Texto: Raquel Marçal, de Curitiba |1 de dezembro de 2012
O pau-ferro é dono de propriedades anti-inflamatórias e já provou ser capaz de manter a glicose sob controle e curar as doloridas lesões no estômago
Ele é da família do pau-brasil e, tal qual o primo celebridade, tem uma madeira linda e resistente que é muito usada na fabricação de instrumentos de corda, como o violino. Mas o pau-ferro (conhecido por dois nomes científicos, Apuleia ferrea e Caesalpinia ferrea Martius) é valioso também por suas propriedades medicinais. Foi o que confirmaram os pesquisadores do Instituto Superior de Ciências Biomédicas da Universidade Estadual do Ceará ao estudar compostos presentes nas vagens da leguminosa (sem as sementes) e testar os efeitos em ratos. “As vagens da Caesalpinia ferrea e o seu componente principal, um carboidrato, apresentaram uma potente atividade anti-inflamatória”, afirma a professora Maria Gonçalves Pereira, uma das autoras do estudo. Foi possível descobrir até como a espécie age. “Ela inibe a liberação de substâncias como a histamina, a serotonina e a bradicinina, envolvidas na deflagração de processos inflamatórios, de reações alérgicas e da dor”, explica.
No uso popular, o pau-ferro (que no Norte e no Nordeste também é conhecido como jucá) vem sendo utilizado como cicatrizante, contra hemorroidas, para aliviar sintomas da asma, desconfortos gastrointestinais e ainda para controlar as taxas de açúcar no sangue. Essas duas últimas indicações já encontram respaldo científico. Uma pesquisa realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo concluiu que as folhas da árvore são eficientes no tratamento de úlceras. As folhas têm inclusive mais poder do que o caule, a parte tradicionalmente usada. O extrato da folha reduziu em 81% a área de lesão, contra 37% do caule. O estudo, feito em 2005, apontou que a eficácia da folha também é superior à de dois medicamentos para úlcera existentes no mercado. Falta ainda identificar o mecanismo de ação e descobrir se a folha pode ser tóxica. Mas é grande a chance de a planta entrar na fórmula dos futuros medicamentos antiúlcera.
A Caesalpinia ferrea também traz esperança para os diabéticos. Em 2011, pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco publicaram um estudo em que colocaram à prova o chá da casca do caule contra o diabetes tipo 2. Foi em um experimento com ratos que, por quatro semanas, foram tratados por via oral. O extrato reduziu os níveis de glicose no sangue e melhorou o metabolismo dos bichinhos, o que levou os pesquisadores a concluir que “a espécie tem efeito hipoglicêmico e possivelmente age regulando a absorção de glicose pelo fígado e pelos músculos.”
É por tudo isso que a árvore é uma das 71 espécies da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do SUS (Renisus). A lista relaciona os vegetais com maior potencial de gerar fitoterápicos – e se juntar aos 12 atualmente financiados pelo Sistema Único de Saúde. Com os poderes de combater inflamações, derrotar úlceras e controlar o diabetes já comprovados, o pau-ferro tem tudo para chegar lá.
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