Brasília, 27 de novembro de 2012 –"Kupá" é o nome do documentário produzido pelo pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Fábio Freitas e dirigido por Celso Viviani, que registra o projeto de fortalecimento cultural do povo Kayapó a partir do resgate de um alimento tradicional, o cipó Kupá, pelo esforço da liderança Megaron Txucarramãe e auxílio da Embrapa. Á convite do ministério da Cultura, o filme foi lançado oficialmente na última segunda-feira (26), durante o II Seminário Nacional de Juventude Indígena, que prossegue até o dia 30 de novembro na Universidade de Brasília (UnB) e no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO).
O Kupá ou Cupá (Cissus gongylodes Burch) é um cipó da família Vitaceae (mesma da uva) conhecido popularmente como cipó babão ou mandioca aérea. É utilizado pelos indígenas como alimento (caule assado ou cozido). Culturalmente, segundo o relato dos índios Kayapó, o Kupá é um alimento tradicioanlemtne consumido pelos mais velhos, uma vez que há a crença de que o seu consumo pelos mais jovens faz com a sola do pé fique rachada, se assemelhando a o que ocorre com a casca do Kupá quando assado.
O documentário conta a história da reintrodução do cipó Kupá entre os índios Kayapó da aldeia Capoto, localizada no norte do Mato Grosso. Um dos principais líderes dos Kayapó, o índio Megaron Txucarramãe, procurou a Embrapa e pediu ajuda para recuperar esse alimento tradicional, desaparecido de seu território em meados do século XX, devido às migrações decorrentes dos efeitos do então recente contato com nossa sociedade. Ao retornarem ao seu território tradicional, os índios mais velhos sentiam a falta do Kupá, alimento importante para a manutenção de sua cultura. A Embrapa, atendendo a esse pedido, localizou amostras de Kupá em sua coleção, coletadas no ano 2000, em ações do projeto que realiza junto aos índios Krahô.
"Com o apoio do colega Dijalma Barbosa, diversas mudas foram feitas a partir daquela coleta e, em fevereiro de 2008, a Embrapa entregou na aldeia Capoto mudas do cipó Kupá. Em 2010 decidimos voltar à aldeia para registrar em vídeo como estava sendo utilizada a planta. A mãe do índio Megaron é uma das poucas pessoas vivas que ainda sabe como preparar o Kupá e, deste modo, foi uma das principais pessoas que acompanhamos durante o processo, para que este conhecimento pudesse ser registrado, a fim de ensinar aos mais novos como os índios utilizavam o cipó Kupá", explicou o pesquisador Fábio Freitas.
O pesquisador conta que a reintrodução de mudas de Kupá desencadeou um processo de recuperação e fortalecimento cultural dos Kayapó, mesmo antes da disponibilização das mudas pois, animados com a possibilidade de recuperarem esse alimento, os mais velhos recordaram histórias sobre a planta e passaram a contar peculiaridades sobre o seu modo de preparo e até mesmo ensinaram aos mais jovens músicas relacionadas ao Kupá e ao seu preparo. Crenças e tabus alimentares também foram relembrados, fortalecendo os saberes tradicionais da tribo.
Atuação da Embrapa na conservação de cultivos tradicionais indígenas
O cipó Kupá é mais um exemplo de como a Embrapa vem atuando no sentido de colaborar na conservação e recuperação de importantes cultivos tradicionais de diferentes etnias indígenas. Em 1995, aconteceu a primeira ação da Embrapa de recuperação de alimentos tradicionais para uma etnia indígena: a identificação nas câmaras de conservação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia de variedades primitivas de milho e amendoim que os índios Krahô (do Tocantins) buscavam e já não possuíam mais, em função da introdução de variedades comerciais em suas terras.
Nesta mesma linha, em 2003, índios da aldeia Yawalapiti, do Parque Indígena do Xingu, identificaram na coleção da Embrapa um tipo de bambu que estavam buscando para a confecção de flautas cerimoniais, conhecidas como Uruá. Novamente, os pesquisadores Fábio Freitas e Dijalma Barbosa, providenciaram a preparação de mudas e sua entrega àquela etnia, o que permitiu com que a perpetuação do conhecimento de confecção daquele instrumento, assim como suas músicas, pudessem ser repassados às novas gerações.
Desde 2007, também é realizado um trabalho de apoio à um projeto iniciado pelos próprios indígenas da aldeia Morená, da etnia Kamayurá, no Parque Indigena do Xingu, sobre a preservação e manejo sustentável do Tracajá, apoiados pelos pesquisadores José Roberto Moreira e Fábio Freitas. O Tracajá é um animal parente da tartaruga da Amazônia que estava desaparecendo da região. Com o auxílio da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, do Instituto Chico Mendes (ICMBio) e do Centro Universitário de Vila Velha, os indígenas daquela aldeia vem protegendo algumas praias do rio Xingu da extração desordenada de ovos, filhotes e adultos, a fim de assegurar a recuperação local desta espécie, garantindo sua segurança cltural e alimentar.
