sábado, 8 de setembro de 2012

Revista Herbarium: é lindo o meu salgueiro


Nenhuma planta medicinal tem mais destaque do que ela na história da indústria farmacêutica. Isso porque foi a partir da casca da Salix alba, espécie popularmente conhecida como salgueiro-branco, que foi isolado o ácido salicílico, no começo do século 19. Derivado do princípio ativo salicilato, o composto daria origem, em 1899, ao famoso ácido acetilsalicílico, batizado comercialmente de Aspirina.

Mas as propriedades do salgueiro já eram conhecidas muito antes disso. Hipócrates escreveu, no século V a.C., sobre um pó amargo extraído da casca da árvore capaz de aliviar dores e baixar febres. Os índios americanos usavam-na para combater dor de cabeça, febre, dores musculares, reumatismo e calafrios. Na mitologia romana, o salgueiro era consagrado à deusa Juno, e tinha propriedades para deter qualquer hemorragia e evitar o aborto. Provavelmente vem daí seu tradicional uso para aliviar cólicas menstruais.

Na lista de fitoterápicos disponíveis no SUS, a planta aparece indicada para o tratamento de dor lombar. “Ele pode ser indicado em qualquer tipo de dor, mas é mais usado em dores do tipo reumáticas”, explica o médico fitoterapeuta Luiz Carlos Leme Franco, de Curitiba. “Além de um bom analgésico, é antitérmico dos melhores”, completa, confirmando as observações feitas lá na antiguidade.

Todos esses poderes da planta, porém, não são atribuídos apenas ao salicilato. Isso porque a concentração da substância seria insuficiente para vencer a dor. Nessa missão, acredita-se que o salicilato conte com a ajuda de outros compostos: os flavonoides e os polifenois. O fato de ser uma força-tarefa, e não um único princípio ativo, de prontidão traz vantagens. Os fitoterápicos à base da planta acabam tendo ação mais ampla e menos efeitos colaterais. “Alguns estudos dizem que a Salix Alba não tem o mesmo efeito antiplaquetário dos medicamentos com ácido acetilsalicílico”, diz João Batista Calixto, professor do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, referindo-se ao fato de o fitoterápico não interferir na coagulação do sangue.

Ainda assim, o medicamento fitoterápico teve ser tomado com orientação médica, já que possui, embora menores, alguns efeitos colaterais. O salicilato presente na planta, por exemplo, é muito mais irritante à mucosa gástrica do que o ácido acetilsalicílico. Além disso, pode haver interação com outros medicamentos. “Essas interações podem inibir a metabolização do fármaco, o que dificulta sua excreção e traz risco de intoxicação, ou aumentar a metabolização, diminuindo sua ação”, explica o professor João Batista.


Texto: Raquel Marçal
Data: 06.09.2012

Foto: wikipedia

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