segunda-feira, 2 de junho de 2014

Ser sustentável é estratégico no setor farmacêutico

Por Hérika Dias - herikadias@usp.br
Publicado em 2/junho/2014
Estudo analisou o discurso sobre sustentabilidade no setor

O discurso sustentável das indústrias farmacêuticas está afinado à prática de trabalho dos gerentes e seus colaboradores diretos. A sustentabilidade é incorporada à estratégia de negócio das empresas porque é financeiramente mais barato adotá-la. Uma pesquisa de pós-doutorado da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Pesquisa (CNPq), analisou se o discurso sobre sustentabilidade das indústrias farmacêuticas era adotado na prática.

A autora do estudo e jornalista, Devani Salomão, verificou como gerentes e seus colaboradores diretos entendiam o termo sustentabilidade e como o discurso organizacional e a prática gerencial se relacionam à comunicação e gestão sustentável.
Devani justifica a escolha pelo setor farmacêutico por causa da sua importância para a área da comunicação e da saúde. “Esse é um dos contextos no qual a comunicação organizacional, os processos interativos, as gestões, as informações, as concepções sobre os recursos humanos e os costumes sustentáveis têm sido pouco estudados, talvez pela dificuldade de acesso a essas indústrias”.

Conceito

A sustentabilidade é investigada no trabalho a partir do conceito Triple Bottom Line, conhecido como os três pês (pessoas, planeta e lucro, em inglês). O primeiro se refere ao tratamento do capital humano numa empresa ou sociedade, a empresa precisa pensar no bem-estar e saúde dos funcionários.

Na pesquisa, 79% dos gerentes e 96% dos funcionários afirmaram que a organização promove o senso de responsabilidade individual em relação à saúde ocupacional. “Percebemos que as empresas cumprem a legislação sobre a saúde do trabalho e o fazem de maneira a evitar os processos trabalhistas e as faltas”, disse Devani. Ela destaca ainda que as organizações respeitam e promovem a diversidade de gênero, crença. “Isso é bom para a empresa, pois há uma visão diversificada de pessoas sobre as necessidades da organização”.

Outro “P” é de planeta e está relacionado à causa ambiental, às formas de repor os recursos naturais utilizados, considerar a legislação ambiental e controlar a quantidade de dióxido de carbono na produção. O percentual de gerentes que afirmaram que a sustentabilidade está incorporada à estratégia de negócio chegou a 85%, e de funcionários a 87%. “Incorporar a sustentabilidade sai mais barato à organização. Se não destruir o meio ambiente, do qual o homem faz parte, é maior a possibilidade de trabalhar e conseguir matéria-prima”, afirma a pesquisadora.

O último “P”, de profit, tem relação com o lucro, o resultado financeiro da organização, que precisa pensar em lucrar sem devastar. Devani destaca que são a inovações estratégicas que demonstram que a gestão sustentável começa a ser utilizada nesse setor. “É um caminho quase ‘natural’ para as empresas devido ao alerta mundial dos pesquisadores sobre o tema. De forma a promover o desenvolvimento econômico, em paralelo com a equidade social e o equilíbrio ambiental, o setor farmacêutico necessita de transformações que permitam reduzir os impactos ambientais e sociais associados à cadeia de valor de seus produtos”.

Em relação à comunicação nas empresas, o estudo constatou que não há um guia para que os gerentes ou funcionários sigam. “Isso facilitaria o entendimento dos valores e vocação da organização, da heterogeneidade dos seus diferentes públicos, os hábitos e o comportamento dos consumidores. No entanto, a falta desse guia não atrapalha a fluidez da comunicação nessas indústrias”, declara Devani.

Dados

A pesquisadora contatou 70 indústrias farmacêuticas eleitas pelo Guia de Sustentabilidade da Revista Exame, tomando como base a edição publicada em 2010, além da publicação da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Entretanto, apenas seis empresas concordaram em participar do estudo, sendo que todas são multinacionais.

Devani afirma que teve que assinar termos de sigilo sobre a identidade das empresas e os entrevistados foram escolhidos pelas próprias organizações. No total, participaram 83 pessoas que responderam 50 questões de análise qualitativa e quantitativa.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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