21/01/2014
Jornal GGN – Milhares de vezes por dia, o cérebro armazena as informações sensoriais para períodos muito curtos de tempo em uma memória de trabalho, para ser capaz de usá-las mais tarde. Um estudo realizado com a colaboração da Escola Internacional de Estudos Avançados (SISSA), da Itália, mostrou, pela primeira vez, que esta função também existe no cérebro de roedores, uma descoberta que lança luz sobre as origens evolutivas desse mecanismo cognitivo.
Nos computadores, tal mecanismo é chamado de “RAM”, mas é conceitualmente similar ao que os cientistas chamam de “memória de trabalho” no cérebro de humanos e primatas: quando interagimos com o meio ambiente, nossos sentidos reúnem informações que um sistema de memória temporária mantém fresco e prontamente acessível por alguns minutos, para que o corpo possa realizar operações (por exemplo, uma ação).
Pela primeira vez, uma equipe de pesquisa coordenada pelo cientista Mathew Diamond mostrou que este sistema de memória existe também em mamíferos mais simples, como roedores. A memória de trabalho tem sido estudada em detalhe em humanos e primatas, mas pouco se sabe sobre sua existência em outros animais.
“Saber que a memória de trabalho também existe no cérebro de organismos evolutivamente mais simples nos ajuda a entender as origens deste mecanismo cognitivo importante”, explica Diamond. “Em estudos de psicologia comparativa, os cientistas, historicamente, ajudaram não só a traçar as raízes evolutivas de como o cérebro humano funciona, mas também para ganhar uma compreensão mais profunda dos processos cognitivos dos próprios humanos”.
Padrões similares
O tipo de memória sensorial estudado por Diamond e sua equipe em ratos é a memória tátil. O desempenho dos roedores em tarefas que avaliam o reconhecimento de estímulos vibratórios foi comparado com a dos seres humanos que realizam tarefas similares (ratos usaram seus bigodes e os seres humanos seus dedos). “Os ratos exibiram padrões de comportamento semelhantes aos seres humanos, demonstrando que estes animais utilizam uma memória de trabalho tátil que lhes permite reconhecer e interagir com os estímulos ambientais”, prossegue o pesquisador.
“A memória de trabalho é um mecanismo cognitivo extraordinário”, comenta Diamond. “É como um recipiente onde o cérebro armazena pequenos pedaços de experiência muito recentes, para ser capaz de avaliar o melhor curso de ação. Sem essa memória, a experiência temporária iria escapar sem qualquer chance de ser usada”.
“A memória de trabalho pode conter apenas uma quantidade limitada de informações por um período relativamente curto de tempo. Estes limites são o resultado de um equilíbrio de custo-benefício: a capacidade computacional do cérebro é fixa e as decisões a respeito de que ação tomar, muitas vezes, precisa ser rápida e eficaz ao mesmo tempo. A capacidade de nossa memória de trabalho é, portanto, o melhor que podemos alcançar em termos de precisão e velocidade com o nosso cérebro”.
“As regiões do cérebro responsáveis pela memória de trabalho ainda não foram identificadas nos ratos. Alguns acreditam que os ratos não têm os centros do cérebro conhecidos como 'córtex pré-frontal', que estão envolvidos nesta função, em primatas. Nossa surpresa foi descobrir que os roedores percebem a memória de forma semelhante aos seres humanos. Agora vamos continuar os nossos estudos para entender como esses mecanismos funcionam em detalhes”.
O trabalho de pesquisa da equipe da Escola Internacional de Estudos Avançados (SISSA) foi publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências.
Com informações do MedicalXpress.com
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