Texto: Raquel Marçal, de Curitiba |23 de setembro de
2011
Essa ação estrogênica foi detectada em plantas pela primeira
vez na década de 20. Nos anos 1970 haviam sido classificadas centenas de
espécies com ação hormonal. Hoje, elas já são milhares. Das várias substâncias
que agem como fitoestrógenos, as mais estudadas e que mostram maior ação
terapêutica são as isoflavonas, encontradas na soja e seus
derivados. Mas existem também as lignanas (presentes na linhaça),
os flavonoides (contidos em frutas e legumes) e os cumestranos (broto
de feijão e alfafa).
“Alguns fito-hormônios, como os da cimicífuga, atuam em
receptores diferentes dos hormônios sintéticos e não interferem na produção ou
aceleração de processos cancerígenos”, diz a ginecologista Lúcia Hime,
professora da Universidade Santo Amaro, em São Paulo. Mas, afinal, quem é essa
tal de cimicífuga? A espécie – cujo nome científico é Cimicifuga racemosa –
contém fitoestrógenos que agem de forma a reduzir os níveis do hormônio
luteinizante, o LH, responsável por sintomas como as irritantes ondas de
calor. Os medicamentos derivados da planta foram aprovados pelo Ministério da
Saúde da Alemanha como principais fitoterápicos para tratar os sintomas da
menopausa.
Embora cheios de vantagens, os fito-hormônios podem não ser
para todas. “Eles costumam ter menos efeitos adversos e podem ser utilizados
pela maioria das mulheres que têm contraindicação para o uso de hormônios, mas
nem sempre são tão eficazes quanto esses hormônios e, portanto, são mais
satisfatórios para quem tem sintomas moderados”, observa a ginecologista Ceci
Lopes, da Sobrafito.
Mas não são só as mulheres na menopausa que desfrutam dos
benefícios dessas substâncias. Os fito-hormônios também podem ser aliados
contra a TPM que, até alguns anos atrás, era tratada apenas com
medicamentos convencionais, como analgésicos e contraceptivos. Como nem sempre
esses recursos correspondem às expectativas, e ainda acabam deixando para trás
diversos efeitos colaterais, hoje os tratamentos naturais estão sendo incorporados
ao arsenal de opções para domar essa dona encrenca. E, no caso da TPM, as
plantas medicinais têm mais do que fito- hormônios a oferecer.
Um exemplo é o óleo de borragem (Borrago
officinalis), que contém um ácido graxo importantíssimo: o ácido
gamalinolênico, ou GLA. Ele não é fabricado pelo organismo, ou seja, precisa
ser ingerido, e sua deficiência tem sido apontada por estudiosos como uma das
causas de alguns dos sintomas físicos da TPM. Com seus poderes anti-inflamatórios
e anti-inchaços, o GLA age diretamente na causa dos males, em vez de
apenas atacar os sintomas. O óleo de borrage também pode ser indicado para dor
nas mamas. Outro que pode dar uma força é o óleo de Prímula (Oenothera
biennis), pois também contém o GLA.
Como se vê, as plantas medicinais são super amigas da saúde
da mulher. Porém, nunca é demais lembrar: antes de consumir qualquer
medicamento, converse com seu médico para informar-se sobre contraindicações e
interação com outros remédios.
Onde estão os Fito-hormônios
Várias plantas medicinais contêm substâncias que imitam o
estrógeno e a progesterona e, por isso, podem ser aliadas contra a TPM e
alternativa à Terapia de Reposição Hormonal tradicional. Mas seu uso deve
seguir orientação médica.
1 Alcaçuz ou Licorice (Glycyrrhiza glabra)
Seu efeito antiinflamatório e cicatrizante explica o uso no
tratamento de úlceras gástricas e eczema. Mas a cor amarela das raízes denuncia
a presença de isoflavonas. Pode ser consumido como pó, infusão, extrato seco,
xarope ou tintura. Em altas doses provoca retenção de líquidos, aumento de
pressão sanguínea e dores de cabeça. É contraindicado para grávidas,
hipertensos e portadores de doenças renais.
