sexta-feira, 15 de junho de 2018

Reações adversas no Brasil: Uso irregular de Miconia albicans. Boletim PLANFAVI, n. 45, jan/mar 2018.

Miconia albicans é uma planta da família Melastomataceae, conhecida popularmente como canela-de-velho. É nativa de regiões tropicais e temperadas da América, sendo encontrada em diversos domínios fitogeográficos brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. 

Em busca na internet, pode-se verificar que está sendo feita muita publicidade de atividades terapêuticas da planta, principalmente no tratamento da artrose, mas também como analgésica, anti-inflamatória e até para retardar o desenvolvimento de alguns tipos de câncer, porém, esse uso não tem embasamento científico, pois não são encontrados estudos para estas indicações, ou informações sobre tradicionalidade em livros reconhecidos. 

Não existe nenhum medicamento licenciado no Brasil contendo essa espécie vegetal, assim, não pode ser feito comércio com divulgação de atividades terapêuticas para tratamento de qualquer doença. Por isso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a fabricação, distribuição e comercialização da planta canela-de-velho como medicamento, que estava sendo anunciado pela empresa Mario Augusto de Souza.

Para produzir medicamentos, a empresa fabricante tem que ter autorização e demonstrar utilizar as boas práticas de fabricação, porém, o fabricante também não tinha autorização de funcionamento. O que é preocupante porque deixa em dúvida a qualidade do produto oferecido. Não se sabia nem mesmo a parte da planta que estava sendo comercializada. 

Segundo informava o site da empresa que comercializava o produto apreendido, “a planta medicinal canela-de-velho (Miconia albicans) tem sido um santo remédio para quem tem dor nos joelhos, dor nas articulações e dores na coluna” e “a canela-de-velho é um tratamento para artrose sem contraindicação”. 

Não existe medicamento sem contraindicação, ainda mais um que não foi testado em animais ou humanos ou que não tenha o uso tradicional bem documentado. É necessário conhecer melhor as plantas que se utiliza, verificar se há dados que embasem sua utilização antes de adquirir e utilizar produtos que não foram avaliados quanto à sua segurança e eficácia. O principal uso divulgado na internet desta espécie é para artrose, o que seria um tratamento crônico, que poderia trazer mais riscos devido ao uso contínuo do produto. 

Outros produtos sem registro que divulgavam atividades anti-inflamatórias quando testados quanto à sua composição apresentavam grande quantidade de corticoides, como é o caso do Harp, ou Harp 10. Assim, além dos problemas mencionados anteriormente, também é importante que esses produtos comercializados irregularmente fossem avaliados para verificar se contém realmente apenas a espécie Miconia albicans, ou se ela está adicionada de substâncias sintéticas.

Referências: 
Avaliação da qualidade de fitoterápico indicado em internet. Disponível em: http://www.ufrgs.br/spmb2012/Trabalhos/3430_1337131059_ResumoSimp%C3%B3sio.pdf. Acesso em: 19 de mar. 2018. 

Canela de velho. Disponível em: https://www.oficinadeervas.com.br/detalhe.php?id_produto =968&p=canela-de-velho-miconia-albicans. Acesso em: 19 de mar. 2018.

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