quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

São Paulo: tecnologia de cultivo orgânico da Apta pode aumentar em até seis vezes a produtividade do tomate

São Paulo/SP


Quando os pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) começaram a trabalhar com agricultura orgânica, em 1993, identificaram, por meio de uma enquete, que a oferta de hortaliças de folha, raízes e tubérculos atendiam à demanda dos consumidores de orgânicos, porém, o mesmo não acontecia com o tomate. O mercado queria tomates orgânicos, mas os agricultores não conseguiam produzi-lo em grande quantidade. Com a tecnologia disponível, os agricultores colhiam apenas 0,5 kg de tomate por pé. 

A Apta, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, então, iniciou estudos e divulgação de um biofertilizante criado no fim do século XIX no Japão, conhecido e utilizado somente pela colônia japonesa no Brasil, chamado bokashi. Atualmente, esse bionutriente é preparado com resíduos oriundos do beneficiamento e processamento industrial de matérias-primas primárias, como trigo, soja, mamona, frutos do mar, osso, pena de aves e cana-de-açúcar, por exemplo. 

Os produtores rurais de São Roque e região têm produzido até três quilos de tomate por pé, ou seja, seis vezes mais. Além disso, os pesquisadores da Agência conseguiram reduzir em mais de 40% os custos de produção do bokashi, substituindo alguns ingredientes da agroindústria, por outros naturais, mais baratos. A pesquisa é inédita no Brasil e a tecnologia para o preparo foi difundida pela Apta em outros países, como Paraguai, Bolívia, Caribe, Guatemala, Honduras e República Dominicana. 

Em 8 e 9 de dezembro de 2012, a APTA Regional, por meio da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de São Roque e os Polos Vale do Ribeira, Noroeste Paulista e Vale do Paraíba, vai apresentar essa pesquisa, além de estudos com palmito pupunha, seringueira e plantas medicinais e aromáticas no Parque da Água Branca, em São Paulo. A exposição de variedades e tecnologias da Agência será realizada em comemoração ao aniversário de 120 anos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 

Quando os pioneiros na produção orgânica utilizavam no cultivo de tomate, apenas compostos simples, preparados com esterco animal, de cavalo ou de bovino, conseguiam produzir pouco, apenas 0,5 kg de tomate por pé. Na agricultura tradicional é possível produzir em média oito quilos. Atualmente, recomenda-se utilizar o bokashi em conjunto com o composto orgânico comum à base de esterco animal curtido com material celulósico e capim, usado como condicionador do solo, o que melhora as condições físicas e biológicas. “Na região de São Roque, mais precisamente na cidade de Ibiúna, há um grande produtor que consegue produzir até três quilos por pé, ou seja, seis vezes mais. 

Quando o agricultor é pequeno e familiar, pode chegar a dobrar a produção, porém, o atendimento aos consumidores não é suficiente, pois o preço do tomate orgânico não tem baixado o suficiente para atender à verdadeira demanda”, afirma Issao Ishimura, pesquisador da Apta, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 

A Apta conseguiu ainda reduzir os custos de produção do bokashi aplicado nas lavouras. Originalmente, a tonelada do biofortificante japonês custava em média R$ 810,00. Com a substituição de alguns componentes, a pesquisa paulista conseguiu desenvolver um bokashi mais de 40% mais barato, ao custo de R$ 460,00 a tonelada. 

“O farelo de soja, por ser utilizado como matéria-prima para fabricação de ração animal, é inviável para o preparo do adubo, então, o substituímos por farelo de mamona, abundante na região de São Roque e em todo mercado agropecuário do Brasil. Outra mudança foi em relação à farinha de peixe industrializada, que custa em media R$ 2,20 o quilo, por sobras da limpeza de peixes frescos das peixarias, que são distribuídas a custo zero. 

O farelo de arroz – fonte de amido – foi trocado por resíduos da indústria de fécula e fritas de batata, que também não custa nada”, afirma Ishimura. De acordo com o pesquisador da Apta, a composição e a dosagem aplicada variam conforme o estado do solo – degradado ou não – os níveis de nutrientes existentes e a espécie que será cultivada. 

O tomateiro tem origem nos Andes Chilenos, Peruanos e Bolivianos, regiões de alta altitude e baixa umidade. Quando cultivado nesses locais, não se observam ataques de pragas e doenças fúngicas, viróticas ou bacterianas. Porém, de acordo com Ishimura, o tomate quando plantado em regiões de clima úmido e subtropical, de São Paulo sofre com o ataque de pragas e doenças. Por essa razão, o fruto já chegou a estar no topo da lista de alimentos com maior nível de contaminação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “No Brasil, o tomateiro fica suscetível e há ataques de todos os agentes patogênicos. A planta não tem resistência às principais doenças existentes, razão para o uso maciço de agrotóxicos”, afirma o pesquisador da Apta. 

