segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pesquisadores do nordeste participam da busca por medicamentos inovadores

03/12/2015
Trabalhar para descobrir e desenvolver candidatos a fármacos anticâncer e anti-inflamatórios inovadores. Essa é a missão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT- Inofar), uma rede de pesquisa que articula, organizadamente, as competências nacionais existentes no País e situadas nos diferentes estágios desta intrincada cadeia de inovação de medicamentos. Atualmente são 14 grupos de pesquisadores, e dois deles estão no nordeste: Magna Suzana Alexandre Moreira, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Jackson Roberto Guedes da Silva Almeida, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

Na Univasf, o professor Jackson Almeida coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas de Plantas Medicinais (Neplame), e junto com sua equipe desenvolve pesquisas nas áreas de química e farmacologia de produtos naturais e sintéticos. “Uma das linhas de pesquisa na qual eu atuo é a avaliação da atividade antinociceptiva (analgésica) e anti-inflamatória de extratos vegetais, óleos essenciais e de produtos naturais e sintéticos”, explica.

Graduado em Farmácia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Almeida possui mestrado e doutorado em produtos naturais e sintéticos bioativos pelo Programa de Pós-Graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos da UFPB. O pós-doutorado realizou na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP – Ribeirão Preto. É professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Semiárido na Univasf.

Na área de farmacologia, o grupo da Univasf trabalha com modelos experimentais de dor e inflamação. Através desses modelos, os pesquisadores tentam reproduzir essas condições (dor e inflamação) e testam as substâncias para ver se elas possuem atividade analgésica e anti-inflamatória. “A partir daí nós podemos investigar os mecanismos pelos quais essas moléculas atuam”, acrescenta Almeida. Ainda segundo ele, esses modelos experimentais são de grande importância e representam o ponto de partida para a caracterização farmacológica de novos compostos capazes de interferir com o curso da dor e da inflamação.

O grupo do professor Almeida vem trabalhando na avaliação da atividade farmacológica de extratos vegetais, óleos essenciais e constituintes químicos isolados de espécies de plantas medicinais da Caatinga. Os resultados mais interessantes foram obtidos com as espécies Bromelia laciniosa (macambira), em detalhe na foto abaixo, Encholirium spectabile (macambira de flecha), Neoglaziovia variegata (caroá), Amburana cearenses (umburana de cheiro), Annona vepretorum (pinha da Caatinga), Croton conduplicatus (quebra faca) e Selaginella convoluta (jericó). “Os extratos e/ou óleos essenciais destas espécies têm demonstrado atividade antinociceptiva, anti-inflamatória, antiulcerogênica, bem como sobre o sistema nervoso central”, detalha. Alguns constituintes químicos dessas plantas, como os alcaloides e os flavonoides também foram testados e apresentaram o mesmo perfil de atividade. Esses resultados encontram-se publicados em diversas revistas científicas.

Em relação aos produtos sintéticos, ele explica que através de uma parceria com o Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio/UFRJ), estão avaliando a atividade analgésica e anti-inflamatória de algumas moléculas, e os resultados têm mostrado uma interessante atividade farmacológica dessas moléculas. “Apesar de ainda preliminares, os resultados são animadores. Nós temos a consciência de que o caminho para a descoberta de um novo fitoterápico ou de um novo fármaco é bastante longo, mas devemos buscar sempre inspiração para continuar a caminhada e quem sabe, um dia, ter um medicamento na prateleira das farmácias descoberto com a nossa contribuição. Esse é o sonho a ser perseguido por qualquer pesquisador na área de Farmácia”, resume Almeida.

O professor da Univasf e sua equipe fazem parte do INCT- Inofar desde julho de 2014. E, de acordo com ele, desde então, vem colaborando com a avaliação da atividade farmacológica de várias moléculas, com alguns resultados muito interessantes e promissores. “No nosso laboratório há uma equipe de estudantes de graduação e pós-graduação que participam das pesquisas sob minha orientação. Essa tem sido a nossa contribuição dentro dessa rede de pesquisa”, conta.

