Quarta, 12 de Dezembro de 2012
Projeto trouxe à comunidade muitas oportunidades, principalmente para as mulheres
Por Hugo Renan do Nascimento
As mulheres vão chegando aos poucos à horta medicinal. Timidamente se organizam para falar do projeto das plantas que viram remédio, implementado pela Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (Ematerce), em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), no assentamento Lagoa do Barro, em Barroquinha, a 420 quilômetros de Fortaleza, capital do Ceará. Precisam estar arrumadas, segundo elas. São as mulheres do assentamento que cuidam dos canteiros e da produção de lambedores e tinturas feitos com as folhas das plantas.
Dona Josefa Justino, de 56 anos, é uma das mulheres mais animadas com o projeto. É a primeira a chegar à horta e a mostrar o canteiro do qual ela cuida. A agricultora mora na região há mais de 30 anos e no assentamento há 13 anos, desde a sua fundação. “Nós temos muita coisa boa aqui e depois que viemos morar no assentamento nossa vida mudou bastante”, diz. As dificuldades sempre existiram, segundo ela, mas agora está tudo mais fácil, inclusive trabalho. Dona Josefa tem seis filhos e a maioria deles mora fora do assentamento.
O projeto trouxe à comunidade muitas oportunidades, principalmente às mulheres. Dona Josefa se diz feliz porque agora ela tem uma função diária e que a partir desta atividade pode conseguir algum dinheiro com a venda dos produtos. A questão da mão de obra no assentamento é importante uma vez que as mulheres normalmente ficam em casa cuidando do lar. Hoje elas têm orgulho do trabalho.
Incentivo do marido
O marido de Dona Josefa e vice-presidente da associação de moradores, Seu Manoel Rodrigues da Silva, 60 anos, é um grande incentivador dos projetos que trazem benefícios ao povo da Lagoa do Barro. Sentado em um pneu velho improvisado na horta medicinal, ele se emociona com os rumos que o assentamento tem tomado nos últimos meses.
O cansaço do trabalho no campo não o impediu de continuar todas as atividades que exerce, entre elas, o trabalho nos carnaubais. Nem a dor nas costas o fez parar. Por isso, segue tirando as folhas da planta para produzir a cera da carnaúba. A época exige muito trabalho e as mulheres da comunidade são responsáveis por fazer a comida e levá-la aos maridos, nos campos onde tiram as folhas.
E Dona Josefa reclama do trabalho do marido. Ele já passou da idade, afirma preocupada. O marido, um tipo que não se rende, faz o serviço todos os anos. E como ele mesmo diz: “Minha vida é essa, no campo, trabalhando com minha esposa e com meus amigos”. Animado, o homem diz que o projeto das plantas medicinais é um exemplo a ser seguido por outras comunidades. “Nunca deixei de pensar em crescer, a expectativa é evoluir e ver a comunidade crescendo”, completa Seu Manoel.
Empolgado com o trabalho das mulheres, o agricultor se pergunta o que de bom o projeto traz à comunidade. E resume: “Quando se fala em plantas medicinais se fala em saúde. Além disso, trouxe trabalho e renda para a comunidade”. E nada melhor do que crescer. Seu Manoel é otimista: “Futuramente eu espero que a plantação cresça mais. A gente tem terreno e trator”.
Otimismo contagiante
O otimismo da comunidade é geral. Um projeto que só tem a crescer, segundo as mulheres. Nicilda Araújo do Nascimento, 36 anos, e Adelaide Araújo do Nascimento, 45 anos, são duas irmãs que ajudam na horta. Chegam juntas ao terreno e fazem questão de dar algum depoimento. Estão felizes, é o que se ouve. “Para mim não tem nada difícil não. Eu enfrento tudo e estamos com fé que vai pra frente. Eu estou animada com a produção”, afirma Dona Adelaide. A mulher se diz experiente com hortas e para ela este trabalho é valoroso. “Eu já sabia muito sobre canteiro porque fazia muito em casa. Gosto de ver tudo verde e bonito”, reforça.
Francisca das Chagas Aguiar, 37 anos, é outra trabalhadora da horta. As poucas palavras ditas são suficientes para entender que o serviço na plantação é uma preciosidade. As plantas são tratadas com carinho, de acordo com ela. E a vida foi mudando aos poucos depois do projeto. “Antes de a gente vir para cá [para o assentamento] a nossa terra era dividida, assim como a produção. Parte de tudo era dividido com o dono da terra. Agora é tudo da gente”, diz.
As melhorias são sentidas quando se pergunta que trabalhos a mulher faz. E a resposta na ponta da língua revela os diversos afazeres. “Estamos unidas no projeto. Cada uma cuida do seu canteiro. E eu ainda cuido da casa e trabalho vendendo roupa”, completa Francisca.
O trabalho na horta, feito em conjunto, proporciona ainda vários momentos de lazer entre amigas. Laís Teodora dos Santos, 53 anos, é dessas que realiza o serviço pensando na companhia das mulheres. “A gente trabalha com as amigas e isso é muito bom e divertido”, diz. Sua expectativa é a melhoria das condições, com a venda dos produtos e com o acesso à água.
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