Segundo Issao, existem agrotóxicos registrados para o tomate no Brasil, porém, para os aplicadores de defensivos agrícolas do País não são exigidos o mesmo nível escolar e técnico de países da Europa, dos Estados Unidos, Canadá e Japão. “Falta no Brasil normatizar a profissão de aplicadores de agrotóxicos na produção de alimentos”, afirma. 

O bokashi, produzido a partir de ingredientes do beneficiamento de matérias-primas fermentados por micro-organismos benéficos, evita o ataque de doenças fúngicas ao tomateiro e outras espécies suscetíveis a doenças. “Isso acontece porque a quitina presente nas penas de aves e nos frutos do mar, como casca de siri, caranguejo e camarão, induz à diminuição de micro-organismos patógenos”, explica Ishimura. 

O biofertilizante pode ser utilizado no plantio de hortaliças, como cebola, batata, alcachofra e louro. Se não fosse a utilização para esse fim, os resíduos que compõem o produto seriam jogados no lixo ou em aterros sanitários. 

“O bokashi aplicado em solo nutricionalmente desequilibrado e degradado pelo uso excessivo de insumos químicos permite sua recuperação por meio da melhoria das propriedades químicas, físicas e principalmente biológicas, em equilíbrio com a natureza, de acordo, com enfoque agroecológico. Outro impacto positivo está ligado ao fato de que seu preparo depende somente de material originado de recursos naturais renováveis sendo, portanto, uma tecnologia ecologicamente correta”, explica o pesquisador da Apta. 

Ainda de acordo com Ishimura, os resíduos sólidos produzidos na região são reaproveitados na produção de alimentos dos próprios municípios, gerando riqueza. “Além da geração de riqueza, pode-se dizer que este reaproveitamento dos resíduos na região é muito importante na sustentabilidade do agricultor, além de aumentar a garantia da sua segurança alimentar, o que traz um enorme benefício para a comunidade, não tanto ligado à geração de riqueza, mas sim, à geração de saúde e bem-estar social”, afirma. 

Exposição no Parque da Água Branca 
Em 8 e 9 de dezembro, a Apta Regional vai realizar exposição comemorativa dos 120 anos da Secretaria de Agricultura no Parque da Água Branca, em São Paulo, com tecnologias e materiais desenvolvidos pela Agência. A ideia é aproximar a população da cidade do trabalho desenvolvido nos campos e mostrar que a ciência está atrelada ao cotidiano popular. Pesquisadores da Agência ficarão no local para repassar informações e esclarecer dúvidas do público. 

O público da tradicional Feira de Produtos Orgânicos do Parque terá acesso a novas tecnologias e métodos de cultivo de alimentos orgânicos. Os visitantes do Parque poderão ainda conhecer todas as fases de desenvolvimento daq pupunha para a produção do palmito, como aquisição e produção de sementes, germinação, produção de mudas, plantio em campo, manejo, tratos culturais e colheita. 

Os clones de seringueiras, desenvolvidos pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, em parceria com o Polo Noroeste Paulista/Apta Regional, das séries IAC 300, IAC 400 e IAC 500 também serão mostrados. Os materiais da série IAC 500 são 40% mais produtivos do que as outras variedades no mercado, além de poder ser sangrados com cinco anos, quando o comum é que a sangria ocorra aos sete. 

Os trabalhos da Apta em plantas aromáticas com fins de extração de óleo essencial, feito com produtores rurais familiares da região do Vale do Paraíba, também serão mostrados durante a exposição. Esse trabalho ajuda na inserção de mais uma fonte de renda aos produtores, agregando valor aos produtos. O livro “Construindo o Programa de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Município de Pindamonhangaba – SP” será distribuído gratuitamente aos interessados. 

SERVIÇO 
Exposição de variedades e tecnologias da Apta Regional 
Data: 8 e 9 de dezembro de 2012 
Horário: Das 10h às 16h 
Local: Parque da Água Branca 
Endereço: Av. Francisco Matarazzo, 455, São Paulo.
Fonte: Apta 

Data: 06.12.2012
Link:
http://www.paginarural.com.br/noticias_detalhes.php?id=181721&v=1

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