Até o momento, o grupo testou algumas moléculas e comprovou a sua atividade analgésica e anti-inflamatória nos modelos experimentais utilizados. Os resultados estão sendo organizados e em breve serão divulgados para a comunidade científica através da publicação de artigos em periódicos de circulação internacional. Além das publicações, Almeida considera que uma das principais contribuições para a rede de pesquisa é a formação de recursos humanos. “A participação dos estudantes na pesquisa contribui para o desenvolvimento da ciência na nossa instituição e no País como um todo”, ressalta.

Braço alagoano

Fazer parte dessa rede de pesquisa que envolve vários pesquisadores de diferentes partes do País pode ser importante não só para o pesquisador, mas também para a instituição. Maior visibilidade ao trabalho desenvolvido é apontada como uma das principais vantagens. “A nossa universidade, apesar de ainda jovem, pois só tem 11 anos de funcionamento, vem desenvolvendo pesquisas em diversas áreas, como na área de Farmácia, por exemplo. Como pesquisador, participar do grupo tem sido muito importante porque temos grandes pesquisadores com bastante experiência em suas áreas de atuação, e isso é muito bom para a troca de informações, o que agrega mais valor às nossas pesquisas”, opina Almeida.

O professor da Univasf aponta outra grande vantagem de fazer parte da rede de pesquisa INCT-Inofar. “O grupo já está bastante consolidado, o que tem permitido uma interação mais próxima com a indústria farmacêutica. Essa interação é essencial para o avanço da inovação tecnológica em fármacos e medicamentos, possibilitando a descoberta de novas moléculas farmacologicamente ativas”. Ainda de acordo com ele, a interação com diferentes grupos de pesquisa é muito importante também na hora dos experimentos. “Às vezes, nós precisamos realizar algum experimento para complementar nossas pesquisas e no grupo temos pesquisadores que podem contribuir para isso”, explica.

No braço alagoano do INCT-Inofar, a professora de Farmacologia Magna Moreira busca desenvolver compostos com atividade leishmanicida (que combatem a Leishmaniose), mais eficazes e menos tóxicos. Ela é doutora em Imunofarmacologia e atua no Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde da Ufal, onde também é vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Ufal. O grupo da professora Magna há dez anos integra a rede de pesquisa. “Fazer parte do INCT-Inofar é um privilégio, pois este instituto é uma plataforma que nos coloca em evidência no Brasil e no mundo”, aponta.

O trabalho na Ufal é um estudo de protótipos de fármacos de origem natural e ou sintético com atividade leishmanicida. Ela conta que sua principal contribuição junto ao INCT-Inofar foi para o início de um longo processo de descoberta de fármacos leishmanicida. “Essa pesquisa ainda não atingiu o seu ápice, mas estamos no caminho para isto”, afirma a professora.

Planos para o futuro

Para os dois grupos nordestinos ainda há muito trabalho pela frente para alcançar os medicamentos inovadores. A professora Magna e sua equipe esperam otimizar os resultados já obtidos e partir para uma etapa de desenvolvimento de fármacos, estudos mais avançados usando outras espécies, que não roedores.

Na Univasf, o professor Almeida pretende, a partir de agora, focar na elucidação do mecanismo de ação das moléculas que estuda, verificando qual ou quais sistemas de neurotransmissão estão envolvidos no efeito farmacológico. “Outra coisa importante é avaliar a toxicidade dessas moléculas para se ter ideia da sua segurança. Assim, esperamos avançar nos estudos para que no futuro possamos ter mais um fármaco no mercado, e o melhor de tudo, um fármaco descoberto a partir de pesquisas envolvendo pesquisadores e instituições do nosso País”, aposta.

(Fonte: Jornal da Ciência – 01/12/2015)

Nenhum comentário:

Postar um comentário