Em 2012 foi a vez do povo indígena Kayabi da aldeia Ilha Grande, tambem do Parque Indígena do Xingu (MT) ter de volta suas sementes de milho tradicional e, neste caso específico, recuperando suas próprias sementes tradicioanis. A ação faz parte do Projeto "Fortalecimento cultural e conservação de alimentos tradicionais no Parque Indígena do Xingu" e devolveu ao povo indígena Kayabi variedades de sementes de milho tradicionais perdidas em função de fatores de dinâmica cultural e de manejo de suas roças. As sementes haviam sido coletadas, naquela própria aldeia, pelo pesquisador Fábio Freitas no ano 2000, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), com o objetivo de mapear a situação agrícola das aldeias do Parque Indígena do Xingu. Em 2001, foram enviadas à Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas – MG), onde foram incorporadas ao sistema de conservação de milho nas câmaras de conservação daquela Unidade e, recentemente resgatadas a partir da demanda recebida daquela aldeia.
A Embrapa atua ainda no Projeto Krahô, desenvolvido desde 1995 pela FUNAI com o apoio técnico da pesquisadora Terezinha Dias, criado para proteger uma das últimas áreas contínuas do bioma do Cerrado, onde habita a população Krahô, e cujas atividades estão focadas na conciliação de práticas agrícolas de baixo impacto ambiental, capazes de garantir a segurança alimentar das 16 aldeias, com os costumes culturais desse povo indígena. Entre as diversas ações do projeto estão cursos de capacitação, feiras de sementes tradicionais e divulgação da conservação local da agrobiodiversidade indígena entre os povos Krahô, Canela e Apinajé. Veja outras ações realizadas pela Embrapa com grupos indígenas:
- Plantio de 20 mil mudas nos quintais indígenas do povo Krahô, incluindo caju anão precoce e bananas resistentes à sigatoka negra (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia);
- Curso de capacitação de agricultores indígenas (povo Canela, MA) das aldeias Porquinhos e Descalvados em estratégias de conservação de recursos genéticos ex situ e on farm, manejo e uso da agrobiodiversidade (Embrapa Recursos Genéticos e Embrapa Hortaliças);
- Curso de capacitação de agricultores Kayapó em conservação da agrobiodiversidade in situ/ on far e ex situ. (Embrapa Recursos Genéticos, em parceria com a Embrapa Hortaliças e Associação Floresta Protegida – AFP);
- Contribuição para a etnossustentabilidade de comunidades indígenas Terena de Mato Grosso do Sul (Embrapa Agropecuária Oeste, em parceria com o CNPq, Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - UEMS e Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural - Agraer);
- Introdução da piscicultura nas aldeias Bororó e Jaguapirú da Terra Indígena de Dourados, MS (Embrapa Produtos e Mercado – Escritório de Dourados,MS, em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura Familiar, Carteira de Projetos Indígena/ MMA e Associação Indígena Onhondivepá Guarani, Kaiowá e Terena, MS);
- Disponibilização de tecnologias relacionadas ao cultivo da mandioca em áreas indígenas do estado de Roraima. A mandioca é a base da alimentação das comunidades indígenas para produção de beiju, farinha e uma bebida muito apreciada: o caxiri. (Embrapa Roraima);
- Apoio à produção de melancia pelos índios do lavrado de Roraima, especialmente as etnias Macuxi e Wapichana, que são os maiores produtores dessa fruta no estado (Embrapa Roraima);
- Adoção da tecnologia de plantio de feijão caupi em consórcio com mandioca junto aos índios da savana de Roraima (Embrapa Roraima);
- Estudo dos aspectos culturais e sua relação com cultivos, práticas agrícolas e uso terapêutico de plantas medicinais em dez comunidades indígenas do grupo Kulina (Kulina do Rio Envira, Jaminawa-Envira e Kulina do Igarapé do Pau), no município de Feijó (AC), próximo à fronteira peruana (Embrapa Acre).
Reportagem: Irene santana - Jornalista/NCO - Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia - Fones: (61) 3448-4768 e 3340-3672
Data: 29.11.2012
Link:
http://www.cenargen.embrapa.br/_comunicacao/2012/noticias/075_1112_27_noticias.html
Foto de Eduardo Luís Hettwer Giehl
http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=5446
Eu tenho
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