preparar o chá na forma de “abafado”, que acompanhava as broas e os pães caseiros. Bastava iniciar a fervura da água, desligar o fogo, colocar um punhado de folhas, tampar e esperar por alguns minutos. Com este “café” da tarde, as conversas ao redor da mesa fluíam na calmaria, sem as interrupções da televisão, e a noite chegava e recebia as pessoas mais dispostas. 
Mas onde nasce e se desenvolve suas folhas caem e se não forem retiradas, acabam por esterilizar o solo devido ao óleo volátil liberado, inviabilizando-o até para a própria planta. Esta foi uma das razões de seu sumiço na maioria das casas, além da perda do hábito de cultivar temperos e hortaliças nos quintais. O texto se refere a uma das plantas mais conhecidas e usadas pela população, a hortelã-rasteira, hortelã-de-panela, hortelã-de-cozinha, hortelã-da-folha-miúda ou até hortelã-comum. É tão comum no Brasil que em algumas regiões a denominam até de hortelã-do-brasil, mas sua origem é a Europa.
Esta planta é resultado do cruzamento de duas outras mentas, a Mentha spicata e a Mentha suaveolens. Por ser um híbrido, recebe o nome científico de Mentha x villosa e encontramos com frequência nos textos e artigos científicos também Mentha crispa, que é considerado nome mais antigo.
Uma das justificativas de encontrarmos tanta variação de hortelãs, em todo o mundo, é porque há grande facilidade de cruzamento entre espécies do gênero Mentha e que ocorre tanto naturalmente quanto por meio da intervenção do ser humano. Encontramos variedades denominadas, por exemplo, hortelã-chocolate, hortelã-lima ou hortelã-banana.
Com relação aos usos medicinais comprovados da hortelã-rasteira, é uma das campeãs em eficiência contra amebas causadoras de doenças como a Entamoeba histolytica e giárdias, sendo que ambas podemos pegar pela ingestão de água ou alimentos contaminados. A sabedoria dos nossos antepassados estava correta ao recomendar hortelã com mel contra estes protozoários. Na medicina popular também é usada como antiparasitária, antibacteriana, contra gases e sedativa.
Antigamente, era comum colocar suas folhas trituradas no leite para tratamento de verminoses em crianças, mas uma confusão quanto ao uso ocorre com relação ao controle específico da lombriga, Ascaris lumbricoides, pois a estudada cientificamente é a hortelã-pimenta, Mentha x piperita, que paralisa o desenvolvimento dos ovos deste verme. Mas temos que ter cuidado, pois há muitas variedades da hortelã-pimenta e com composições bem diferentes.
Os animais, quando acometidos por vermes, instintivamente, se alimentam da planta. Quanto ao uso na veterinária, em algumas regiões é comum misturar a hortelã-comum na ração visando controle de vermes. É distribuída em todo o mundo e apresenta grande importância industrial e econômica em produtos como, por exemplo, cosméticos, alimentos e condimentos. Também não podemos confundir e achar que é a principal fornecedora do mentol, princípio ativo presente, por exemplo, em balas e pasta de dente, pois há mentas especializadas na produção desta substância.
Esta hortelã é perene, com altura que pode alcançar no Vale do Paraíba, até 40 cm, suas folhas possuem pilosidade, indicativo de que é tão exigente em água quanto aparenta, mas se desenvolve bem quando o solo é bem solto e rico em matéria orgânica. Sua reprodução pode ser por semente, mas é facilmente propagada por estacas de seus ramos. No verão é mais aromática porque produz o óleo para proteção contra os raios solares e calor excessivo. Suas flores são de coloração lilás ou branca, reunidas nas axilas da folhas e também possuem pelos glandulares, que liberam o aroma característico.
Na culinária é versátil, serve como ornamento nos pratos; vai muito bem com abacaxi em sucos ou em doces, parceria que resulta na melhora do sistema digestório; é comum em pratos árabes, como nos quibes; colabora com seu sabor em molhos; tempera carnes, inclusive de cordeiro ou carneiro, e vai até em sopas, doces e cremes. 

Texto do autor publicado no site: http://jornalinoff.com.br/

           



2 comentários:

  1. O famoso chazinho da vovó, que antigamente tinham em quintais; o hortelã por exemplo!
    Lembrando, que hoje em dia, quem ter uma horta caseira com várias ervas, hortaliças, etc, está com uma chave de ouro para pesquisa de natureza científica e tecnológica,trazendo também um resgate popular e tradicional.
    Prof. Furlan, muito bom o texto, quantas pesquisas, já temos do hortelã!

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  2. Olá! Seus comentários são nutrientes para o blog. Pena que hoje não é tão comum encontrar essa hortelã nos quintais, ao contrário de antigamente. Além do uso na culinária, suas ações antimicrobianas e contra protozoário já são comprovadas.

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