quinta-feira, 31 de julho de 2014

Na América Latina, experiências agroecológicas garantem alimentação abundante e sadia

30 de julho de 2014
Diante da atual agricultura ostensiva e em grande escala, que se utiliza de milhares de litros de agroquímicos e empobrece a terra, e da crise alimentar que afeta o mundo, surge a agroecologia, proposta concreta que resgata conhecimentos ancestrais, fomenta uma economia social e solidária e combate as mudanças climáticas. Buscando mostrar que essa proposta se tornou realidade em vários países, sobretudo da América Latina, a agência Notícias Aliadas uniu algumas experiências e as recompilou no informe “Agroecologia – Uma contribuição à soberania alimentar”.

O documento mostra experiências da Guatemala, El Salvador, México, República Dominicana, Honduras, Haiti e Nicarágua e comprova que essa forma de cultivar, transformada em forma de viver, é capaz de garantir alimento seguro, fazer frente às mudanças climáticas e incentivar o comércio justo e o consumo responsável.

Em 2006, campesinos indígenas da Serra dos Cuchumatanes, na Guatemala, por exemplo, concordaram em abandonar a agricultura intensiva e trocá-la pela agricultura orgânica. A decisão veio da consciência de que os agroquímicos e pesticidas estavam contaminando as fontes de água e empobrecendo o solo. Assim, fundaram a Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Mancomunidade Huista (ADSOSMHU) e decidiram investir no desenvolvimento sustentável da região.

Com paciência, dedicação – sobretudo das mulheres – e investimento em fertilizantes orgânicos, em pouco mais de dois anos, a produção agrícola orgânica superou os níveis anteriores e a terra vem sendo descontaminada, gerando alimentos com cor, sabor e odor diferentes. Quase toda a produção é consumida pelas famílias da Associação; o excedente é vendido em mercados locais.

Em El Salvador, após verem o solo e seus alimentos contaminados por agrotóxicos, agricultores e agricultoras decidiram impulsionar o ‘Programa de Campesino a Campesino’. A iniciativa consiste no intercâmbio de produtos que seus integrantes cultivam. Para produzir são utilizadas práticas agroecológicas, que incluem o uso de sementes nativas, de fertilizantes orgânicos, o controle biológico de pragas, rotação de cultivos e o respeito aos ecossistemas.

Uma importante conquista do Programa data de 05 de setembro de 2013, quando a Assembleia Legislativa proibiu a importação, exportação, distribuição e comercialização de 53 agroquímicos. Os campesinos intensificaram a luta depois da ocorrência de 60 mortes, todas por insuficiência renal, ocorridas em San Luis Talpa, provavelmente causadas pela contaminação gerada pelo uso de agrotóxicos.

Na Nicarágua, país considerado o segundo mais pobre da América Latina, o Programa de Campesino a Campesino também está presente, mudando a vida de várias famílias que vivem da terra. Os agricultores e agricultoras que aderiram à iniciativa mudaram práticas nocivas, como a queima, e, hoje, apostam na diversificação de cultivos e no uso de sementes nativas e fertilizantes orgânicos, tudo conquistado com o repasse de conhecimentos e informações.

As sementes crioulas são um tema de grande importância para quem trabalha a agroecologia e, na Nicarágua, de 70% a 75% da produção dos grãos básicos cultivados são dessa natureza. A cifra é uma conquista do país, pois sementes nativas representam a garantia de segurança e soberania alimentar para os campesinos.

Apesar das experiências exitosas, na avaliação do informe, os governos da América Latina ainda precisam olhar a agroecologia com mais atenção e perceber seus reais benefícios e resultados sobre a saúde, a economia, a renda e a vida de campesinos e campesinas, deixando de lado o estímulo desenfreado à agricultura ostensiva e à destruição de terras cultiváveis para o fomento ao setor agropecuário exportador.

Por Natasha Pitts – Adital

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