JC e-mail 4910, de 12 de março de 2014
O cientista brasileiro que tem trazido contribuições importantes à farmacologia e epidemiologia do uso de drogas e influenciado profundamente a política sobre drogas no Brasil é homenageado na Câmara Municipal de São Paulo
Um homem que dedicou a vida à ciência e que empolgou os alunos e todos em sua volta com seu carisma e garra. Esta é a opinião geral dos convidados em relação ao homenageado Elisaldo Luiz de Araújo Carlini, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que recebeu na noite desta segunda-feira (10/03) o título de Cidadão Paulistano, em solenidade realizada na Câmara Municipal.
Geralmente, o certificado de cidadão paulistano é concedido pela Casa a personalidades não paulistanas, mas que têm um papel relevante no desenvolvimento do Estado.
O evento contou com diversos amigos, familiares e representantes da área científica, entre eles, a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader; a reitora da Unifesp, Soraya Soubhi Smaili; a chefe do departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, Rebeca de Souza e Silva; a professora também da Unifesp, Rosemarie Andreazza; além de políticos como o deputado Walter Feldman (PSB) e o senador Eduardo Suplicy (PT - SP), entre outros.
"Estou feliz porque este título é um reconhecimento. A ciência no Brasil é uma coisa, que embora a SBPC lute ao máximo, ainda é considerada um tipo de atividade não prioritária para o desenvolvimento do País. O Estado faz a mesma coisa. Este título mostra que uma parte do pessoal que dirige este País reconheceu, não somente o Carlini, mas que o trabalho feito por um grupo que ele dirige tem mérito", comemorou. Carlini ainda ressaltou que nunca foi cientista sem ser cidadão em primeiro lugar. "Eu sempre fui um militante da cidadania, e não era de partido nenhum, mas explicava para meus alunos como deve ser um cidadão brasileiro, isso eu fazia com muita garra, e faço até hoje", completa.
Para o responsável pela homenagem, o vereador Gilberto Natalini, que foi aluno de Carlini, o professor é uma pessoa muito emblemática no mundo universitário por seu comportamento e ideias. " Lembro-me da época que eu era monitor na cadeira de Farmacologia, onde o catedrático era o médico José Ribeiro do Vale, e o Carlini estava desenvolvendo o departamento/disciplina de Psicofarmacologia. O Brasil vivia uma ditadura e o Carlini não era apenas um professor, mas um marco, um rumo que nós alunos seguíamos por ser um homem progressista, um homem aberto a discussões e que se contrapunha ao regime militar", afirma. E completa, "o Carlini foi uma escolha acertada pela sua história de vida, pela sua contribuição à ciência, e seu exemplo de resistência à ditadura."
Os convidados ressaltaram que a homenagem foi mais que justa, não só pela história de Carlini, mas também pela pessoa determinante que é. A presidente da SBPC, emocionada, lembrou que ele ajudou na Reunião Anual da Sociedade em 1977, quando o governo militar proibiu a realização do evento que seria em Fortaleza. "Depois de muita luta, a reunião aconteceu na PUC-SP", disse. "Foi a nossa primeira reunião no exterior, porque sendo a PUC território do Vaticano, os militares não puderam coibir a realização do evento. E o Carlini estava lá", explicou.
"Não podemos esquecer que este ano vamos fazer 50 anos da ditadura. E você foi uma figura que para nós jovens, era aquela certeza que valia a pena lutar. Você oferecia a bandeira e lutava. O seu trabalho dentro da SBPC foi fundamental para redemocratização do País. Você foi um dos batalhadores para a realização deste evento", disse dirigindo-se ao homenageado.
Helena também parabenizou o professor pelo título e a Câmara pela iniciativa. "O professor Carlini é um ícone na ciência brasileira e mundial. Um lutador por valores rígidos. Ele luta por aquilo que acredita. Uma pessoa que tem uma história de vida, passando pela ciência até a redemocratização deste país. Ele lutou muito durante a ditadura militar pela volta do estado de direito. Ele marcou a nós, que éramos jovens na época, por estes valores, e continua marcando outros jovens até hoje", disse a presidente da SBPC.
A noite contou com depoimentos de amigos e de antigos alunos, hoje colegas de trabalho. A reitora da Unifesp ressaltou que Carlini não é somente um grande cientista e professor, mas uma pessoa que tem a clareza do papel social que ele desempenha como acadêmico, intelectual na sociedade brasileira. "Ele se coloca como um intelectual engajado. Na verdade, todos nós deveríamos nos espelhar nele".
Ao listar os feitos de Carlini, Soraya disse que ele se tornou um ícone da Unifesp. "Ele foi discípulo do Ribeiro do Vale, que é um dos fundadores da Escola de Medicina de São Paulo, que ano passado fez 80 anos, depois ele ajudou a fundar a Unifesp, há 20 anos. Carlini ajudou a construir o departamento de Psicobiologia, os programas de pós-graduação de Farmacologia e Psicobiologia que são de excelência na área, ajudou a produzir uma discussão aprofundada sobre a política a respeito das drogas. Até hoje ele é um referência nacional e internacional nesta área. E como se não bastasse, ele também teve um papel fundamental na própria discussão da universidade, do papel da universidade na sociedade, dos mecanismos de democratização dentro da nossa universidade, da importância de termos espaços de diálogo, de discussão e reflexão. Ele é um batalhador incansável, é um representante do espírito guerreiro que a Unifesp tem, que vem desde a sua fundação e ele é um desses herdeiros que deixa este patrimônio cultural, cientifico, acadêmico e social", disse a reitora da Unifesp.
História - Nascido em Ribeirão Preto, Carlini é graduado em medicina pela Universidade de São Paulo e tem mestrado em Psicofarmacologia, pela Yale University. Atualmente é coordenador da Câmara de Assessoramento Técnico Científico da Secretaria Nacional Antidrogas.
Nas décadas de 1970 e 1980 o médico liderou no Brasil um grupo de pesquisa publicando mais de 40 trabalhos em revistas científicas internacionais. Esses resultados, juntamente com as investigações de outros grupos internacionais, possibilitaram o desenvolvimento, no exterior, de medicamentos à base de Cannabis sativa utilizada, atualmente, em vários países do mundo para tratamento da náusea e do vômito causados pela quimioterapia aos pacientes em tratamento com câncer e doentes com HIV.
(Vivian Costa/SBPC)
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