Os recifes de Abrolhos são os maiores do Atlântico Sul. Pesquisadores da Rede Abrolhos, que monitoram esses recifes, acompanharam o desenvolvimento de organismos sobre placas artificiais mantidas no ambiente, fazendo medidas contínuas da temperatura da água entre 2012 e 2014. Os resultados, publicados nesta quarta-feira, 27 de abril, na revista PLoS One, indicam que os recifes de Abrolhos ainda estão em crescimento, porém sofrem com o aumento da temperatura.
O artigo “Carbonate production by benthic communities on shallow coralgal reefs of Abrolhos Bank, Brazil” identificou que o segundo grupo mais abundante encontrado nas placas de colonização, principalmente no final do verão 2013-2014, coincidindo com anomalias térmicas intensas, se constitui de tufos de algas e bactérias, que crescem sobre as algas calcárias e corais e acabam por matá-los. Esses tufos passaram de 1 a 4 % da ocupação do espaço das placas em 2012-13 para 25%, após as intensas ondas de calor do verão 2013-14.
A pesquisa demonstrou também que o principal grupo construtor dos recifes de Abrolhos são as algas calcárias, e não os corais. Em Abrolhos, esses recifes crescem produzindo anualmente cerca de 580 gramas por m2 de carbonato de cálcio (o cimento do recife). “Trata-se de um valor intermediário quando comparado com áreas coralíneas com algum nível de degradação”, afirma Gilberto Amado Filho, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e coordenador do estudo. Outros dois pesquisadores do JBRJ, Leonardo Tavares Salgado e Fernando Moraes, são coautores.
Segundo Rodrigo Moura, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coautor do estudo, “os recifes de Abrolhos já mostram sinais claros de degradação, mas vale lembrar que o controle da poluição e da sobrepesca pode atenuar o efeito das anomalias globais”. Os resultados do estudo proporcionam agora um referencial para acompanhar a resposta dos recifes de Abrolhos às mudanças climáticas, que tendem a se intensificar ao longo do Século XXI.
O projeto de monitorando da região pela Rede Abrolhos continua. Estão sendo feitas amostragens nos recifes, instalação de novas placas de colonização e de sensores de temperatura e avaliação da qualidade da água. A iniciativa é apoiada pelo MCTI/CNPq/ANA através do Projeto Monitoramento das Mudanças Cliimáticas no Banco dos Abrolhos e do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração-PELD/CNPq, contando também com recursos de contrapartida de Pesquisa e Desenvolvimento da ANP/Brasoil.
Participam do projeto o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Instituto Oceanográfico da USP, o Laboratório de Oceanografia Geológica da Universidade Federal do Rio Grande, o Departamento de Biologia Marinha da UFRJ, o Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba, o Instituto do Mar da UNIFESP e o Departamento de Oceanografia da UFES.
Imagens das placas de colonização instaladas nos recifes rasos de Abrolhos. A.Placas e sensores de temperatura logo após serem instalados no verão de 2013. B-D. Imagens das placas após um ano de colonização no verão de 2014, nos recifes de Pedra de Leste, Arquipélago dos Abrolhos e Parcel dos Abrolhos, respectivamente. Fotos: Fernando Moraes/JBRJ.
Fonte: Jardim Botânico do Rio de Janeiro
in EcoDebate, 16/05/2016
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