Tese foi eleita a melhor das Ciências Médicas da UnB e indicada para concorrer a prêmio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
Cecília Lopes
Da Secretaria de Comunicação da UnB
O Laboratório de Farmacognosia da UnB guarda a diversidade do segundo maior bioma do Brasil em vidrinhos de papinha de neném. Os frascos abrigam cerca de 2 mil extratos de plantas do Cerrado, armazenados num freezer a temperatura de -20 °C. No laboratório, além de possíveis medicamentos contra os mais diversos males, uma jovem doutora dedica-se, desde a iniciação científica, a estudar como a natureza pode combater doenças.
Lorena Albernaz, professora da Faculdade de Ciências da Saúde, fez de sua tese de doutorado uma busca por compostos que possam virar fármacos para tratar a malária, a doença de Chagas e a leishmaniose visceral e cutânea. “Essas doenças são típicas de países subdesenvolvidos, e por isso, pouco interessante para grandes empresas farmacêuticas”, afirma.
Ela explica que os remédios disponíveis no mercado estão perdendo a eficácia porque os parasitos estão cada dia mais resistentes. Além disso, esses remédios apresentam alta toxidade ao paciente, pois atuam tanto no parasito quanto nas células humanas.
Dados da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) mostram que a malária mata 1 milhão de pessoas por ano. Já a doença de Chagas é endêmica em 21 países da América Latina e do Caribe, com cerca de 14 mil mortes por ano. Em países como Canadá, Japão e Estados Unidos cresce o número de casos por conta da migração de pessoas infectadas. A leishmaniose visceral mata aproximadamente 50 mil pessoas por ano.
AMIGOS DAS CÉLULAS - Os resultados da pesquisa são promissores. Lorena encontrou em duas espécies de plantas compostos novos, que além de inibirem a atividade dos parasitos da malária, doença de Chagas e da leishmaniose, responderam bem quando entraram em contato com células de mamíferos. “Os testes mostraram que um futuro medicamento elaborado a partir desses compostos não atacaria células normais de humanos, apenas combateria a doença”, explica. Ela alerta que esses são apenas exames preliminares. O próximo passo será testar em camundongos. “Poderemos ver como realmente esses compostos vão se comportar em organismos vivos. Até agora avaliamos apenas in vitro, sem interferência de outras atividades do corpo”, pondera.
Lorena contou com a ajuda do botânico José Elias de Paula para colher folhas, caule, raiz e frutos de plantas do Cerrado. De 217 extratos obtidos, duas espécies apresentaram excelente resposta no combate às doenças: a Spiranthera odoratissima, conhecida como acabadeira, sarrinha ou manacá e a Diospyros hispida, conhecida como olho-de-boi, caqui-do-cerrado, bacupari-bravo ou mucuíba.
A pesquisadora colocou as partes selecionadas das plantas para secar. A próxima etapa foi colocar em contato com diferentes solventes químicos para obter o extrato bruto. Esses extratos foram purificados e os compostos isolados. Cada extrato foi dividido em dez compostos. A planta manacá apresentou cinco compostos ativos. Na espécie do caqui-do-cerrado foram três compostos.
A esperança para encontrar o tratamento em plantas não é por acaso. Muitas doenças como hipertensão, diabetes e diferentes doenças infecciosas são tratadas com compostos de vegetais e animais. “O Cerrado é muito vasto e rico, temos boas chances de encontrar um possível medicamento”, comenta. Lorena estima que mais cinco anos de pesquisa seja tempo suficiente para produzir um fármaco. “Precisamos de financiamento. Com dinheiro as pesquisas evoluem em qualidade e velocidade”, argumenta a pesquisadora.
MÉRITO - A tese Atividades antiparasitárias e antifúngicas de plantas do Cerrado: spiranthera odoratíssima e diospyros hispida, foi eleita a melhor do programa de pós-graduação em Ciências Médicas da UnB em 2010, e concorre para a melhor tese nacional pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O resultado da disputa com outras pesquisas nacionais sai em julho de 2012. “Fico feliz em ter meu esforço reconhecido e me sinto motivada para seguir em frente”, afirma Lorena.
Lorena pesquisa uso medicinal de plantas do Cerrado desde a graduação
Ela desenvolveu a tese pela UnB em co-tutela com o Museu Nacional de História Natural de Paris, na França. Uma bolsa do programa Alban, destinada para fomentar a cooperação entre instituições da América Latina e União Européia, garantiu o intercâmbio. A pesquisadora ficou com duplo diploma, um em Ciências Médicas pela UnB e o outro em Química de Produtos Naturais pelo Museu. Além da bolsa Alban, Lorena contou com recursos da Capes. “Foi uma experiência maravilhosa. Pude conhecer novas metodologias de pesquisa, excelentes professores e usufruir de bons laboratórios”, conta.
Data: 24.01.2014
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ResponderExcluir.O maior sucesso para esta investigação.
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.Bom fim de semana, Marcos.