2 Cimicifuga (Cimicifuga racemosa)
Dois fitoestrógenos (isoflavona e deoxiacteína) agem conjuntamente
para tratar sintomas doclimatério, como secura vaginal e calores,
além de males associados à TPM, como depressão e dor de cabeça. Vem na forma de
comprimidos. É contraindicada para pacientes com história de tumor endometrial,
na gravidez, na amamentação e para alérgicos ao ácido acetilsalicílico
(Aspirina).
3 Dong Quai (Angelica sinensis)
Contém vasodilatadores que ajudam no alívio da pressão
arterial e, por tabela, da dor. Por isso, é indicado contra cólicas
menstruais. Traz substâncias que atuam como o estrógeno e a progesterona,
ajudando a amenizar os fogachos e a secura vaginal na menopausa. O extrato seco
padronizado deve conter 1% de ligustilide, o princípio ativo mais importante. É
contraindicado para quem sofre de úlceras no estômago, toma anticoagulantes e
para grávidas.
4 Yam mexicano (Discorea villosa)
Contém substâncias que imitam a progesterona e o estrógeno.
É indicado como coadjuvante para TPM, climatério e na prevenção da osteoporose.
Está disponível na forma de extrato seco, creme ou gel padronizados. Deve ser
utilizado com cuidado por pacientes submetidos à Terapia de Reposição Hormonal,
que usam contraceptivos orais e com histórico de trombose e derrame.
5 Linhaça (Linum usitatissimun)
É rica em lignanas, substâncias que fazem as vezes do
estrógeno. Um estudo feito naUniversidade de Toronto, no Canadá, mostrou
relação entre as lignana e a redução de tumores de mama. Disponível na forma de
cápsulas gelatinosas. Não há evidências de efeitos colaterais na literatura
médica.
6 Trevo vermelho (Trifolium pratense)
A presença de quatro tipos de isoflavonas explica a
indicação do trevo para aliviar os fogachos da menopausa e prevenir a
osteoporose. O extrato padronizado contém 40 mg de isoflavonas. É
contraindicado na gravidez e lactação e para quem toma medicamentos
anticoagulantes.
7 Soja (Glycine max)
Graças às isoflavonas, substâncias semelhantes ao estrógeno,
pode ser utilizada como alternativa à Terapia de Reposição Hormonal. Pode ser
ingerida na forma de proteína, leite ou tofu, mas, para chegar à dose
recomendada de 45 mg diárias, é mais prático consumir a farinha: duas colheres
de sopa, duas vezes ao dia, misturadas no leite ou iogurte.
8 Vitex (Vitex agnus castus)
Tem estrutura semelhante à da vitamina E, que é indicada
para aliviar inchaço e dor nos seios durante a TPM. Aumenta os níveis de
progesterona, que por sua vez reduz a produção do hormônio folículo
estimulante, responsável pelas ondas de calor. Coceira e urticária são os
possíveis efeitos colaterais. É contraindicado na gravidez e para quem faz a
Terapia de Reposição Hormonal tradicional.
RAIZ E FLORES
1 Prímula (Oenothera biennis)
As sementes contêm ácido gamalinolênico, conhecido por seu
efeito anti-inflamatório. A deficiência desse nutriente é associada a sintomas
da TPM, como inchaço e dor nos seios. É contraindicada na gravidez, na
amamentação e para quem tem histórico de epilepsia.
2 Gengibre (Zingiber officinale)
O uso popular consagrou o gengibre como remédio para náuseas e
vômitos – inclusive no caso dos enjoos das grávidas. Estudos feitos
em mulheres grávidas sugerem que 1 grama de gengibre ao dia é eficaz contra o
enjoo. O uso por até quatro dias não apresenta efeitos colaterais.
3 Camomila (Matricaria recutita)
Ajuda a aliviar sintomas de vulvovaginites (candidíase é
um exemplo), como irritação e coceira. A recomendação médica é lavar a região
irritada com chá de camomila várias vezes ao dia.
4 Borragem (Borrago officinalis)
Também é aliada contra a TPM, já que é outra planta
riquíssima em ácido gamalinolênico. Disponível em cápsulas gelatinosas.
Portadores de epilepsia ou esquizofrenia não devem fazer uso do medicamento.
Fontes: University of Maryland Medical Center; Centro de
Informações sobre Medicamentos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
Hospital de Medicina Alternativa de Goiás.
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